quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Argue your standpoint regarding the domestic dog as an inherently pack oriented animal for training purposes.

Artigo por Olwen Turns traduzido na totalidade e retirado da sua página de Facebook aqui

A primeira questão a ser respondida é se os cães são ou não animais orientados a formarem matilhas.

O comportamento canino não comprova que os cães têm o mesmo comportamento social de matilha como os lobos e que este mudaram e evoluíram para um nicho diferente (Coppinger 2001). É também sugerido que os cães e os lobos são dois ramos do mesmo antecessor e que um não descende do outro como temos as raposas de Belyaev para provar o quão rápido a diversificação ocorre (O’Heare). A formação de matilhas nos cães domésticos parece ser uma excepção e não uma regra (Eaton and Van Kerkhove and O’Heare). Cães são animais sociais, eles brincam uns com os outros, com outros animais e com humanos, eles podem sofrer de ansiedade por separação se deixados sózinhos (O’Heare). Os cães domésticos não têm necessidade de formar matilhas uma vez que as suas necessidades são colmatadas mas têm a capacidade de viver em grupos sociais enquanto se ocupam das suas tarefas individualmente. Se não existe, no entanto, motivo para os cães formarem matilhas, também não existe um motivo para tentarmos ser o “alpha”. Enquanto aceitarmos os cães na nossa família humana eles nunca poderão relacionar-se com os humanos como se estes formassem parte do seu grupo por causa do processo chamado imprinting que ocorre durante as primeiras semanas de vida de um cachorro. Matilhas tendem a ser conspecíficas (Eaton). Por outro lado, dizem-nos que os cães anseiam ter um líder na sua matilha e aceitam um ser humano nesse papel (Holmes).

Também temos que responder à questão em que consiste a teoria da matilha, quais são as regras, de onde vieram? Na sua apresentação no simposium realizado pela UKCRB em 2009 o Dr. David Montgomery afirma que ele nunca encontrou ninguém que possa confirmar de onde originou a teoria da matilha, onde está publicada ou em que factos se baseia.

Sugere-se que a teoria origina dos estudos feitos a lobos em cativeiro por Rudolph Schenkel referenciados no livro “The Wolf: Ecology and Behaviour of an endangered species” escrito por David Mech (Mech 2008). Semyonova acredita que a teoria da matilha é resultado da crença de que os cães fazem tudo igual aos lobos (Semyonova 2009), outra proposição é que a teoria da matilha tem sido usada como justificação para uso de aversivos no treino e que qualquer desobediência por parte do cão acontece apenas porque o humano não é o alpha da matilha (Donaldson 2005).

David Sands diz num artigo na Dogs Monthly Magazine (Dezembro 2009) que existem muitos factores que influenciam o comportamento canno, incluindo a personalidade da mãe, a procriação, genética, dieta, sociabilização e saúde. Sue Hull na conferência da UKRCB em 1998 conta a sua experiência aquando da criação de um lobo bebé durante a qual ela mencionou que os lobos e cães são muitos parecido e muito diferentes. Ela afirmou que um lobo para se tornar apto a estar perto de pessoas precisa de ser retirado da mãe antes dos 21 dias de idade. Ela comentou que a maior diferença entre os cães e os lobos é que os primeiros nascem com os conhecimento de como se comportar perto de pessoas, algo que os lobos não detêm.

Durante os anos 80 e 90 a literatura acerca dos cães e dos programas de redução de status tornaram-se populares; assumindo que o cão queria ser dominante causava problemas (Eaton). A dominância nos lobos consiste em eliminar a ameaça que outro lobo possa apresentar no que toca à prioridade de procriar e incorpora uma série de rituais (Abrantes 1997), o conceito de dominância nos lobos nunca poderia ser aplicado aos animais de companhia que temos em casa e as pessoas não estão anatomicamente equipadas para imitar os rituais nomeados anteriormente (Eaton).

Muitas pessoas afirmam que a dominância nos cães trata-se do controlo de recursos, para entender esta afirmação, temos que pensar que recursos são esses; comida, água, refúgio e outras coisas dependendo do cão, do ambiente que o rodeia e se o cão pode na realidade controlá-los (Eaton).

A lista de regras da matilha é inconsistente mas geralmente inclui, não permitir o cão na mobília, não deixar que se deite em frente às portas, não deixar que começe ou termine brincadeiras ou não deixar que puxe na trela; comer sempre antes do seu cão, passar nas portas, conseguir mexer na comida enquanto o cão come e colocar o seu cão deitado (alpha roll) (Eaton e Semyonova).

Se analisarmos as regras uma a uma, é possível analisar como nenhuma delas está relacionada com lobos ou cães e como os humanos não conseguem imitar comportamento canino (Eaton e Semyonova). Por exemplo, comer sempre antes do seu cão não é prático nem possível e envia mensagens confusas se você não o fizer sempre (Eaton).

As pessoas podem ensinar os cães a comportarem-se como querem usando condicionamento operando e reforço positivo e os cães podem aprender como usar o condicionamento operante para manipular o seu ambiente e obterem o que dele querem (O’Heare).

Concluindo, os cães não são por natureza animais de matilhas, as regras de matilha são baseadas em comportamentos caninos que não conseguimos imitar; cães têm relacionamento conspecíficos, e nós damos aos cães tudo o que eles precisam, estes adaptam-se a viver numa estrutura social e fazer o que consideram recompensador; é possível ensinar os cães a comportarem-se usando métodos motivacionais, condicionamento operante e reforço positivo (Eaton) o uso desta teoria é na sua essência nada razoável.

Preconceitos

- Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito. (Albert Einstein )



sábado, 12 de fevereiro de 2011

Análise do primeiro episódio do Encantador de Cães













Para ver o episódio aqui fica o link para o mesmo em ESPANHOL
  • Minuto 1:44 situação pré-preparada para atiçar o cão à câmara
  • Minuto 1:56 câmara atiça mais uma vez o cão numa situação pré-preparada
  • Minuto 2:01 uma mão de um estranho (quem é) é deliberadamente oferecida ao cão atiçando-o enquanto a dona deliberadamente pega no cão ao colo
  • Minuto 2.11 a companheira de casa da dona, deliberadamente pega no cão ao colo sabendo que ele iria reagir mais uma vez numa situação pré-preparada
  • Minuto 2:16 dona descreve que o cão quando sózinho demonstra uma linguagem de medo e foge (não ataca) – “ele põe a cabeça para baixo, rabo entre as pernas e foge para o meu quarto”.

o César Millan é apresentado como a última esperança de reabilitação do Nunu

o César questiona a dona, com perguntas fechadas: “ele é territorial, dominante, agressivo, nervoso, medroso?” este tipo de perguntas estipula já uma determinada resposta

o Minuto 3:32 Nunu está no sofá com a dona e o César e começa a cheirar os objectos que César carrega. Não demonstra agressividade nenhuma.

o Minuto 3:47 César explica que o Nunu está nervoso e que fazer festas é reforçar esse “estado de mente”. Fazer festas num cão medroso pode de facto intensificar o medo que este sente, mas o medo não é um estado de mente, é um sentimento e a agressividade é um comportamento expresso pelo Nunu quando o sente.

o César explica que não cumprimentou o cão porque ele precisa de o cheirar antes de o ver ou ouvir. O Nunu viu, ouviu o César muito antes de o ir cheirar perto.

o Ao minuto 4:47 César abraça a dona enquanto esta tem o cão no colo. Este não demonstra qualquer reacção.

o Aos 5 minutos César pede à dona para colocar o Nunu no colo dele. Quando a dona faz isto o Nunu não oferece qualquer comportamento agressivo, demonstra linguagem que conota ansiedade e desconforto. César que acabou de dizer que não se pode fazer festas quando o cão está nesse “estado” faz-lhe festas contradizendo-se.

o Quando o Nunu tentar sair do colo do César este agarra-o na parte de trás e o Nunu ataca

o Cesar descreve o processo de segurar o cão enquanto ele demonstra agressividade como sendo parte da dominância e dizendo que se ele (César) parar o cão ganha. Comportamento canino não é um jogo de futebol, onde existe um vencedor e um vencido. Comportamento altera-se não se ganha ou perde num jogo.

o A dona demonstrasse nervosa e nada à vontade com o que vê. Suscitar incómodo e sentimentos negativos nos donos não ajuda de forma nenhuma à mudança comportamental do cão nem ao relacionamento cão-dono.

o Minuto 5.30 quando Nunu tenta libertar-se mordendo a mão de César, este agarra a pele com força na parte traseira não largando - Flooding

o Minuto 5:34 volta a coloca-lo no colo, Nunu oferece imensos sinais comunicativos de apaziguamento e calma (lamber constante dos lábios)

o 6:23 César continua a segurar o Nunu à força no seu colo, a dona está ao seu lado extremamente tensa e chora, a sua companheira de quarto também está a chorar

o Enquanto elas limpam as lágrimas César diz que as pessoas não podem fugir, ter medo ou ficarem nervosas que isso apenas irá intensificar o comportamento indesejado, no entanto as acções de César colocam ambas as mulheres num estado de nervos tal que ambas estão nervosas tensas e a chorar, o que segundo ele só intensifica o comportamento do cão.

o 6:49 César diz que o Nunu está a desistir – learned helplessness ou em português desamparo aprendido

o 6:52 Cesar explica que a mão é como uma boca e que os dedos são como dentes e que quando ele toca no Nunu que o está a morder – os cães sabem muito bem o que são dentes e o que são mãos!!!

o Ao minuto 7:00 Nunu volta a demonstrar agressividade, César explica que quanto mais ele fizer aquilo melhor é para deixar de demonstrar o comportamento depois segura-o pelo pescoço apertando-o.

o Passa a explicar que no mundo natural outro cão chegaria e o poria no chão como ele o está a fazer no sofá e explica que como nenhum humano lhe fez isto antes ele nunca se submeteu aos humanos antes. O mundo natural dos cães é junto das pessoas como animais de companhia e estimação. Nenhum cão força outro no chão como manobra de submissão, essa manobra conhecida por alpha rollover, não existe no mundo dos cães, nem no mundo dos lobos. Factos podem ser comprovados nos últimos estudos feitos por biólogos a lobos e veterinários a cães.

o Ao minuto 7:41 enquanto segura o cão de lado César diz que não está a usar força que é um toque psicológico

o Ao minuto 8:00 depois de Cesar o largar o Nunu tenta chegar à dona mas o caminho é bloqueado. O Nunu caminha por cima do sofá com as orelhas para trás coladas a cabeça, corpo rente ao chão e cauda completamente virada para baixo – expressão de muito medo.

o Ao minuto 8:34 Nunu vai para um cadeira continuando a demonstrar uma linguagem extremamente medrosa (meia-lua dos olhos, semi-cerrar dos olhos, orelhas para trás)

o César explica que acabou de convidar o Nunu a viver no reino da dona mas mais tarde no minuto 9:39 já afirma que o dono do reino dela é ele (César).

o Aos 8:44 minutos César leva o Nunu à rua. O Nunu encontra-se numa trela , orelhas para trás, olhos semi-cerrados, lambendo os lábios e com o corpo tenso e pesado (sinal comunicativo de desconforto e medo)

o Ao minuto 9:39 César entra no quarto da dona e senta-se na cama. A dona diz que normalmente o Nunu teria atacado qualquer pessoa que se sentasse na cama dela.

o “Ele não tem medo de mim” – Nunu demonstra sinais claros de medo durante todo o programa, particularmente em relação a César Millan.

o Aos 10 mnts a dona e a companheira de quarto encontram-se deitadas na cama enquanto César fala com elas. O Nunu está na cama também atrás delas a roer um peluche. Não tem qualquer reacção. Apesar de não termos vistos nenhuma das duas fazer absolutamente nada com o Nunu, este não demonstra nenhuma agressividade.

o Minuto 10:50 passados alguns dias vemos os três sentados à mesa. César tem o Nunu ao colo, ele está com as orelhas para trás coladas à cabeça, corpo tenso e encolhido, oferecendo meia-lua dos olhos (sinal comunicativo de desconforto e medo)

o Ao minuto 10.55 Nunu está seguro apenas com uma mão, com as patas em pleno ar, lambe repetidamente os lábios em sinal de desconforto. César explica como elas devem imitar a mão que morde e demonstra no próprio cão enquanto ele não está a fazer absolutamente nada.

o Aos 11 minutos a dona explica que aquilo que aprendeu foi que tem que dominar mais o cão ao invés de deixar o cão dominá-la a ela. Dominância não existe inter espécies, e não se exprime através de comportamentos de medo.

o Não vemos o problema resolvido...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Porque é que a dominância não morre??

Este artigo foi traduzido na totalidade do artigo com o título ""Why won't dominance die?" publicado no website da Association of Pet Behaviour Counsellors. Queria deixar um agradecimento especial à Inês da Doggy Palooza pela ajuda na tradução do texto.


Uma versão editada deste artigo apareceu no Veterinary Times, volume 40, nº 7 de 22 de Fevereiro de 2010, com o título “O Meme da Dominância” de David Ryan.

Muitos comportamentalistas animais estão preocupados porque o modelo da dominância nos cães persiste, apesar das provas acumuladas de que este é, na melhor das hipóteses, inútil, e na pior, extremamente nocivo.

É fácil entender porque é que tanto treinadores como donos gostam do conceito de “matilha” e “dominância” em relação aos cães. Um matilha significa que somos todos parte do mesmo grupo. “Dominância” explica as nossas respectivas posições dentro do grupo. Nós vivemos numa matilha com os nossos cães e, das duas uma, ou eles nos dominam ou nós os dominamos. Estar no topo da matilha com total dominância faz de si o Alfa com todo o poder que isso implica, assim, os cães tentarão dominar a não ser que os domine primeiro.É uma explicação simples. Excepto que nada disto obedece na realidade a qualquer escrutínio cientifico.

O professor Richard Dawkins descreveu ideias que se auto replicam como sendo “memes” que passam de uma pessoa para outra sem outro motivo para além de serem populares ou engraçadas. Algumas são inócuas, como aquela música irritante que odiamos mas que não nos sai da cabeça, outras podem ser realmente nocivas como a ideia de que as vacinas combinadas da rubéola e sarampo causam autismo, o que continua a impedir que muitas crianças beneficiem da protecção que essas vacinas oferecem.


A teoria da “matilha” e “dominância” dos cães domésticos é uma meme nociva. Evita que muitos donos entendam os seus cães, causa miséria absoluta para ambos e é perpetuada por bem intencionados, mas mal informados, treinadores por todo o mundo. Está provado que é extremamente resistente à extinção.

Esta meme foi orig
inada pela teoria dos anos sessenta de que “os cães são lobos” que assenta na premissa de que se o cão é da mesma espécie que o lobo, logo ambos se comportam da mesma forma. O conhecimento dessa altura baseava-se no livro “O Lobo”, de David Mech, que dizia que os lobos formavam matilhas e que se dominavam uns aos outros, como tal os cães também deveriam formar matilhas e dominarem-se uns aos outros.

Os conceitos de dominância e alfa entraram firmemente na
imaginação não só do público mas também da comunidade cientifica. Como treinador de cães polícia nos anos 80, regularmente tentei “dominar” os meus cães usando o melhor modelo cientifico oferecido na altura.

No entanto, à medida que a ciência avança o nosso ponto de vista muda e, no caso do Dr. Mech, como ele próprio aponta no seu artigo “Whatever happened to the term alpha wolf”, escrito em 2008, estudos mais rigorosos de lobos selvagens revelaram que o seu comportamento social está centrado na unidade familiar, na coesão e na cooperação, ao invés do conflito. Uma luta por dominância dentro da matilha significaria tomar o lugar de um dos pais para poder procriar com o outro.

O modelo que explica a suposta luta pela dominância e aquisição do status de alfa foi substituído por um onde os pais e irmãos mais velhos guiam e lideram os mais novos de forma a garantir o “pool” genético.
Em 1999, o Dr. Mech publicou o “Alpha Status, Dominance, and Division of Labor in Wolf Packs” no qual corrigiu as suas anteriores ideias. Declara que no seu livro “Wolves: Behaviour, Ecology, and Conservation”, de 2003, escrito por 23 autores e editado por Mech e Boitani, o termo “alfa” só é mencionado para explicar porque é que já não se aplica.

Ao mesmo tempo, foram desenvolvidos vários estudos acerca do cão doméstico que demonstraram que o seu comportamento social é diferente do dos lobos. O cão doméstico é uma versão neotenizada do seu antecessor, o lobo; que deu origem a uma nova a espécie que se aproveitava dos novos nichos ambientais criados pelas lixeiras dos povoados humanos. Estas novas condições eliminaram a necessidade de funcionarem como uma verdadeira matilha de lobos.

A cooperação na caça e nos cuidados com as crias são substituídas pela necessidade de cooperar com estranhos. Apesar dos cães se agru
parem à volta de recursos, não formam matilhas familiares coesas da mesma forma que os lobos. O conceito de dominância nunca foi uma qualidade individual mas, sim, o produto de um relacionamento.

Os etólogos determinam que um animal é dominante sobre outro se existir uma tendência de um deles deferir ao outro em vários encontros. Não posso nascer dominante tanto quanto não posso nascer chefe. Como não posso ser dominado se não o permitir, a dominância só pode ser resultado de uma deferência por outros.
As preferências serão estabelecidas durante os próximos encontros mas os relacionamentos entre os cães são complicados demais para serem definidos através de um simples “um individuo domina outro”.

Um relacionamento pacífico é aquele no qual cada individuo conhece as preferências do outro e defere de acordo com elas. Isto é muitas vezes descrito por potencial em manter o recurso, sendo que o aspecto mais importante é que é emergente, ou seja, não é o resultado de uma “dominância” pré programada.
O que vemos nos tão chamados cães dominantes é simplesmente um comportamento natural alterado através da aprendizagem. Por vezes, este comportamento é competitivo por natureza mas a maioria dos problemas relacionados com a dominância são apenas comportamentos que entram em conflito com as expectativas dos donos.

Estes comportamentos conflituosos são resultado das tentativas que o cão faz de assegurar algo que ele sabe que lhe irá dar um benefício emocional positivo – para facilitar acesso a uma recompensa ou evitar a
lgo desagradável. O modo como lidamos com a satisfação destas emoções é o que determina o nosso relacionamento com os cães. Qualquer cão pode ser colocado em qualquer ponto do continuum tímido/extrovertido que existe em todas as espécies. Nos indivíduos tímidos o comportamento que não vai de encontro às expectativas do dono é provavelmente intensificado pelo medo, nos indivíduos extrovertidos o comportamento é livre. A maioria do comportamento canino será uma mistura complexa destes dois extremos.

Esta complexidade é aumentada porque os nossos cães não vivem no seu estado original de necrofagos periféricos. Eles foram refinados através da criação selectiva para funções especificas tais como a caça, a guarda e o pastoreio. Através do enaltecimento destas características presentes no stock original, os humanos criaram cães cujo equilíbrio emocional depende da possibilidade de satisfazerem e exibirem , pelo menos até um certo nível, estas predisposições genéticas. Apesar destas características serem reduzidas durante a “domesticação” – a
procriação de indivíduos mais flexiveis e adaptados a uma vida como animais de companhia – do stock de procriação continuam a aparecer indivíduos nos quais o temperamento original de trabalho está fortemente representado.

Este pode ser uma predisposição para perseguir objectos em movimento, morder calcanhares, usar agressão para resolver conflitos, segurar algo na boca ou qualquer outra disposição típica da raça. A necessidade de efectuar estes comportamentos e a frustração quando não o conseguem fazer podem levar os cães a um conflito com os seus donos. A vida em família também pode ser extremamente inconsistente para um animal de estimação, e os cães podem focar-se no esforço em manter recursos que são extremamente importantes para eles mas não necessariamente para os donos.


A falta de consistência garante ao cão que ele é capaz de decidir o resultado de muitas interacções, por pequenas que sejam. Adicione os efeitos de uma personalidade extravagante ou tímida e ainda de outras predisposições inatas que precisam de ser satisfeitas e terá um cão extremamente resistente aos esforços do dono para controlar o seu comportamento.
Se este comportamento for catalogado como “dominante”, a solução que se oferece é dominar os cães e fazer com eles cedam à sua vontade. Isto muitas vezes envolve atirá-los ao chão e segurá-los ou abaná-los pelo cachaço.

Nos cães onde a falta de obediência é motivada pela frustração de não conseguirem satisfazer as suas necessidades inatas, ou cuja motivação é o medo (como o cão que desenvolveu o medo de ser deixado pelo dono) a aplicação destas ideias erradas de dominância irão aumentar a frustração e o medo e, com eles, a probabilidade do uso da agressão.
De um ponto de vista menos confrontacional, colocar-se em cima da cama do cão para lhe mostrar quem manda fará muito pouco para prevenir que este ladre quando o dono está ao telefone e, ao mesmo tempo, falha em resolver os motivos emocionais que estão na base do comportamento. Inquéritos científicos demonstram que o modelo da “dominância” não tem qualquer base.


Um estudo recente da Universidade de Bristol foi o último a tentar iluminar, senão o público em geral, pelo menos, os profissionais que ainda usam este modelo.
Então porque persiste? Em parte é a facilidade com que esta meme fica na nossa mente. Por outro lado, apesar da maioria dos melhores profissionais estar ciente que é inútil, não factual e até nociva, outros ainda a usam. Pode ser que existam interesses em continuar a promulgar a “dominância” – através da venda de livros e DVD’s – e uma relutância em mudar de opinião pelo embaraço de reconhecer o erro. No entanto, isto não deveria ser obstáculo para uma mudança informada; como disse Keynes, “ Quando os factos mudam, eu mudo de ideias. E você? O que é que faz?”

Ainda existem estudos publicados que nomeiam o conceito, tal como um estudo recente publicado pela Universidade de Córdoba. Existe um artigo ainda mais recente, escrito no Veterinary Times, em que se pede aos veterinários para praticarem medicina baseada em factos. O mesmo se aplica à modificação comportamental dos cães e o estudo de Córdoba é um bom exemplo. Uma avaliação crítica deste estudo mostra que parte do princípio de que “a agressão dominante é a forma de agressão mais comum”... Depois perpetua o erro permitindo aos donos que a definam através da escolha de duas fotografias onde mostram expressões de um cão “dominante” e um “medroso”. No final do estudo, num total de 30 referências, apenas oito são posteriores a 2000, e quatro delas s
ão do próprio autor. A análise dos dados também é básica e mostra associações ao invés de causa-efeito, no entanto, alguns profissionais ainda o usam para defender os seus pontos de vista. Em parte, ainda persiste porque “já alguém viu funcionar”.


É boa televisão ver alguém batalhar e dominar um cão. Infelizmente a televisão não é a vida real e mostra apenas interacções curtas nas quais o cão é forçado a submeter-se. Não é impossível para um dono “ágil” repetidamente forçar o seu cão a “submeter-se”, mas estas medidas desnecessárias e desagradáveis não são como a maioria dos donos quer viver com os seus cães.

Lamentavelmente, as altas audiências destes programas levam a que os avisos nos ecrãs de “não tente isto em casa” sejam muitas vezes ignorados.
O motivo final e provavelmente mais importante para a persistência da “dominância” é porque a sua desmistificação é relativamente recente. Diz-se que geralmente demora cerca de 20 anos para uma nova ciência entrar na consciência do público, mas o seu tempo chegou. Mais e melhores investigações estão a ser conduzidas e cada vez mais profissionais, tal como Keynes, mudam de ideias à medida que os factos mudam.


Mais membros do público se apercebem que existem melhores alternativas e cada vez mais pessoas se apercebem que, apesar da meme ser uma justificação fácil, não é na realidade muito satisfatória.


“Porque é que a dominância não morre?”. O uso deste modelo para explicar o comportamento canino está a morrer. Se as memes podem ter uma existência independente, estamos a assistir à morte desta, à medida que se tenta agarrar ao pouco que resta, existindo apenas nas mentes dos mais teimosos ou egocentristas. À medida que a onda de opiniões informadas se move contra ela, não existirão eventualmente mais locais onde se esconder.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Muito cuidado ao contratar um Adestrador Canino




A Ana Corina da Mãe de Cachorro escreveu um artigo chamado Muito cuidado ao contratar um Adestrador Canino, está muito bem escrito e alerta para muitas situações importantes. Uma leitura a não perder AQUI


deixo excerto:

"São comuns os relatos de cães agredidos por adestradores. Tais “profissionais” passaram por escolas nas quais a força bruta ainda é utilizada quando já está mais do que comprovado que inteligência, reforço positivo e paciência fazem maravilhas pela educação canina. Estes verdadeiros abusadores dão cursos eles próprios, perpetuando uma cultura de ignorância e maus-tratos que prospera por conta do desconhecimento das pessoas, que não sabem que tais métodos são criminosos e ultrapassados. Também há os clientes que são tão violentos quanto os ditos adestradores e os escolhem por acreditar que cachorro precisa apanhar para aprender ou fazer guarda."