Ao visionar vários programas do Cesar Millan, muitas são as questão que se colocam. Quando confrontados com a verdade sob os métodos de Cesar muitas pessoas contestam. Espero aqui poder esclarecer algumas dessas questões de uma forma clara.
A maioria dos críticos não se referem a um abuso físico, embora alguns dos métodos usados no seu programa poderão ser classificados como tal. No episódio Fondue, Chip, Hope & JoyJoy, cães pequenos são agarrados e içados do chão pelo cachaço. No episódio de Teddy, os pés de um Labrador são levantados do chão içados pela coleira. A maioria dos donos de cães não iria permitir que uma pessoa no parque tratasse o seu cão dessa forma, independentemente do comportamento do seu cão.
JonBee, amordaçado, é levantado do chão com uma coleira de engasgo (parece uma inofensiva fita amarela), um procedimento conhecido por “stringing up”. Antes disto, o cão não só não demonstrou nenhum sinal de agressão como tentou várias vezes evitar qualquer tipo de interacção com Cesar Milan.
Ruby mostra multiplos sinais de stress durante este episódio. Pouco depois disto, é-lhe oferecido um pedaço de comida que ela recusa. A recusa de comida num cão saudável é um sinal comum que o sistema nervoso simpatético do cão foi activado, desactivando o sistema digestivo do cão e preparando-o para um situação de fuga ou de luta.
Este vídeo está sem som propositadamente. Para observar o video na totalidade e com som, clique aqui
Não é necessária uma lesão física para traumatizar um cão. Enquanto alguns cães recuperam de experiências traumáticas com mais facilidade, outros terão como consequência problemas comportamentais para o resto da vida.
Como tal, repetidamente colocar um cão numa situação de stress, na realidade, causa-lhe dano.
JÁ ALGUMA VEZ VIU O PROGRAMA?
Eu regularmente observo o programa e faço downloads dos videos podcasts. Primeiro observo-os sem som, para que possa observar os comportamentos do cão e as acções de Milan, assim como as respostas do cão aos métodos usados. Eu considero a música dramática, o narrador e as explicações da estrela do programa frequentemente contraditórias com o que realmente está a acontecer no ecrã.
NÃO ESTARÃO OS CRÍTICOS APENAS INVEJOSOS DO SEU SUCESSO??
MAS ELE NÃO TREINA CÃES, ELE REABILITA-OS
Cães que não detêm um fundamento básico de obediência são mais difíceis de controlar e respondem menos aos seus donos, o que torna a modificação comportamental (ou reabilitação) muito mais difícil. Uma das coisas que eu observo frequentemente no programa é que enquanto o cão não responde ao que despoleta o comportamento (outros cães, pessoas, skates, etc...), também não responde ou olha para os seus donos. Na realidade, a presença de uma trela curta e a frequência de esticões dados na trela sugere que o cão não seria tão “submisso” se o dono largasse a trela.
É difícil imaginar como é que alguém consegue reabilitar um cão sem um conhecimento básico de como os cães aprendem, ou porque é que alguém iria ignorar este passo tão importante que encoraja a cooperação e coloca o dono numa posição de “liderança”.
MAS NÃO EXISTE APENAS UMA FORMA DE TREINAR CÃES
Sim, existem muitas formas de se treinar um cão. Eu penso que o que os donos de cães deveriam perguntar-se é porque é que deverão escolher um método que causa stress ou magoa o seu cão sem tentarem primeiro métodos menos aversivos.
OUVIR DIZER QUE TREINADORES “POSITIVOS” PREFEREM EUTANAZIAR CÃES
Dado o extenso número de livros escritos por treinadores “positivos” em como modificar problemas comportamentais sérios, incluindo agressão, já para não mencionar a contínua educação através de seminários e conferências referentes ao tema da modificação comportamental nomeadamente de agressão, é claro que treinadores “positivos” não escolhem a eutanásia em vez da modificação do comportamento problemático.
Um treinador com ética profissional, seja ele “positivo” ou não, sabe que a eutanásia é uma opção que não deverá ser recomendada de ânimo leve, e nunca por telefone ou pela internet. A decisão final deverá ser feita pelo dono do cão, após considerar todos os factores incluindo possíveis doenças que possam ser a causa ou contribuam para o comportamento, a extensão do problema, as opções de modificação disponíveis, a habilidade de gerir a situação em segurança enquanto se implementa o plano de modificação comportamental e o empenho de todos os membros da família.
Se o dono de um cão é aconselhado a eutanásia como uma opção pelo telefone ou pela internet ou sem serem dadas opções ou alternativas ou por apenas um profissional, o conselho é que procure ajude noutro local.
MAS RESULTA
Para mim, como para muitos outros treinadores que trabalham com cães diariamente, se o cão tem que estar preso por uma trela curta para poder passar por outro cão, para ser penteado ou para outra coisa qualquer, o comportamento não foi alterado.
RESULTOU NO MEU CÃO
Se os métodos usados no programa o ajudaram a si e ao seu cão nalguma forma e não criaram problemas comportamentais adicionais então consigo compreender porque é que é difícil ver o mal neles.
E DEPOIS SE ELE NÃO TEM EDUCAÇÃO FORMAL? ELE NÃO ESTUDA SÓ OS CÃES NOS LABORATÓRIOS, ELE TRABALHA COM ELES DIARIAMENTE
Existem muito treinadores profissionais e consultores de comportamento que não têm educação formal ou cursos universitários. No entanto, estes treinadores, educam-se e continuam a educar-se, mantendo-se sempre a par das últimas descobertas no mundo do treino e comportamento canino.
Enquanto possa ser verdade que os cientistas que trabalham em laboratórios e estudam o comportamento nem sempre trabalham com cães que detêm problemas comportamentais, a informação que eles nos dão com os seus estudos, é importantíssima para todos os que realmente trabalham com esses cães.
Ignorar mais de um século de estudos científicos em comportamento animal aumenta a ignorância dos donos de cães, que é a verdadeira causa dos problemas comportamentais nos cães.
ENTÃO DEVEMOS TRATAR OS NOSSOS CÃES COM PANINHOS QUENTES? COMO CRIANÇAS?
Cuidados parentais, incluem dar aos filhos nutrição, educação e regras sem o uso da violência e/ou abuso físico ou psicológico. Todos estes princípios são consistentes com a criação de um cão saudável e bem comportado. Como tal se os donos de cães tratassem os seus cães como são esperados tratar os seus filhos existiriam muitos menos problemas, não mais.
Em 1992, O Jornal de Ciências Aplicadas ao Bem-Estar Animal publicou um estudo feito com mais de 700 cães, no qual tentaram determinar se atitudes ou actividades antropomórficas estavam directamente relacionadas com problemas comportamentais:
“... cães que eram lidados pelos seus donos de uma forma antropomorfica, eram “mimados” em certas formas e não detinham treino de obediência mas não demonstravam mais comportamentos problemáticos dos que os cães cujos donos não os tratavam de uma forma antropomórfica...”
Os cães não desenolvem problemas comportamentais porque os seus donos os veêm ou tratam como subsitutos de crianças. Muitos outros factores tais como genética, sociabilização (ou falta de) e traumas contribuem para o desenvolvimento de comportamentos problemáticos em cães.
Enquanto que não é aconselhável ver um cão ou tratá-lo como um humano, também não é aconselhável vê-los ou tratá-los através de uma interpretação defeituosa e errada do comportamento de lobos.
Quando um cão se encontra numa situação dentro da qual o sistema nervoso automático é activado (também chamado de fuga ou luta), o sistema digestivo “desliga” para dirigir toda a energia para os músculos para sobrevivência. Isto é o que é conhecido por “over-treshold” ou ultrapasse do limite.
Usar métodos positivos eficazmente de forma a modificar um comportamento, é necessário o conhecimento de como o cão aprende. Se esse conhecimento não existe, o sucesso não existirá. No entanto, quando alguém não é bem sucedido no uso de métodos positivos, não ocorrerá nenhuma modificação no comportamento. Quando alguém não é bem sucedido no uso de métodos punitivos, muitas vezes existe um escalar do problema ou o aparecimento de outros.
CONCLUSÃO
Houve um tempo em que, também eu acreditei, através de informação que adquiri de amigos e amantes de cães bem-intencionados, que a agressão em cães era resultado duma personalidade dominante e que a única solução era o uso de meios físicos e aversivos. Quinze anos atrás eu próprio seria um fã deste programa de tv.
Para alívio e paz do meu cão Mac um cão cujo programa provavelmente consideraria um cão de “zona vermelha”, eu descobri os muitos benefícios do uso de métodos positivos. Desde esse dia, a coleira de choque e de picos estão no armazém com teias de aranha, enquanto nós gozamos passeios longos sem trela.
Quando falamos em trabalhar com cães, a alternativa ao uso de métodos aversivo não é o uso de métodos permissivos. O abuso de métodos permissivos causam tanto dano como os métodos aversivos.