quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O QUE FAZER SE VIER UM CÃO SEM TRELA A CORRER NA DIRECÇÃO DO MEU

Muitas vezes as pessoas assumem erradamente que se o seu cão é geralmente amigável com outros cães e pessoas que não haverá problema se este for a correr de encontro a elas.

O que falha neste tipo de pensamento é o mais importante. Talvez a outra pessoa ou o outro cão não sejam amigáveis, ou talvez não estejam com vontade de brincar, ou não estejam confortáveis em serem recebidos com aquele tipo de exuberância.

O vídeo feito pela Emily demonstra o que pode correr mal quando deixamos que os nossos cães circulem sem trela e sob os quais não temos controlo

http://youtu.be/51ohcISwQJ4

Com ou Sem Trela?

Todos devemos seguir as regras e leis que dizem que em locais públicos os cães devem estar sempre de trela. Isso é normal e expectável de qualquer dono responsável, no entanto também temos que pensar que faz parte do bem-estar dos cães que estes possam correr, buscar bolas, brincar com outros cães e exercer todos os comportamentos típicos da espécie.

O que um dono responsável deve fazer é encontrar um meio termo e estabelecer que existem locais seguros e adequados para tal. Fico impressionada quando vejo alguém “passear” o cão sem trela no meio das cidades. Apesar da confiança cega dos donos que “já há anos que fazem aquilo” não é de todo seguro nem aconselhável e uma demonstração de falta de responsabilidade que pode ter consequências graves e sérias.

Praias isoladas (ou praias no inverno por exemplo), matas, serras, locais vedados (parques de futebol por exemplo) etc podem ser usados para o propósito específico de deixar os cães correrem livremente.

O cão está sem trela

Só deveremos tirar a trela ao nosso cão em duas circunstâncias que por ordem de importância são:

  1. O local é seguro ou vedado e adequado para o cão poder circular sem trela
  2. O nosso cão tem um chamemento fiável e bem generalizado

Os dois pontos estão interligados, visto que mesmo com um bom chamamento não se devem tirar as trelas aos cães em locais perigosos e inadequados. Mesmo que encontre um local adequado e seguro não deve nunca tirar a trela a um cão que não tem um excelente chamamento, senão teremos a situação que vimos em cima no vídeo.

Chamamento

Um excelente chamamento inclui termos a certeza absoluta que independentemente das circunstâncias, distracções ou tentações se chamarmos o nosso cão ele vem. Se acha que o cão tem uma boa chamada, “excepto quando vê (preencha o espaço)” então não solte o cão até ter essa certeza. Chamamento pratica-se, treina-se e é dos comportamentos que requer mais prática e generalização. Infelizmente as pessoas têm pressa e nãso entendem que requer dedicação e tempo para poderem afirmar que tem realmente um bom chamamento treinado no cão. A maioria das pessoas treina alguns chamamentos e após algumas tentativas bem sucedidas considera que “o cão já sabe”. Mas o cão que vem quando vê um outro cão preto e velhote lá ao fundo, pode não vir quando vir três labradores aos pulos a brincar. São duas coisas completamente diferentes. Pratique, generalize e reforçe com MUITA frequência com recompensas de ALTO valor de quer realmente ter a certeza que consegue um chamemento infalível.

O que fazer?

E agora? Você é um dono responsável tem o seu cão de trela e aparece um outro cão a correr desenfreado na sua direcção.

Você sabe que o seu cão não vai achar piada nenhuma a estar de trela e se recebido por outro cão naqueles termos. Você observa o dono que lá à distância berra “não faz mal ele é meiguinho!”.

Treinadoras experientes como Patricia Macconell e Trish King já demonstraram algumas formas de reagir a esta situação tão comum. Por experiência é extremamente eficaz se for feita no timing correcto.

Sempre que for passear o seu cão leve consigo alguns pedaços de comida de alto valor. Por exemplo alguns pedaços de galinha cozida num saquinho, fígado congelado (é óptimo e não suja) ou pedaços de queijo ou fiambre. Estes pedaços de comida apetitosa podem ser usados para treinar o seu cão obviamente mas o propósito é estar preparado para atirá-los ao cão que vem a correr desenfreadamente na sua direcção.

Encurte a trela do seu cão e coloque-se um passo à frente dele e quando o outro cão estiver a 4 ou 5 passos de distância atira na cara dele um punhado da comida apetitosa. O que acontece em 95% dos casos é que o cão é apanhado de surpresa e pára imediatamente para procurar a comida no chão. Isto dar-lhe-á tempo suficiente para “sair de cena” ou para que o dono do cão se aproxime e segure finalmente no seu cão.

O resultado deve ser algo idêntico a isto (vídeo da Dra Patricia Macconnell feito acerca deste mesmo tema).

http://youtu.be/XjEZnrM63Ks

Se o cão não parar?

Se o cão não parar, lembre-se que quanto mais pressão exercer na trela do seu cão pior será. Se colocar tensão e mantiver a trela do seu cão esticada e tensa as probabilidades do seu cão reagir aumentarão significativamente porque ele sentirá essa tensão na trela e coleira. Segure a trela o mais laça possível (segurando com a mão para cima), tente manter o seu cão em movimento circular (cães que se aproximam directamente de frente é sempre pior) se conseguir começar a circular numa roda gigante será mais fácil. Tente não gritar ou entrar em pânico, porque se o fizer o seu cão pode reagir de acordo e entrar ele mesmo em pânico desencadeando uma briga. É necessário algum auto controlo para conseguir isto, no entanto, lembre-se que o que você faz tem efeito imediato na reacção do seu cão.

Flight or Fight

É este o instinto primário de todos os cães. Fugir ou lutar. Um cão quando perante um estímulo que desconhece, é perigoso ou suspeito o seu sistema entra em modo de fight ou flight, no qual o cão está programado (nós também já agora) para fugir em primeiro lugar e se isso for impossível ou ineficaz o cão atacará para se defender ou tentar afastar o outro cão.

É muito importante considerar isto na situação do cão que está de trela e é aproximado por outro sem trela. Se acontece não estar preparada com recompensas de comida na mão (visto usar mais a bola do que comida para treinar) e um cão se aproxima dos meus, e faço questão de pousar a trela no chão e fastar-me para o lado.

O meu afastamento tem duas funções:

  • Permitirá aos meus cães aperceberem-se que estão “soltos” e que se quiserem afastar-se podem fazê-lo. Saberem que podem fugir evita muitas vezes a reacção negativa.
  • Permite que o meu estado emocional não interfira na reacção do meu cão
  • Permite que chame o Joel e tente afastá-lo da situação sem causar tensão na trela

Claro que existem situações nas quais isto é impossível de ser feito. Por exemplo se estiver perto duma estrada é desaconselhável fazer isto porque o seu cão pode assustar-se e fugir para o meio da estrada, use o seu bom senso na aplicação destes conselhos.

STOP!

Colocar-se entre o seu cão e o outro cão usualmente é também eficaz para dissuadir a aproximação do outro cão, se você colocar o seu corpo para a frente com uma mão esticada como num sinal de stop o mais provável é o outro cão accionar os travões e desviar-se de si.

A sua linguagem corporal é muito importante e os cães (todos eles) sabem lê-la perfeitamente. Se usar o seu corpo para comunicar um stop com um cão muitas vezes consegue. No entanto lembre-se que o ideal é parar o cão solto e mantê-lo distraído pelo que a solução dada acima de atirar comida para o chão continua a ser a mais eficaz.

O meu cão não é agressivo!

É fantástico ver cães sociáveis. Mas o facto do seu cão ser uma borboleta social não lhe confere um direito especial de ter o seu cão sem trela e a aproximar-se indiscriminadamente de outros. Não estará a zelar pela segurança do seu cão se permitir que ele circule sem trela e dê de focinho com um cão agressivo de trela. Se o seu cão sair magoado de um encontro inesperado desses, a responsabilidade será inquestionavelmente sua.

Se quer que o seu cão brinque com outros pergunte primeiro ao dono se pode ser. Observe o seu e o outro cão cuidadosamente. Seja cuidadoso e faça tudo de forma controlada. Essa é a nossa responsabilidade.

Acima de tudo lembre-se que o mais importante é sem sombra de dúvidas não tirar o seu cão de trela em locais inapropriados. Se você tem um bom controlo no seu cão, pode soltá-lo mas esteja atento ao ambiente à sua volta e se vir alguém com um cão de trela, seja responsável e coloque o seu de trela também.

É MUITO importante este respeito mútuo e responsabilidade dos donos de cães, principalmente de forma a salvaguardar o bem-estar e segurança de todos os cães.

sábado, 12 de novembro de 2011

Carta à SIC acerca do programa “O Encantador de Cães”

Quando o programa de Cesar Millan surgiu na SIC no programa da manhã de fim-de-semana, treinadores e especialistas da área do bem estar e comportamento animal em Portugal juntaram-se e escreveram uma carta expressando as preocupações e oferecendo alternativas. Infelizmente o programa prossegue na televisão.

A liberdade de cada um decidir que tipo de métodos aplicar no treino e educação do seu cão é imperativa, no entanto, é dever dos profissionais conhecedores da ciência da aprendizagem, bem-estar animal e comportamento canino informarem as pessoas para que possam fazer escolhas informadas e que sejam as melhores para os seus cães.

Algo que este programa falha redondamente em fazer nunca mencionando as dificuldades e possíveis consequências físicas ou comportamentais na aplicação destas técnicas, nem frisando os perigos inerentes ao uso de técnicas coercivas.

Acima de tudo, o programa é apresentado dentro da programação infantil, sujeitando as crianças a algo que não entendem e que irão replicar junto dos seus animais de estimação.

Em 2009 a Universidade da Pennsylvania publicou um estudo(1) efectuado durante um ano no qual avaliava o resultado da aplicação de técnicas aversivas no tratamento de animais agressivos.

Megan E. Herron autor do estudo diz: “O nosso estdo demonstra como o uso de métodos confrontacionais, sejam estes, olhar fixamente para o cão, bater-lhes ou intimidação usando manipulação física, é pouco eficaz na correção de comportamentos e leva ao aumento das respostas agressivas.”

Antes de procurar a ajuda de um veterinario especialista em comportamento canino, muitos donos de cães tentam técnicas para modificar o comportamento dos cães duma variedade de fontes. As recomendações muitas vezes incluem uso de técnicas aversivas listadas numa pesquisa, todas susceptíveis de provocar comportamentos defensivos e agressivos.

Algumas destas técnicas incluem:

- Dar um pontapé ou palmada ao cão

- Rosnar ao cão

- Retirar á força algo da boca do cão

- alpha rollover (fisicamente forçar o cão a ficar de lado)

- forçar o cão a deitar-se

- Agarrar no cachaço do cão e abanar

O uso comum destas técnicas nasce da ideia de que agressão tem raíz na necessidade de dominância social por parte do cão ou da falta de dominância social expressa pelo dono. Os proponentes desta teoria sugerem que o dono estabeleca um papel de “alpha” ou “líder da matilha”.

O propósito do estudo desenvolvido foi o de avaliar das consequências comportamentais e os riscos de segurança das técnicas historicamente usadas pelos donos de cães com problemas de agressão. Os veterinários concluíram no estudo que os animais continuam a ser agressivos a não ser que exista uma mudança na escolha das técnicas usadas.

O estudo que foi publicado na revista da Applied Animal Behavior Science também demonstra que o uso de técnicas não confrontacionais ou neutras tais como o aumento do exercício físico e o uso de recompensas e técnicas baseadas no reforço positivo originam muito poucas respostas agressivas e tendema ser mais eficazes no tratamento de problemas de agressão.

A Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal (AVSAB) diz numa carta(2) aberta à Merial acerca dos métodos usados no programa Encantador de Cães:

“No seu melhor o programa entertem mas é enganador para a maioria dos donos de cães. As técnicas usadas pelo senhor Millan e a falta de informação contribuiram para o aumento da agressão e ansiedade ou resultaram em danos físicos quer para o animal como para os donos. Como veterinários praticantes todos nós infelizmente vimos casos destes com frequência.”

O Colégio Americano de Veterinários Comportamentalistas (ACVB), a Sociedade Veterinária Americana de Comportamento Animal (AVSAB) e a Sociedade de Técnicos Veterinários de Comportamento (SVBT) todos já falaram uniformemente contra as técnicas baseadas na punição aplicadas pelo Sr. Millan no seu programa de televisão “O Encantador de Cães”.

De acordo com um estudo publicado em 2009 (3) por académicos do Departamento de Ciências Clinico Veterinárias da Universidade de Bristol as relações individuais dos cães não são motivadas por um desejo de manter uma posição social num hierarquia, como transmitido no programa “O Encantador de Cães”.

Longe de serem úteis os académicos concluem que programas cujo objectivo é diminuir a dominância do cão vão desde inúteis na resolução de problemas comportamentais a serem mesmo perigosos e a piorarem os comportamentos agressivos a longo prazo.

Técnicas mostradas no programa como segurar o cão no chão, agarrar no cachaço do cão ou no seu focinho, ou fazer soar algo na cara do cão na grande maioria das vezes torna os cães ansiosos quanto ao comportamento das pessoas, escalando o comportamento de agressão defensiva.

A Dra Rachel, oradora sénior na Universidade de Bristol na área de Bem-estar e Comportamento de Animais de Companhia diz: “A própria ideia de que o comportamento dos cães é motivado por um desejo inato de controlar pessoas e outros cães é francamente ridícula. Subestima grandemente as capacidades comunicativas complexas e capacidade de aprendizagem dos cães. Essa ideia leva também ao uso de técnicas coercivas nos cães, que por sua vez comprometem o bem-estar dos animais e aumentam os problemas comportamentais”.

O Doutor Nicholas Dodman, Professor e Director do departamento de Comportamento Animal, Director da Clinica Veterinária de Comportamento na Universidade de Tufts e da Escola de Medicina Veterinária de Cummings diz acerca das técnicas do programa:

“As técnicas usadas pelo Sr. Millan são baseadas no flooding e na punição. Os resultados, embora aparentemente imediatos serão apenas transitórios. Os seus métodos, são ultrapassados e desactualizados e em muitos casos perigosos e desumanos. Você não quereria nenhum cão debaixo da sua esfera de influência. O mais preocupante é que os espectadores não conseguem ver os erros na forma como ele actua. Nós escrevemos ao canal da National Geographic e acusamo-los de atirarem o treino de cães vinte anos para trás.”

A Drª Sophia Yin, médica veterinária especialista em bem-estar e comportamento animal diz:

“Virtualmente há mais de 15-20 anos atrás todos os treinadores começavam a treinar usando os métodos demonstrados no programa “O Encantador de Cães”. A maioria dos cães eram treinados usando as mesmas técnicas que ele usa. Como resultado disso hoje em dia temos experiência e conhecimento para sabermos quais as consequências que o uso dessas técnias originam e porque é que outras técnicas funcionam melhor”.

A Associação Internacional de Consultantes de Comportamento Animal (IAABC) diz acerca do programa “O Encantador de Cães”:

“O programa tem um aviso que indica que ninguém deve replicar as técnicas usadas pelo Sr. Millan. AS crianças não irão entender este aviso.”

Em Portugal este programa está incluído dentro do horário de programação infantil e como tal os pais não vão perceber a necessidade de supervisionarem o visionamento do programa por parte das crianças. Vários estudos já demonstraram que o comportamento das crianças é directamente inlfluenciado por aquilo que vêem na televisão. AS técnicas usadas no programa podem levar a danos sérios. O próprio Sr. Millan foi já mordido em váriados episódios. No programa podemos ver

  • Uma criança de 10 anos a passear um Rottweiler de 70 Kgs
  • É pedido a uma criança que ande de skate perto de um cão com um longo historial de atacar agressivamente skates
  • É pedido a uma criança que se deite por baixo de um obstáculo de agility enquanto um Pastor Australiano com um historial medo a crianças salta por cima dela.

No programa também podemos ver o Sr. Millan a explicar como se usa uma coleira de choques, a levantar cães pelo cachaço e a levantar cães no ar seguros por estranguladoras. Uma criança que veja o programa pode facilmente replicar estas e outras técnicas em casa com os seus animais.

Estes são apenas alguns dos profissionais e grupos de profissionais que se expressam as preocupações que surgem no uso das técnicas empregues no programa. A escolha de passar este programa é uma baseada pura e unicamente na máquina de marketing que está na base do programa e no dinheiro que origina do mesmo. O bem-estar dos animais e/ou educação dos donos nunca foi objectivo na escolha do programa, ou todos estes profissionais não seriam ignorados.

Mais preocupante é que a SIC tenha escolhidos de forma negligente passar este programa num horário em que será visionado por crianças, com todas as consequências graves que daí advêm e sem se querer responsabilizar pelas consequências dessa decisão.

É com preocupação que peço que a SIC ouça estes profissionais, e que na pior das hipóteses retire o programa do horário em que se encontra de momento, dessa forma activamente salvaguardando o bem-estar de milhares de crianças e dos seus estimados animais de estimação e na melhor das hipóteses demonstre que realmente se interessa pelo bem-estar dos animais e educação activa e eficaz dos seus telespectadores e cancel o programa. Se a necessidade de um programa de treino de cães se demonstrar tão pronunciada programas de extremo sucesso televisivo como “Its me or the Dog” da Victoria Stillwell ou “Dogtown” podem se revelar alternativas viáveis e que não levantam preocupações quanto ao bem-estar e segurança quer dos animais, quer dos seus donos e companheiros humanos.

Atentamente

Claudia Pereira Estanislau, DTBC, IPDTA-CDT

(1) http://www.upenn.edu/pennnews/news/if-youre-aggressive-your-dog-will-be-too-says-veterinary-study-university-pennsylvania

(2) http://www.facebook.com/note.php?note_id=90029578219&id=44964919559&ref=share

(3) http://www.bristol.ac.uk/news/2009/6361.html

Para informações adicionais:

  • http://caosciencia.blogspot.com/2008/06/controvrsia-do-dog-whisperer-cesar_27.html
  • http://beyondcesarmillan.weebly.com/
  • http://www.nonlineardogs.com/

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sinais de Calma de Turid Rugaas



O livro "Sinais de calma" da Turid Rugaas já está à venda em português. Super aconselhamos!

Pode comprá-lo AQUI

"Muito já foi escrito sobre cães, como comunicam, o treino de cães… o que parece incrível é que ainda possam surgir livros tão interessantes e, de alguma forma, tão originais como este.
A leitura deste livro é interessante e divertida. É como redescobrir, de uma forma intuitiva, o que sempre soubemos."

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ganhe um curso para treinadores da Its All About Dogs!

A Its All About Dogs decidiu lançar um novo desafio!

O prémio é: um CURSO PARA TREINADORES DA ITS ALL ABOUT DOGS!

Para ganhar o prémio precisa de enviar um video com o máximo de 3 mnts no qual deve explicar porque gostaria de aprender a treinar cães, no que usaria o conhecimento adquirido e porque é que gostaria de tirar o nosso curso. Durante esses três minutos convença aqueles que o vêem que o curso será melhor usado, aplicado e aproveitado por si!

Os videos devem ser enviados para a itsallaboutdogs@hotmail.com escrevendo no sujeito “Competição Curso para Treinadores- (o seu nome)”.

Todos os vídeos recebidos até ao dia 27 de Novembro – Domingo ás 00:00 serão postados na página do Facebook da Its All About Dogs ao mesmo tempo na segunda-feira. Durante 3 dias até dia 30 de Novembro às 00:00 os três videos que tiverem mais “likes” qualificam-se para o prémio final.

Mas sejam criativos lembrem-se que dos três vídeos que tiverem mais likes eu irei seleccionar aquele cujo protagonista ganhará o CURSO PARA TREINADORES DA ITS ALL ABOUT DOGS. O vencedor será anunciado dia 01 de Dezembro na página de FB da Its All About Dogs.

sábado, 5 de novembro de 2011

"Tinha que ser..."

“TINHA QUE…”

por Suzanne Clothier
http://www.suzanneclothier.com/blog/i-had

Link

Existem poucas frases que realmente me irritam. Quando converso com treinadores, aquela que imediatamente instiga uma reacção em mim é aquela que explica porque é que um treinador usou uma técnica ou um equipamento de treino específico com “tinha que..”.

Quando pedimos para que expliquem melhor porque “é que tiveram” que usar a maioria das vezes descobrimos que outras opções estavam disponíveis, mas a escolha do uso daquela técnica ou equipamento foi feita por motivos tais como “A aula estava quase a acabar” ou “o cliente estava impaciente/frustrado” ou “já tinha tentado tudo o resto” (a sério?) e muito mais desculpas que não estão relacionadas com a cuidadosa análise do cão, do comportamento, da situação ou da metodologia de treino. Pior que isso, o treinador parece tentar encontrar justificações que levem a crer que foi o animal que deixou o treinador sem opções.

Isto sempre me aborreceu, e lembrava-me sempre de algo mais mas não conseguia perceber bem o quê até recentemente quando lia um romance. A esposa era abusada pelo marido e este justificava o seu comportamento dizendo que tinha sido ela que tinha provocado aquilo porque ela não tinha (preencha o espaço vazio – obediente, atenciosa, bonita?, etc..).

Existem situações nas quais o uso da força usado em defesa própria ou para defesa de outro ser vivo indefeso é justificável. A nossa lei criminal permite estas transgressões mas mesmo assim coloca em todos nós a responsabilidade de usar todos e quaisquer outros meios disponíveis antes de usar a força. Seria mesmo bom que treinadores de cães também começassem a ser responsabilizados pelo uso de aversivos e da força. Eu pergintp sempre o que mudaria se os treinadores tivessem que justificar as suas acções, incluindo promenores das opções existentes, ponderadas e aplicadas e aquelas que nem sequer foram tentadas.

O exemplo mais comum é aquele treinador “positivo” que aparece com uma enforcadora de bicos no seu cão que “está muito excitado”. Observar o cão puxá-los para dentro do seminároi, eu observo como eles (os treinadores) são contribuidores activos no processo. Afinal de contas, são precisos dois para casar e dois para puxar. Os cães quando estão sem trela nunca puxam. Mas vejo um treinador a segurar uma trela que é um instrumento que o liga ao cão e ouço constantemente “Bem, eu não gosto de usar este tipo de coleiras mas ele é tão eléctrico que eu tive que usar”. O que fica na mesa como outras opções para o cão que puxa nunca é mencionado: reforço positivo, consistência das expectativas que temos do cão de trela, treino, manuseamento apropriado da trela para evitar os puxões do dono, ensino de auto controlo, etc..

Sempre que uso força, faço três coisas:

1. Estar o mais ciente possível que usei força. Eu chego mesmo a dizer a mim própria que usei força e faço uma nota mental para rever esta escolha promenorizadamente. Assim que posso eu...

2. Pergunto a mim mesma porque considerei necessário o uso de força. Por vezes é puramente de forma defensive ou a única solução naquele momento preciso em que fui apanhada de surpresa ou o animal fez algo completamente inesperado e potencialmente perigoso para ele mesmo, para mim ou para os outros que estavam perto. Por vezes, estou com muito pouca paciência e perco a minha noção de justeza. Seja como for, eu tenho que me responsabilizar. Eu levo o provérbio “onde acaba o conhecimento, começa a violência” muito a sério.

3. Eu pergunto a mim mesma, como é que me meti nesta situação. Será que excedi o limite do animal. Ignorei os seus sinais de aviso, violei a necessidade de segurança do animal, ultrapassei um treshold (limite)? Será que pus o animal numa situação para a qual os seus conhecimentos e capacidades eram insuficientes para saber o que fazer? Será que ignorei algum comportamento anterior que claramente indicava que esta situação poderia acontecer ou repetir-se? Seja qual for a resposta, a solução reside em reconhecer e identificar onde é que eu errei. Não o animal. Os animais que se sentem seguros, que são mantidos abaixos dos seus limites de reacção, que não enviam sinais de aviso, que sabem como cooperar e cujas capacidades e conehcimentos lhes permite lidar com as situações - estranhamente esses nunca precisam que ninguém use força neles. Estranho....

Eu sou o advogado de defesa, o juri e o juíz tudo num só incluído no papel de treinador e sou também o réu a ser julgado pelas decisões que tomo. É um tipo de Paw & Order, porque por vezes existem também detectives envolvidos que recolhem todo o tipo de provas que serão trazidas ao tribunal. Se eu ignorei algum comportamento no passado que me iria fazer antever a resposta do animal, então o advogado perguntará firmemente, “Porque é que decidiste ignorar a informação que tinhas ao teu dispor?”. O meu advogado de defesa não vai ter muito a dizer nessa altura. Se eu ignorei sinais ed aviso, por vezes o meu advogado de defesa pode alegar simples incompetência ou que simplesmente não estava suficientemente familiarizada com este animal em particular para saber ler correctamente os seus sinais. Tendo aprendido a minha lição e depois de pedir desculpas, vou em liberdade mas condicional porque todos os envolvidos têm a certeaza que não voltarei a repetir o mesmo erro. Os erros cometidos por causa de julgamentos errados são ofensas usualmente desculpáveis, desde que eu não seja levada a tribunal pelo mesmo erro. Todas as ofensas passadas podem ser trazidas a tribunal. Não existe a protecção do caso já jugado- Eu acho que é uma excelente ideia que um treinador se mantenha honesto acerca dos erros que cometeu no passado e no presente. Mantém-me uma pessoa honesta.

Substituir a frase “eu tive que…” por “eu escolhi…” coloca a responsabilidade onde ela pretence: no treinador que tomou a escolha de usar aquele equipamento ou técnica. Ajuda-nos a recordar que ao fazermos essa escolha, por definição estamos a excluir as outras possibilidades. Quando usamos força, precisamos de ser extremamente claros e admitir que estamos a descartar outras opções, outras possíveis soluções, também podemos estar a limitar aquilo que conseguimos fazer ao não tentar opções diferentes.

Há muitos anos atrás enquanto tentava demonstrar algumas técnicas para ensinar os cães a andarem de trela sem puxar, durante um seminário, começei a ficar exasperada com um Labrador jovem. Clancy tinha saltado e batido com a cabeça na minha cara com força não uma mas duas vezes, fazendo com que visse estrelas e realmente magoando-me. O Clancy não era malicioso, nem queria magoar-me ele era apenas um adolescente exuberante que tinha aprendido que saltar daquela forma era aceitável. Tendo ele mesmo pouca sensibilidade física, duvido que por um segundo ele se tenha apercebido que aquelas cabeçadas eram extremamente dolorosas para o humano. Eu tinha até ali sido bastante paciente, calma e vagamente bem sucedida mas à segunda cabeçada a minha paciência começou a acabar. Eu comecei a pensar “uma boa correçao pode acabar com isto”. Surpreendi-me a mim mesmo ao pensar isto, mas ainda me choquei mais (e algumas pessoas na audiência) quando pedi permissão explicita ao dono para aplicar uma correção física ao cão. Ela concordou, confiando em mim como treinadora que faria o que seria melhor para o cão.

No momento em que ela concordou deixar-me usar força no cão dela eu supreendi-me a mim mesma quando ouvi uma pequena voz dentro de mim a desafiar-me a ir mais longe e ajudar este cão SEM usar força. Era como se alguém tivesse atirado o testemunho aos meus pés. Faz isto sem força, sem ego, sem justificar o uso da força.

Enquanto o debate interno ocorria, eu decidi tentar e ver até onde conseguia ir antes de usar a força. Estava bem claro dentro de mim que o uso da força era uma escolha que eu estaria a tomar, e não algo que eu tinha que fazer. Eu perseverei na aplicação minuciosa de técnicas que tinha usado já antes em imensos cães, uma aproximação positivo que não envolvia o uso de intimidação ou força e que procurava controlar a mente e não o corpo do cão. Eu nunca cheguei a usar a força com o Clancy; e consegui ajudá-lo a encontrar uma nova forma de andar à trela. A sua resposta anterior não era mais do que uma originada pela falta de conhecimento e capacidades. Como é que poderia justificar o uso da força num cão cujo único crime era não ter sido ensinado o que fazer?

Muitas poucas pessoas na audiência me teriam culpado caso eu tivesse usado a força. Elas tinham testemunhado as cabeçadas que tinha levado. Elas tinham visto à quanto tempo estava ali a tentar, como se existisse algum tempo específico que depois de passado justifica o uso de força. Isto em particular deixa-me muito triste porque ensinar outros treinadores a serem pacientes é algo que tento fazer através do meu trabalho – e à conta do que aconteceu quase enviei a mensagem oposto ao quase fazer o que “tinha que..”. Na verdade, mais tempo, mais paciência e fatias finas de salsicha resultaram lindamente, aliás com sempre. A minha voz interior responsabilizou-me, ajudou-me a encontrar a paciência necessária e a olhar claramente para que o que aquele cão precisava para ser bem sucedido.

Eu penso muito no Clancy. Tenho-o comigo há anos no meu coração e aí irá permanecer. Eu irei continuar a ver a confiança da sua dona nas minhas capacidades como treinadora e a ver os olhos brilhantes e confiantes do Clancy. Aquela voz interior que me responsabilizou é a que me desafia a encontrar novas formas de manter aquele brilho nos olhos, em todos os olhos que me fitam. É o meu trabalho não trair a confiança dos cães. Eu responsabilizo-me pelo que escolho fazer, e isso nunca pode ser explicado com uma frase como “tive que...”.