quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Marcas de Não Recompensa

Marcas de Não Recompensa – escrito por Susan Garrett e traduzido retirado do seu blog

Acho que já era tempo de falar acerca do uso, abuso, mau uso e incompreensão do que são as MNR (Marcas de Não Recompensa) no treino de cães.

Uma MNR é usualmente uma palavra ou frase que quando dita ao seu cão, indica-lhe que ele não vai obter nenhuma recompensa para aquela resposta em particular. O sinal MNR deve ser dado sem emoção ou culpa. O cão não é “mau” ele apenas ainda não aprendeu e precisa de voltar a tentar.

A primeira vez que ouvi falar de MNR foi pela boca de Gary Wilkes e da Karen Pryor em 1990. Frases tais como “errado!”, “oops”. “oh não!” são as mais populares hoje em dia. O mais engraçado é que acabamos por usar muitas MNR no dia-a-dia com os nossos cães e são os próprios cães que no-las ensinam.

Isso funciona porque somos criaturas de hábito. Quando começamos a ficar frustrados,
preocupados ou mesmo zangados o mais provável é recairmos na nosa costumeira postura corporal e “fraseologia” – independentemente de o fazermos conscientemente ou não. Os nossos cães aprendem isto com extrema facilidade. Os sinais detectados podem ir de um suspiro a um berro alto. Assim que os seus cães identificam os sinais que prevêm o nosso estado emocional menos favorável eles irão responder da forma mais adequada, que pode ir desde cair numa rotina de sinais de apaziguamento (andarem á nossa volta de corpo rente ao chão e a lamberem-nos as mãos), a ficarem stressados e fugirem, ficarem excitados e fazerem patetices para aliviar a tensão ou fazerem algo que é único e próprio desse cão.

Infelizmente para muitos cães o seu próprio nome torna-se uma MNR. Na tentativa de impedirmos que um cão faça algo, no calor do momento um treinador decide chamar o cão (fazer um chamamento). Por exemplo enquanto treinamos os weaves em agility se o cão entrar incorrectamente usualmente o seu dono simplesmente o chama para que ele volte para trás. Isto pode criar um circulo conflituoso com o cão durante o treino porque o seu nome fica associado com uma constante falta de reforço.

Algumas MNR aprendi com o meus cães. Estas são aquelas que eu uso quando eles começam a brincar de forma tão exuberante e pateta que me fazem rir e eu muitas vezes digo coisas como: “olha para vocês” ou “não me parece..” ou “nem pensem..” enquanto me rio.

Eu diria que de forma geral as MNR são mal entendidas e pior que isso aplicadas de forma errada. Para que fique claro, uma MNR não deve estar relacionada com os “ah aaaaah!” punitivos usados no treino tradicional. Infelizmente quando as pessoas passam de usar correções para aplicarem o treino positivo, estas correções verbais são aquelas que demoram mais tempo a sairem do sistema.

Estou a falar das frases ou sons guturais como “ah aaaaaah!” ou “errrr” ou “NÃO!” ou “HEY!” gritados ou até mesmo rosnados ao cão ou até mesmo o som “Pssssst” usado por Cesar Millan. Estas palavras estão sempre condicionadas com o que eu chamo o factor “I” (intimidação).

O objectivo (quer as pessoas que usam estas punições queiram admitir ou não) é condicionar o factor “I” no seu rosno, frase ou palavra usada que mais tarde poderão usar para impedir qe o cão faça algo que elas não querem sem ter que ser fisicamente corrigido.

Não faz qualquer diferença se você disser “ah aaaaah!” num tom de voz baixo. Se alguma vez você seguiu esse “ah aaaaah!” suave com algum tipo de “correção” ou “ajuda” para que VOCÊ possa mudar a resposta do cão ao invés do cão mudar a sua própria resposta, então irei agrupar tudo isto na mesma família do factor “I”.

Pessoalmente fui educada inicialmene na escolar de treino para ser uma experiente usuária de punidores agrupados na família do Factor “I”. No entanto, fui perdendo todos esses durante os anos 90 e sugiro que vocês façam o mesmo. Ok as palavras
e expressões até podem permanecer, mas livrem-se da conotação a que estão associados, ok?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012


Existem muitos riscos e perigos que incorrem quando ponderamos o uso de aversivos (dor, medo, intimidação, punições físicas ou outras) para treinar e/ou educar cães. Talvez o perigo maior resida na falta de conhecimento ou negação dessa falha por parte das pessoas.
Eu sou muito mais tolerante com a falta de conhecimento do que com a negação desse conhecimento.
Sei tudo!
Uma pessoa ao ouvir que eu treinava cães, começou imediatamente a contar-me uma história acerca do seu Beagle.
Começou por explicar-me que “durante a sua vida toda teve cães, reeiterando que tinha tido rottweilers, dobermanns que caminhavam na rua sem trela e não saiam do seu lado”. Usualmente as pessoas parecem pensar que se tiveram determinadas raças estão automaticamente habilitadas a ter qualquer outra e que o facto de sempre ter tido cães lhes confere uma autoridade ou conhecimento automático acerca de tudo relacionado com cães.
Ela continuou o relato dizendo que agora tinha um Beagle que “era o cão mais
desobediente que alguma vez tinha tido”. – usualmente as pessoas fazem questão de afirmar como os cães são desobedientes e raramente param para pensar se o problema reside na forma como ensinaram os cães, ou sequer se ensinaram os cães. Infelizmente para os cães, muitas pessoas assumem que estes devem vir ensinados, já com algum tipo de conhecimento adquirido geneticamente. Se olharmos livros generalistas das raças vemos, como a raça X ou Y é obediente ou responde bem à chamada – sempre achei isto curioso, é o equivalente a dizer que uma criança que nasce no Japão já vem a saber matemática aplicada ou que uma criança brasileira deve saber certamente dançar capoeira e samba desde a nascença é típico da raça.
Depois continuou a contar como uma vez ia a sair de casa, abriu o portão da propriedade para sair com o carro mas antes foi ter com o seu cão e disse-lhe “não te atrevas a sair daqui”. Entrou no carro, abriu o portão e para choque e surpresa dela o cão saiu disparado. Ela conta como correu atrás do cão mas este continuava a fugir então ela voltou para trás entrou no carro e foi a seguir o cão com o carro. “Ele eventualmente parou num descampado e pôs-se a uivar e a fazer montes de barulho, quem ouvia até parecia que eu espancava o cão” contava ela. Depois seguiu dizendo “ele primeiro que entrasse no carro foi um castigo, mas depois eu disse-lhe – “entra no carro agora senão a surra que levas depois vai ser pior” – e ele entrou todo cabisbaixo mas enquanto eu dava a volta ao carro ele aproveitou e patinhou o carro todo com lama para se vingar”.
“Ah então quando cheguei a casa, deixei-o sair do carro e dei-lhe uma surra tão grande nem estás a ver. Eu batia-lhe com toda a força que tinha e o meu irmão dizia “bate mais que ele é mesmo desobediente” e eu bati mesmo para ela aprender, ele gania gania mas não servia de nada. No final disso tudo estava ele quieto eu abri o portão da casa de novo e sabes o que ele fez? Saiu na mesma! Não foi longe desta vez mas saiu de novo, achas normal?”
“Nunca tive um cão tão desobediente como este, e ainda por cima rói tudo o que apanha,
o que é que se faz com um cão assim? A mim custa-me mete-lo numa escola de treino afinal de contas sempre consegui educar os meus cães não preciso que agora terceiros venham educar os meus cães.”
Tudo isto teria sido facilmente resolvido se o irmão tivesse segurado o cão enquanto ela saia com o carro. Um pequeno gesto de gestão usado com inteligência seria o suficiente para evitar tantos transtornos e certamente evitar desapontamentos já para nem falar das possives
consequências deste tipo de situações.
Para além da gestão da situação, esta pessoa poderia também ter ensinado o cão a ficar enquanto o portão abre algo que se consegue com alguma facilidade. Mas a pessoa recaiu imediatamente numa guerra de vontades. A vontade da pessoa em provar que consegue que o cão faça o que ela
quer, só porque sim. Sem ensinar nada, sem esforço, apenas por ela disse. Esta guerra de vontades e necessidade de provar superioridade por simples osmose é um dos obstáculos a uma convivência saudável livre de problemas com os nossos cães.

Colocar um cão numa situação que sabemos que ele vai falhar e depois puni-lo por apresentar um comportamento perfeitamente natural e expectável é para mim incompreensível e inaceitável. A generalidade das pessoas estão tão condicionadas pela sociedade, a sua vida e as influências externas em punirem o que está mal, que lhes parece impossível a ideia de que não é necessário punir, muito menos punir duma forma agressiva, para se ensinar alguma coisa. Para mim, por exemplo, foi muito fácil entender que aprendizagem não ocorre num ambiente
de medo ou intimidação.
Treinar usando reforço positivo não é simplesmente uma técnica que se aplica, é uma mudança de mentalidade na nossa forma de estar e de lidar com outros. Se entendermos o conceito básico de que reforçar comportamentos desejados aumenta a sua frequência e retirar o reforço
aos comportamentos indesejados diminui a frequência destes, então estamos no bom caminho.
Assumir que temos muito a aprender e não assumirmos que sabemos tudo acerca dos cães é também uma das prerrogativas para aprendermos mais e evoluirmos. Se nos mantivermos presos ao que “sempre soubemos” ou “aquilo que achamos ser correcto” sem questionar nada estagnamos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Interacções entre cães, devo intervir ou não? - Parte II

Porquê intervir?

Quando um cachorro não consegue ver-se livre do outro – Se você vê que o seu cachorro está com dificuldade em afastar-se daquele cachorro persistente e alegre que o persegue para brincar está na hora de intervir. Se o seu cachorro foge para baixo da mesa, se refugia por trás das suas pernas, foge para baixo das cadeiras e não consegue ver-se livre do alegre pateta que o persegue, está na hora de intervir. A importância de intervir nesse momento vai reflectir grandemente no comportamento futuro de ambos os cachorros. Ao impedir que o seu cachorro seja perseguido evita que ele tenha que escalar o comportamento de forma a alcançar o seu objectivo. Vamos ver isto como uma sequência de comportamentos:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o


Cachorro
foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro
corre para se afastar O outro persegue-o

Nesta sequência de eventos o seu cachorro está a aprender que fugir não é uma forma eficaz de aumentar a distância e manter-se seguro quando se sente ameaçado ou invadido pela presença de outro cão.

Portanto o cachorro adopta uma nova medida

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
rosna enquanto foge O outro persegue-o

Cachorro
ladra e abocanha o ar O outro persegue-o

Cachorro
morde o outro O outro pára de o perseguir

Nesta última sequência de eventos o que aconteceu foi que o seu cachorro 1 aprendeu que a forma mais eficaz de afastar cães que o incomodam e de se proteger é “morder o outro cão”. As probabilidades de no futuro o cachorro 1 usar agressão para lidar com uma situação idêntica
aumentaram significativamente. Por outro lado, o cachorro 2 aprendeu a ignorar todos os outros sinais dos cães, ele está a aprender a assediar os cães para conseguir brincar com os mesmos. Aprendeu também que quando tenta brincar com os cães estes mordem e sai magoado de um relacionamento que tinha como intenção primária ser um saudável. As probabilidades no futuro do cachorro 2 usar agressão durante as brincadeiras como forma de defesa, aumentaram grandemente. É por estes motivos que é tão importante intervir durante os relacionamentos dos cachorros, para evitar que no futuro os comportamentos antagonisticos sejam os preferidos. Desentendimentos destes nas interacções entre os cachorros podem levar a cães adultos ansiosos e que constantemente se juntam em brigas.

Quando Intervir

A intervenção desse ser atempada. Intervir demasiado tarde ou cedo demais pode ter os resultados opostos daqueles desejados.

No caso explicado acima por exemplo a intervenção deve ser a seguinte:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o

Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o

INTERVIR

Pode inclusivé intervir mais cedo. A questão é que existem caes que fogem durante muito tempo antes de escalar o comportamento. Outros, no entanto, ao fim de 2 ou 3 tentativas mudam
automaticamente de estratégia. Em caso de não saber muito bem o que o seu cachorro poderá fazer, previna-se e intervenha mais cedo. Se já conhecer o seu cachorro e souber que ele é por exemplo paciente, intervenha à 3ª ou 4ª tentativa de afastamento.

Como Intervir

A forma de intervir deve uma apoiada no julgamento e avaliação lógica da situação, executada com calma e neutralidade. Não deve alimentar a ansiedade ou stress que muitas vezes surge nestas situações. Lembre-se que ambos os cães têm as melhores intenções e cabe-nos a
nós guiá-los para que possam adequadamente aprender como comunica-las evitando ao máximo conflitos graves que serão transportados para interacções futuras.
Assim quando souber quando intervir, a intervençao deve ser calma. Agarrar na coleira do cão deve ser feito, só e apenas se o cão tiver uma dessensibilização ou estiver completamente relaxado em que o segurem pela mesma. Lembre-se que ao impedir que um cachorro continue
a perseguir outro segurando pela coleira vai criar ansiedade por isso deve focar-se em criar uma associação positiva a esta acção. Dê várias recompensas de alto valor enquanto segura na coleira do cão e mantenha-o interessado em si.

Afaste-se do local e quebre o contacto visual entre os dois cachorros. Após a intervenção aguarde uns momentos. Pode inclusivé se o cachorro estiver focado em si, dar algums recompensas pela
atenção que este lhe está a dar durante uns 3 a 5 minutos e inclusivé incluir alguns exercícios de senta e deita. Quando vir que o cachorro está mais calmo pode voltar a deixar a interacção ocorrer (avaliando as intenções do outro cachorro ou se devem terminar de vez a interacção) ou então pode ausentar-se do local.

Pontos a reter:
  • Nunca se deve zangar com os cachorros
  • Nunca deve agir emotivamente - afaste os cachorros uns dos outros de forma calma e
    controlada com movimentos calmos, sem berrar ou se irritar
  • Associe o afastamento a algo agradável (senão torna-se uma punição) - dando várias recompensas de alto valor (carne, ou brincando ao tug, etc…)
  • Aumente a distância entre os dois cachorros - por vezes é necessário afastar-se
    bastante do outro cão para conseguir que o seu lhe preste atenção ou se interesse pelo que lhe tem para oferecer e para conseguir que se acalme
  • Afaste os cachorros ou cães - especialmente se um deles estiver a mostrar claros sinais de stress ou de querer aumentar a distância entre os dois (fugindo ou demonstrando irritação). Se um dos cachorros rosnar ou mostrar os dentes, afaste-os imediatamente
  • Não deixe que cães de porte diferente interajam sem supervisão – se um dos
    cachorros for bastante maior do que o outro, ensine o cachorro de porte grande
    a permanecer deitado e não saltar para cima do mais pequeno. Para tal segure o
    cachorro grande se este se tentar saltar para cima do outro, conte até 10 e volte a soltar sempre prestando atenção para evitar que se atropelem.
  • Intervenha as vezes que forem necessárias, mas se ambos os cachorros estiverem a interagir bem a duma forma saudável deixe o relacionamento decorrer
  • Nunca punir ou castigar os cachorros por interacções que NÓS consideramos inadequadas
    - interacções inadequadas devem ser controladas e não suprimidas. A nossa responsabilidade é ensinar formas mais eficazes de comunicar e interagir. Punição ensina o cachorro a suprimir sinais comunicativos e a recear o que as suas interacções desencadeiam no ambiente ao ser redor.
  • Afaste-se de julgamentos humanos acerca das interacções – mais do que perder tempo a
    assumir que determinados comportamentos são originários de teimosia, dominância
    ou típicos da raça, limite-se a ter uma intervenção neutra e eficaz. Se você assumir que um cão age ou comunica determinado comportamento “porque é dominante” irá recair no erro de estar a transpor a sua interpretação pessoal do que vê e pode inadvertidamente promover comportamentos que trarão problemas graves no futuro.

O que nunca deve fazer…

  • Nunca mas nunca deve punir um cão por uma interacção. Lembre-se que a punição SUPRIME o sinal comunicativo mas não resolve o que o despoleta, nem ensina ao cão uma alternativa para lidar com a situação. O cão que vê o seu sinal comunicativo suprimido pelas pessoas que o deviam proteger, aprende que na presença dessas pessoas não pode comunicar adequadamente para evitar a punição. Vejamos então o que pode acontecer:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro foge para baixo da mesa O outro persegue-o

Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o

Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o

Cachorro rosna enquanto foge PUNIÇÃO POR ROSNAR O outro persegue-o

Com a punição o que ensinamos ao cão é que rosnar origina uma punição e para evitar futuras punições o cão vai evitar rosnar, no entanto agora o cão não sabe o que fazer para evitar ser perseguido pelo outro cão. O que provavelmente acontecerá é isto:

Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2

Cachorro
suprime o sinal comunicativo

Cachorro
morde com severidade Cachorro sente-se atacado e é desencadeada uma luta

A supressão do sinal comunicativo leva a que o cachorro passe automaticamente para um comportamento altamente antagónico e agressivo como forma de defesa o que por seu lado desencadeia uma posição de defesa por parte do outro cão que dada a severidade do ataque. Como o cão aprendeu a suprimir o sinal comunicativo o outro cão na ausência de sinais
investe com mais rapidez despoletando confusões e ataques mais graves e sérios.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Interacções entre cães, devo intervir ou não? - Parte I

Este é o 1º de dois artigos que se debruçam sobre se devemos intervir, como e quando nas interacções entre os cães.

ESTÃO SÓ A BRINCAR…

Uma das minhas actividades favoritas inclui observar cães. Se estiver na presença de cães, posso passar muito tempo simplesmente a observa-los, ver a sua linguagem, a forma como interagem, a dinâmica e fluência dos seus relacionamentos, como a personalidade de cada um se demonstra nas variadas interacções. Nunca é demais observar os cães e a forma como interagem, aprende-se sempre muito através dessa observação passiva, mas a questão surge, deveremos intervir quando dois cães interagem um com o outro? E se sim quando? E porquê?

A resposta é sim.

Existe lugar para uma intervenção activa e essas intervenções podem ser cruciais a muitos níveis, ao intervirmos na altura correcta e da forma adequada, podemos evitar problemas imediatos, o desenvolvimento de problemas futuros e ao mesmo tempo promover e ensinar interacções saudáveis.

Interacções Inadequadas

Existe um balanço entre nunca intervir e deixar que os cães “se entendam entre eles” e ser interventivo demais e não permitir que as interacções fluam. Nenhum dos extremos é útil porque é importante que os cães aprendam a relacionar-se uns como os outros e isso consegue-se sem interferências constantes, como também é importante que aprendam a fazê-lo de forma saudável e não pratiquem comportamentos inadequados e isso consegue-se através duma intervenção activa da nossa parte.

Esse balanço de que falo, não é adquirido de um dia para o outro e exige capacidades e experiência que são ainda mais importante quando falamos de interacções entre cães adolescentes ou adultos que já tenham manifestado comportamentos inadequados ou cujos relacionamentos com outros cães pareçam originar em problemas. Este tipo de situações deve ser gerida e supervisionada pelos donos com a ajuda constante de um profissional – treinador positivo especialista em comportamento canino – que detenha
um conhecimento e experiência aprofundada.

Mas quando falamos de cachorros os donos devem saber quando e como intervir principalmente porque os cachorros estão extremamente susceptiveis a aprender e é muito importante que a intervenção seja adequada.

O meu cachorro é tão sociável!

Falemos daqueles cachorros que são tão sociáveis, tão sociáveis que todos os outros cachorros fogem quando os vêem chegar. O dono não entende porque é que outros cães fogem do seu cachorro. Afinal de contas “ele só quer brincar” ou “só quer dizer olá”.
Não é no gostar de interagir muito com outros cães que reside o problema, mas sim na forma como essa interacção acontece.

Se um dos cães quer brincar a maioria das pessoas não entende porque é que o outro não quer. Comportamentos normais dos cães são muitas vezes criticados pelos donos e os cães que não querem interagir são vistos como pouco sociáveis, solitários e até mesmo muitas vezes problemáticos.

Já imaginou se o obrigassem a interagir e gostar de todas as pessoas com quem se cruza?