domingo, 27 de janeiro de 2013
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
sábado, 12 de janeiro de 2013
Resposta ao artigo escrito por Daniel Oliveira entitulado "O cão que matou a criança e as comparações grotescas"
Podem ler o artigo aqui http://expresso.sapo.pt/o-cao-que-matou-a-crianca-e-as-comparacoes-grotescas=f778636#ixzz2HkpSDwRV
Usualmente não respondo a artigos deste género e o motivo pelo qual não respondo a artigos destes começa pelo facto de que considero que seria o mesmo que dar importância a uma exortação que uma qualquer canalizador escrevesse acerca do ciclo procriativo dos cangurus da Austrália, ou à opinião que o Ronaldo tem do desenvolvimento das técnicas de microrefrigeração de alimentos feita pela NASA. Ou seja, não dou importância à opinião de pessoas que falam do que não entendem e ainda por cima que o fazem em público com pouca humildade e querendo nada mais do que protagonismo.
Eu não escrevo no Expresso, nem em nenhum jornal nacional, não falo sobre como as suturas de uma operação à vesícula devem ser feita porque não percebo nada disso. Mas não obstante o tema em questão é um que está completamente dentro da minha área específica de conhecimento. Não é só porque sou treinadora, ou porque me dedico à modificação de comportamentos de cães, mas porque há mais de 9 anos me dedico ao estudo intenso e contínuo de tudo relacionado com comportamento canino e à prática diária do treino e reabilitação de cães. É afinal a minha profissão e de cães percebo eu.
Então hoje quando acordei e li este artigo de opinião deste senhor que pertence a um partido qualquer, torci o nariz. É que conseguiu superar as famosas tiradas do Miguel Sousa Tavares que não teve problemas nenhuns e dizer em pleno telejornal de horário nobre que não conhece donos de pitbulls equilibrados!
Senão vejamos, o Daniel afirma que o animal deve ser abatido por uma questão de segurança "porque as crianças não podem correr risco de vida, sejam lá qual forem os motivos." Mas o Daniel vive em que mundo? As crianças no seu dia-a-dia, estão sujeitas a todo o tipo de perigos, quando andam de carro podem incorrer acidentes de viação, podem também morrer afogadas nas perigosíssimas piscinas que "atacam" todos os verões, e quanto aos baloiços? Sabe Daniel quantos baloiços partem cabeças às crianças? Também ouvi falar de trágicas histórias de tampas de canetas engolidas. Daniel, as crianças vivem num mundo repleto de perigos e já agora, você também, ou então anda iludido e o pai natal existe.
A questão portanto não é de todo a segurança das crianças como você tenta inutilmente valorar, mas o facto de você considerar os cães facilmente descartáveis, mais descartáveis do que obviamente as piscinas.
Portanto segundo o Daniel, o cão morre porque as crianças precisam de ficar seguras. É?
E o dono do Zico vai amanhã buscar outro Zico e daqui a 2, 3, 5, ou 8 anos esse Zico2 mata outra criança, que morre inocente e nós abatemos outro cão para assegurarmos a segurança da criança? E assim andamos na montanha russa com balões e chupas chupas...
O que o Daniel precisa entender, e recusa a fazê-lo é que ainda ninguém sabe se o cão representa um verdadeiro perigo para alguém. Ainda está por determinar se ele foi de facto o causador da morte da criança.
Entretenha esta ideia por momentos Daniel, a ideia de que os cães não agem com intenção de matar. Assumindo que o cão é responsável pela morte desta criança, muitos são os cenários a explorar. Saiba desde já que eu como treinadora não considero que eu nenhum deles o cão devesse matar a criança, mas a questão é que o cão não teve INTENÇÃO de a matar. Talvez ele estivesse a defender-se dela, ou talvez estivesse feliz por vê-la saltou-lhe para cima ela caiu e bateu com a cabeça. Seja qual for a história que nenhum de nós sabe, todos estes cenários só acontecem porque os donos do cão não o souberam educar e porque os pais da criança deixaram-na à mercê da sua sorte perto de um cão. São de facto dois seres inocentes nesta história. Ninguém pode afirmar que este cão vai alguma vez matar outra criança, ou que sequer teve intenção se o fez desta vez.
Ao condenar o cão à morte porque presumivelmente matou uma criança o Daniel ASSUME que ele pode vir a matar de novo. Isto implica que o Daniel sabe que ele o vai fazer de novo, como é que sabe isso, pergunto eu? Conhece o cão? Conhece as circunstâncias em que aconteceu o incidente? Sabe avaliar se o cão é de facto agressivo com crianças? Quantas avaliações comportamentais fez o Daniel na sua curta vida de especialista em cães?
Eu não estou de acordo com a morte de nenhum cão até provado que este representa verdadeiramente um perigo, e isso não está provado, e é isso que 20 mil pessoas assinam.
Se ele for avaliado, e determinado como um perigo para a sociedade talvez a morte dele venha a efeito, mas se tiver que acontecer que seja feita como um acto de responsabilização por negligência dos donos do mesmo. O cão morto porque é perigoso deveria sempre ser acompanhado pela prisão dos donos por negligência grosseira nesse facto e só assim iriamos evitar que os donos fossem buscar o Zico2 e que outros donos por esse país à beira-mar plantado começassem a pensar que são realmente responsáveis pelos seus cães.
Portanto como vê Daniel se entreter a ideia de que 20 mil portugueses não são somente "defensores radicais dos direitos dos animais" mas sim pessoas que pedem bom senso e cuidado nas rápidas assumpçoes, e nos julgamentos precipitados feito por pessoas leigas ao assunto e ignorantes como o senhor, talvez veja que não estamos todos loucos.
Eu já recuperei muitos cães e sei que todos os cães merecem a oportunidade de pelo menos serem avaliados a nível comportamental antes de serem julgados à morte de forma displicente. Se o cão for de facto perigoso para crianças porque não explora a ideia de o manter numa prisão até ao final da sua vida? Deêm-lhe um canil do tamanho de uma cela, com comida e água diária, direito a passeio diario com estimulação mental e que morra aí, eu nada tenho a opor-me a isso. Acha demasiado pedir a um animal o que damos aos nossos assassinos que agem com intenção e vontade de matar? Essa questão é uma de ética, compaixão e empatia. Aqueles que não têm empatia com os animais nunca hão-de entender.
O Daniel diz que tem animais de quem "gosta muito" mas que não hesitaria em matar um deles em troca da vida "do ser humano mais asqueroso". Eu quando li isso fiquei chocada. Coitados dos seus cães. Então o Daniel de bom grado deixaria que matassem o seu cão para poupar a vida de Anders Behring Breivik que matou somente 77 pessoas entre elas adolescentes e crianças? Isso é no mínimo grotesco!
Portanto o mundo do Daniel é um repleto de baboseiras surreais, em que o pai natal dá uma bolacha ao Hitler e ambos matam cães para se sentir melhor. Eu vivo em Portugal e orgulho-me dos 20.000 portugueses que mostram empatia, bom senso, e querem que a justiça seja feita de forma coerente.
Claudia Estanislau
Treinadora da Escola Its All About Dogs
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