E se de repente na sua meia aparecesse a cabeça de um
cachorrinho como prenda? Isso seria amor?
CÃES COMO PRENDAS
Cães não são objectos utilitários
que devem ser dados como prenda. O pressuposto da prenda sendo que é uma
surpresa, claro está. O problema está mesmo aqui. Um cão sendo um animal
senciente que envolve muita responsabilidade em variadas partes da nossa vida
(social, financeira, tempo, etc..) não deve ser uma surpresa, porque no final
vamos fazer sofrer o cão e potencialmente a pessoa e/ou família a quem o demos.
Eu compreendo o ideal romântico
por trás do facto de oferecer um animal fofinho e bebé no natal, mas quando
falamos de animais sencientes, como cães e gatos, temos que ser realistas mais do
que românticos. A pessoa realmente quer um cão ou gato? Ela pensou
cuidadosamente nesta decisão? Ela ponderou todos os factores? Todas as pessoas
que irão contactar diariamente com o cão ou gato estão de acordo? Pensaram em
todos os cenários que envolve ter um cão, tais como férias, escapadinhas de
fim-de-semana e saídas à rua às 22h com uma temperatura de 5 graus e a chover a
potes?
Se considera radical a minha
visão, visite o canil ou associação de ajuda aos animais mais perto de si e
verá que radical é o número de cães que acabam nestes locais pelos mais
variados motivos.
Cresceram demais por exemplo é um deles como se o cachorro
não tivesse permissão para se tornar adulto. Ladram, destroem, comem cócós e
largam pelos, em suma são cães. Muitos cães que acabam na rua, ou em abrigos
foram bem-intencionadas mas mal pensadas prendas de natal.
OS MEUS FILHOS NÃO PÁRAM DE PEDIR UM CÃO
Crianças e cães são uma das
imagens mais românticas da nossa sociedade. As vantagens de crianças crescerem
com cães são inúmeras e mais que comprovadas eu sou totalmente a favor de que
beneficia ambas as partes se feito com cabeça, tronco e membros. No entanto, o
cão tal como não é uma prenda, nunca pode ser dado a uma criança como se esta
fosse ser a única responsável pelo mesmo.
Tinha eu cerca de 10 anos quando
os meus pais trouxeram o primeiro cão para casa. Até à data eu tinha pedido
todos os natais, aniversários, páscoas, Halloweens e festas da cidade, por um.
No entanto, e felizmente, os meus pais sabiam que por mais que eu quisesse
seriam eles os verdadeiros responsáveis pelo cão e só quando eu já era mais
capaz de entender certas coisas e eles capazes de abraçarem essa responsabilidade
é que aconteceu e assim tive a minha primeira cadelita, a Lira.
Apesar de eu ser uma criança que
era muito responsável e por gostar tanto dos cães, não me importava nada de a
passear, dar-lhe comida, dar-lhe banho quando necessário, etc… Mas os meus pais
sempre entenderam que eram verdadeiramente eles, os responsáveis pela Lira.
No final de tudo, se ela
precisava de cuidados médicos eram eles que a levavam e pagavam, se ela
precisava de ser passeada e eu tinha saído com amigos ou estava no meu submundo
adolescente fechada no quarto, eram eles que tinham que ir, se eu me esquecia
de lhe dar comida, eram eles que tinham que tratar disso.
A criança pode muito querer
compartilhar a vida com um cão e isso é óptimo, mas colocar nas mãos das
crianças, a responsabilidade inerente a ter um cão é uma receita para desastre,
e quando a criança falhar, e vai falhar porque é, pois claro, uma criança, os
adultos não podem levantar as mãos e dizer “foste tu que quiseste”
esquecendo-se que pelo meio existe um animal que sente fome, frio, precisa de
carinho, amor, atenção e não pode ser negligenciado porque a criança é uma
criança e as adultos “nem queriam o cão”.
Por isso, ter cães porque as
crianças querem é uma péssima ideia. Devemos adoptar um cão porque nós
queremos, e com isto a criança pode também beneficiar desta interacção e
vivência, mas somos nós como família e em especial os adultos que devem arcar
com esta decisão e responsabilidade.
COMPRAR OU NÃO COMPRAR
Agora que ficou claro que cães ou
animais, dados como prendas não são a melhor ideia, festeje o natal e depois
pense cuidadosamente em adquirir um amigo novo.
Antes de decidir que raça
adquirir, deixe-me dar-lhe a perspectiva de alguém que trabalha há 10 anos com
cães de todas as raças possíveis e imagináveis.
A raça de um cão, cada vez menos
determina a personalidade do mesmo. O que quero dizer com isto é que, a raça de
um cão dá-nos informação sobre aspectos como a cor, tamanho que cresce, tipo de
pelo, etc… mas não exactamente vem de encontro com a ideia do que um (coloque
aqui a raça) é.
Labradores não são todos pacatos
e sabem não puxar na trela, nem todos os Golden Retrievers adoram crianças e
vão buscar bolas, se acha que todos os chihuahuas ladram sem parar a tudo
engana-se e não, nem todos gostam de andar sempre dentro de carteiras. Os Grand
Danois, não são todos lentos e mexem-se pouco, nem todos os Pastores Alemães
vão comer ladrões e lamber a vizinha, alguns lambem todas as pessoas de tão
amigáveis que são, e os Border Collies, não são todos cães fáceis de ensinar.
Isto são tudo rótulos que nos
levam a uma ideia errada dos cães, porque o que nos esquecemos é que cada cão
tem a sua personalidade, e que o que fazemos depois com ele a nível de treino e
educação vai ter a maior influência de todas, na forma como o cão se comporta e
se relaciona connosco. Por isso seja lá a ideia que tenha de uma determinada
raça, pense de novo, pode sair totalmente ao lado daquilo que espera.
Cães de raça definida se
adquiridos em criadores responsáveis são também caros. Custa-me pessoalmente, pensar
que podemos estar a gastar tanto dinheiro num cão específico, quando existem
tantos fantásticos a precisar de uma casa.
Eu mesma tenho um Border Collie,
e apesar de o amar profundamente foi o primeiro e ultimo cão que alguma vez
comprei. Ele é um cão fantástico, mas tem Border Collie Collapse Syndrome e
Displasia da Anca grau D e garanto-vos que procurei afincadamente e só em
criadores responsáveis e conscientes. Mesmo assim não me livrei de pagar muito
por ele, ver a saúde dele deteriorar-se e sentir-me algo culpada pela decisão
que tomei.
Se mesmo depois de ler isto,
pensar, “mas eu quero mesmo um cão da raça x” deixo alguns conselhos:
- Tente saber se não existe
nenhum da raça x disponível para adopção, iria ficar surpreendido que hoje em
dia quase qualquer raça pode ser adoptada.
- NUNCA compre esse cão numa loja,
na internet.
- Procure extensivamente por
criadores se quer evitar dar muito dinheiro e acabar com um cão com problemas
de saúde graves que diminuirão a qualidade de vida do seu companheiro, lhe
partirão o coração e esvaziarão a sua carteira. Conheça os pais do cão,
interaja com eles, pergunte tudo o que quiser sobre a saúde eles, e o
comportamento deles. Exija ver testes médicos, informe-se sobre as doenças mais
comuns dentro da raça, etc.. conheça vários da mesma raça e fale com os
tutores, pergunte como eles são, para perceber se é realmente o que procura. É
um trabalho de casa extenso, mas do qual nunca se vai arrepender.
Se a raça e ou proveniência não é
o principal, então parabéns! Acabou de salvar a vida de um cão
ADOPTAR É TUDO DE BOM
Adoptar um cão é outra decisão
importante, mas extremamente satisfatória, sabermos que salvamos um cão de uma
vida miserável ou até mesmo da morte, e que estamos a dar muitas vezes uma nova
oportunidade a um cão é algo difícil de descrever por palavras.
Procure nas associações ou canis
perto de si, e faça perguntas sobre os cães. Muitas vezes as pessoas que lá
trabalham, conhecem melhor os cães que têm dentro das associações do que nós,
por isso ouça-as e não seja movido apenas por um determinado aspecto como:
aquele é lindo, aquele é sossegado, etc.. tente saber mais sobre a
personalidade do cão e se ele será um bom companheiro para si.
Para cada adoptante existe mais
do que um cão perfeito, pode não ser aquele que está ali mas pode ser o outro
ao lado e muitas vezes as pessoas que estão na associação são as melhores a
responder às suas dúvidas. Não se apresse, leve o seu tempo a decidir. Peça
para passear com o cão, pode mesmo fazer isso mais do que uma vez caso esteja
com dúvidas. Passar algum tempo com o cão vai apenas dar-lhe certezas e evitar
surpresas.
Se decidir por um cachorro, saiba
que por vezes é difícil saber o tamanho que vai ter em adulto ou o aspecto
físico exacto, eu pessoalmente gosto do factor surpresa e das características
únicas, mas caso isso não o motive, tente perguntar às pessoas mais experientes
dentro da associação quais os cachorros mais fáceis de identificar em termos de
aspecto físico, etc.
Se decidir por um cão adulto as
coisas facilitam-se em termos do aspecto físico. Ali está o que é, peludo,
carequinha, pretinho ou colorido, barbudo ou com orelhas espetadas. Dali
questione o comportamento do cão, saiba que nem sempre as pessoas da associação
podem garantir nada em termos de comportamento, pois os cães comportam-se de
forma diferente em ambiente de canil do que em casa individuais.
Se decidir adoptar um idoso, terá
uma agradável surpresa. Eles usualmente são cães que surpreendem pela sua
capacidade de adaptação, procuram coisas que nunca, raramente ou já não têm à
muito tempo, contacto humano, cama seca e quente e comidinha sem falta. Cães
idosos têm o maior defeito de todos, uma vida mais curta que um cachorro, mas
as vantagens são infindáveis, a começar pela carga de trabalhos que os
cachorros dão e que os cães idosos não vos vão dar. Usualmente cães idosos são
mais previsíveis no seu comportamento pelo que é mais fácil saber lidar com um.
Um cão idoso apesar de ter uma vida mais limitada, continua a ser um cão que
irá passar vários anos ao seu lado, e por experiência estes cães rejuvenescem
sempre que são adoptados e acabam por viver bastante mais tempo que o esperado.
Quando adopta um cão, seja de que
idade for, está sem dúvida a dar a um patudo que merece uma nova casa. Estes
cães muitas vezes vêm acoplados a um sentimento de “agradecimento eterno”,
difícil de explicar, impossível de provar, mas que quem adopta, acaba sempre
por descrever e reconhecer como existente, quase como se “eles soubessem que os
ajudamos”.
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