quinta-feira, 30 de junho de 2016

NÃO QUEIRA UM CÃO DE GUARDA Por Claudia Estanislau

As pessoas adquirem uma certa raça ou um certo cão porque acreditam que eles serão bons “cães de guarda” ou porque querem um “cão de guarda”.

Mas o que é afinal um cão de guarda?

Ao longo dos anos tenho ouvido as perspetivas de diferentes pessoas acerca do que acreditam ser um cão de guarda. Algumas descrevem o cão de guarda, como um que vai atacar os ladrões ou pessoas que queiram fazer mal à família humana. Outros esperam que o cão adquira um sentido humano de moralidade e valorize objectos e que saiba protege-los. Outros descrevem um cão de guarda como um cão “mau” para todos os que se aproximem, menos as pessoas que são da família.

Um cão de guarda é, em geral, muitas vezes entendido como um cão que sabe a quem e quando demonstrar comportamentos agressivos – enquanto sabe também ser o cão mais sociável e amigável com todas as outras pessoas.

Aquilo que chamo cães de alerta, são a grande maioria dos cães que temos connosco. A maioria dos cães, ladram quando ouvem um barulho fora do normal dentro ou perto da propriedade. A maioria dos cães alerta, ladrando para algum movimento ou som fora do normal.

Tendo em conta estas duas distinções, garanto que a maioria dos cães (salvo raras exceções) são ótimos a alertar para algo suspeito que aconteça perto da sua casa. O problema está quando o humano pensa na questão da guarda, e essa sim precisa ser esquecida, porque tem implicações perigosas e muitas vezes irresponsáveis.

Objectificação dos cães

Os cães não são objectos que devem ser usados para nossa proteção. Eles são, tal como nós, animais sencientes, que se assustam, sentem medo e insegurança. Muitas vezes, os comportamentos agressivos veem exactamente desses sentimentos de insegurança, e acredito que ninguém queira o seu cão num pátio escuro à noite petrificado de medo a ladrar para todos os sons e movimentos enquanto a isso chamam de um “bom cão de guarda”.

É importante também reconhecermos que vivemos numa sociedade humana que tem pouca ou nenhuma tolerância para o comportamento agressivo de outras espécies, direcionado a pessoas. Na nossa sociedade é perfeitamente “normal” matarmos um animal que demonstre qualquer tipo de comportamento agressivo direcionado a pessoas, mesmo que seja em autodefesa. Portanto, quando adquirimos um cão com o intuito de que o mesmo possa algum dia causar dano a outra pessoa, estamos a brincar com a vida do cão.



Eu protejo os cães pois sou responsável por eles. Os tutores de cães devem estar ali maioritariamente para proteger os seus cães e não o contrário.



Os meus cães nunca ficam fora de casa quando saio. Se eu saio de casa, os meus cães ou cães que estejam comigo são colocados dentro de casa. Dessa forma eu evito que alguém os roube, envenene ou magoe.

Se eles estiverem dentro de casa, sei que estão não só mais seguros como mais confortáveis e sei também que se alguém se aproximar da casa, eles vão ladrar e que a pessoa vai conseguir ouvi-los. É muito mais difícil causar dano, envenenar ou deter um cão que está fechado dentro de casa. Como tal a sua casa e o seu cão, ficam muito mais seguros se o seu cão estiver dentro e não num jardim, preso num canil ou preso numa corrente (cães presos a correntes não protegem absolutamente nada para além de ser uma prática criminosa e abusiva).

Eu sempre aconselho as pessoas que questionam acerca de qual o melhor cão de guarda, a adquirirem a raça alarme. Os alarmes são, sem sombra de dúvida, os melhores detentores de ladrões ou pessoas com más intenções. Um cão, por outro lado, é um amigo, um companheiro, parte da família, um animal com sentimentos, e não deve ser usado como um objeto, como um alarme ou uma pistola.

Infelizmente a história fala de cães que foram usados durante séculos como cães de guarda, claro que falamos de centenas de anos atrás, quando quase todos os cães tinham uma tarefa dentro da nossa sociedade e onde o companheirismo era raro.
A “guarda” de que tantos falam, era muitas vezes ligada à guarda de animais que eram transportados para as feiras, por exemplo, guarda de gado, de ovelhas, de animais que eram a subsistência da família. Este historial infelizmente, ainda é extrapolado para o presente, apesar de nada do passado ter referência hoje em dia, nem o que fazemos, nem o papel que os cães desempenham na nossa vida. Muitos treinadores e criadores tentam vender aos tutores a ideia bizarra de que certas raças serão óptimas para proteger os seus filhos e propriedade e isso deveria ser proibido num país onde existem leis que têm como intuito evitar acidentes de mordidas entre cães e pessoas. É um contrassenso e uma boa e gorda mentira.

Hoje em dia, os cães dormem perto de nós, passeiam connosco, brincam com os nossos filhos, adormecem no sofá connosco e acompanham-nos nos passeios em dias de sol. Hoje em dia os cães são vistos como amigos e companheiros e não como animais com um propósito único de guardar gado, ou neste caso no nosso Porsche, por exemplo.

Portanto, a ideia de que certas raças de cães darão bons cães de guarda, não é verdade. Nenhum cão nasce com sentido de moralidade e mesmo que o fizesse essa moralidade não era certamente igual à humana.

Os cães não vão conseguir distinguir um amigo de um inimigo nos mesmos termos do seu tutor, eles irão fazê-lo nos seus termos, o que quer dizer que se você não sociabilizar o seu cão e educa-lo e optar por treiná-lo com métodos aversivos, conseguirá criar um cão medroso e inseguro que rapidamente aprenderá a usar comportamentos agressivos para afastar as pessoas das quais tem tanto receio e a isso muitas pessoas chamam guarda. Na lei isso denomina-se um cão perigoso.

Claro, já todos ouvimos e lemos histórias de cães que apanharam ladrões, morderam pessoas mal-intencionadas que invadiram uma propriedade, protegeram os seus tutores durante um passeio. Não há muito tempo ouvi uma história de um gato que atacou um ladrão que entrou na casa dos tutores enquanto estes dormiam e conseguiu que ele fosse apanhado e preso.

A parte romântica destas histórias leva-nos a esquecer o facto de que o tal cão atacava qualquer pessoa que se aproximasse do tutor, e apenas calhou que naquele dia era um ladrão, e que o gato não tolerava estranhos dentro de casa, e que qualquer uma destas histórias ao invés de heróicas poderiam ter sido desastrosas se fossem com a criança que vive na casa ao lado, o entregador de pizzas ou qualquer outra pessoa que viesse por bem.

Algumas pessoas podem estar a interrogar-se se não será verosímil entretermos a ideia de que os cães podem de facto compreender de alguma forma quando uma pessoa que lhes é próxima esteja em perigo. Apesar de não existirem estudos, eu sou uma das pessoas que considera essa ideia uma bastante provável de ser verdadeira. No entanto, isto não muda em nada a forma como eu vejo os cães e como vejo que somos nós que devemos protegê-los e não ao contrário.

Se algum dia acontecesse alguma coisa e os meus cães me protegessem eu iria ficar muito agradecida mas não seria algo que eu esperaria e muito menos algo que treinaria para que fosse feito. Eu jamais quereria colocar a vida dos meus cães em perigo.

Cães polícia são muitas vezes usados como exemplo, no entanto, estes não são exemplo para ninguém, a não ser para os polícias e o que fazem lá. Os cães usados pelos polícias, são cães com treino diário e muito específico. Manuseado por uma ou duas pessoas, que vivem uma vida muito específica. Nunca vemos cães polícia a correrem livremente num parque ou a cumprimentar pessoas com a cauda a abanar enquanto passeiam na rua. Cães polícia, são cães que vivem extremamente controlados e que são usados para um propósito específico. A maioria vive em canis e só sai para treinar ou trabalhar. E não policias não fazem bons treinadores do seu cãozinho de companhia!

Existem treinadores que treinam cães de guarda, e a irresponsabilidade de tal acto é quase absurda! 

Num mundo que lança leis de cães potencialmente perigosos e/ou perigosos, com o intuito de proteger a população de mordidas e acidentes com cães, é no mínimo estranho que treinadores que na sua grande maioria usa métodos antiquados e ultrapassados, sejam permitidos a treinar cães a morderem indiscriminadamente e os coloquem nas mãos de tutores comuns que nada entendem de como lidar com cães.

Onde fica a segurança das pessoas nestas alturas?

A maioria dos acidentes dos cães que saem dos portões das propriedades e atacam a primeira pessoa que veem à frente, advêm de cães isolados e treinados para serem cães de guarda. É inadmissível que usemos os cães desta forma apenas para que sejam eles e outras pessoas, vitimas desta cultura egocentrista e ultrapassada.

Vamos portanto, como comunidade, reflectir sobre o tema. Não existe lugar no século XXI para tratarmos cães como objectos que podem ser descartados e usados unicamente para benefício humano e dos seus pertences. Cães merecem mais e melhor, se as ultimas décadas nos deram algo sobre os cães, foi o entendimento do relacionamento estreito e tão unido que temos com estes animais, está na hora de começarmos a honrar este relacionamento.

Claudia Estanislau -IAAD – Its All About Dogs
DTBC, IAABC, LLA, PPG

domingo, 26 de junho de 2016

Quando a mentira incomoda muita gente a verdade incomoda muito mais

Não gostando de perder tempo com estas coisas, e como me foi indicado terei que escrever isto, algo que me custa muito porque é perda de tempo e cusciçe no seu melhor algo que detesto fazer.
Lamento esta lavagem de roupa suja mas por vezes ficar calado é simplesmente impossível e contrapodutivo.
O meu ex-aluno Patrick Rocha, acusou-me copiar os temas dos artigos dele. Colocou esta acusação com os nomes dos artigos escritos por mim e como tal a difamar o meu nome, o que merece resposta directa.
Senhor Patrick o senhor foi meu aluno por mais de 3 anos e quando começou o curso de treinadores, não sabia nada sobre cães nem tinha formação anterior nenhuma. Tudo o que aprendeu começou por aquilo que EU ensinei, que ouviu de mim, que ouviu nas minhas aulas, leu na matéria do meu curso, nos livros aconselhados por mim, traduzidos por mim, nos meu blogs, etc.. etc.. por isso e só isto já deveria ser estranhíssimo dizer que EU estou a roubar seja o que for seu. Eu estou neste negócio há mais de 11 anos o sr. chegou há pouquíssimo tempo!
Em resposta directa às suas acusações em público:
1. O Patrick afirma que escreveu um artigo sobre andar de trela em Janeiro de 2016 e que eu lhe roubei a ideia publicando acerca do mesmo tema em Abril. Pois olhe, só assim sem procurar muito os artigos "O que fazer se vir um cão sem trela vir em direcção ao meu" publicado em 2011, e outro "Extraordinário ou uma insconsciência" publicado em 2013 ambos falam deste tema em extenso. Mais 5 publicações minhas só em 2015 no FB da IAAD falavam sobre este tema e mais não procuro por falta de paciência e tempo.
2. O artigo "O meu cão sabe que fez mal" perdi a conta quantas vezes publiquei sobre este tema no FB e escrevi textos sobre isso e não vou procurar, mas posso dizer-lhe que fui eu que lhe falei disto no curso onde este tema é falado, e um texto foi publicado na Cães e Companhia com o nome "O meu cão sabe que fez mal" em 2011 e publicado nas notas do FB no mesmo ano.
3. "Cães acorrentados" que o sr. diz ter escrito já em 2015? Por favor, eu tenho desde 2009 um blog com o nome "Diário de um cão acorrentado" onde escrevo sobre esse tema unicamente. O artigo foi tirado desse blog (está lá mas já sabe certamente de onde foi você tirar a ideia).
E pronto e agora digo a minha verdade. O sr. tem textos plagiados meu, frases inteiras e parágrafos plagiados da matéria do curso, crime, fique sabendo que nunca falei porque ao contrário de si não me quero aborrecer ou perder tempo a falar de outros como me obriga agora.
Em 2015 tentou roubar-me o orador Steve Mann e quando foi confrontado negou e ainda ficou ofendido (faz sentido!) eu soube disso através do próprio Steve durante a clicker expo que me mostrou a conversa toda e diz ter testado o Patrick para saber se este queria mesmo rouba-lo levando-o ele mesmo ou se era com minha autorização. Para azar dele o Steve foi fiel a quem tinha falado primeiro e achou por bem contar-me. Nessa altura você disse ao Steve que estava disposto a pagar a ida dele a Portugal para falar de outro tema diferente do que ele já tinha preparado comigo.
Este é o verdadeiro motivo pelo qual eu cortei contacto consigo e pelo qual o sr. devia ter vergonha na cara ao invés de se mostrar ofendido e falar de mim nas costas.
Quanto às acusações acima saiba que quem copiou ideias é o sr. e todinhas. Mas sabe que mais, saia da sua caixa de sabão que para sua surpresa nem eu nem o sr. escrevemos nada que ainda não tenha sido escrito por outras pessoas noutra local qualquer. Somos dois grãos de areia pequenos numa praia de treinadores a nível mundial, muitos tão maiores que nós que nem vale a pena.
Seja humilde, seja honesto e pare de ser pequenino. O sr. é uma vergoha para o treino de cães em Portugal e a minha profissão com estas atitudes publicas, você veio aprender tudo comigo, tomou más decisões e agora anda emburrado. Sr. Patrick Rocha, relaxe, desemburre e não se preocupe com o que eu escrevo, você tem 10 anos para andar e eu estarei sempre 10 anos à sua frente. Não tem como escapar.
Agora deixe-me em paz que eu não quero perder mais tempo com pessoas negativas . Eu quero o que sempre quis, fazer o meu trabalho, dedicar-me ao que faço e que pessoas como o sr. esqueçam que eu existo, porque insiste em gastar tempo comigo se me tem tanto desdém? Faça o seu trabalho e dedique-se mais a ele não se ridicularize que lhe fica mal a si e a toda a profissão. Não procure conflitos que isso não faz bem a ninguém. Para o bem de todos, esqueça que eu existo que por mim está optimo.
Espero que seja o fim desta palhaçada que tenho mais que fazer, amanhã parto para Inglaterra para dar uns seminários e em Novembro para o Brasil, local onde o sr. começou a se imiscuir e se eu fosse amarga como você é, imagine o que eu não pensaria.
Beijinho no ombro ‪#‎ficaadica‬ ‪#‎plagioécrime‬

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Cães Acorrentados

Colocando de parte todas as considerações éticas e morais acerca do facto de mantermos um cão atado a uma corrente, o que torna este acto não só detestável como extremamente perigoso é o facto de que a grande maioria dos cães acorrentados desenvolvem comportamentos agressivos ou reactivos.

Cães presos a correntes sabem que estão presos, logo sabem que estão em perigo! Tudo o que os cães presos a correntes veêm que os assusta, é imediatamente confrontado com demonstrações veementes e claras de afastamento, ou sejam comportamentos agressivos.

O cão defende-se, afinal ele está preso não pode fugir e tem que evitar a todo custo que aquilo que ele não conhece, ou que o assusta, se aproxime dele. Se alguém se aproxima de um cão preso e este por qualquer motivo percebe esta aproximação como perigosa para si, ele irá usar comportamentos agressivos como forma de aumentar a distância e afastar o estímulo causador do perigo. A este tipo de comportamento agressivo chamamos de agressividade defensiva.

Outro tipo de agressividade recorrente em cães acorrentados provém da frustração. A frustração de não poderem sair dali e interagir. Á medida que passam os dias, veêm cães a passar, ouvem-nos, cheiram-nos mas nunca se podem aproximar. O mesmo com pessoas, carros, crianças, etc.. Esta frustração leva inadvertidamente ao desenvolvimento de comportamentos agressivos gerados por frustração. Este tipo de comportamento escala a um ritmo enorme com o tempo e generaliza-se a todos os que se tentam aproximar levando a que os únicos comportamentos que os cães sabem exibir a partir de determinado ponto são agressivos e reactivos.

Cães que estão presos a correntes uma vida inteira, são animais que vivem num vazio social e mental. Não se exercitam fisicamente, nem mentalmente, e não detêm contacto social com pessoas e ou membros da própria espécie. Esta inactividade mental e física e este vazio social, leva a que determinados cães (principalmente os mais activos) desenvolvam muitas actividades para se distrairem. Alguns cães desenvolvem comportamentos obsessivo-compulsivos de andar à roda, perseguir a cauda, cavar buracos ou ladra incessantemente, como se o próprio som da sua voz fosse uma distracção para o vazio em que se encontram.

Alguns cães sobrevivem toda uma vida neste estado catatónico. A exploração de um animal nestes termos não só é éticamente reprovável como é produtor de muitos cães que podem vir a representar para a nossa sociedade um perigo gravíssimo. Muitos acidentes de mordidas reportadas pelo mundo fora, advém de cães que viviam presos e por algum motivo se soltaram.

O governo se pretende proteger a sua sociedade e a comunidade do perigo de mordidas deveria começar por proibir que as pessoas mantenham cães atados a correntes. Atar cães a correntes é um acto reprovável a todos os níveis e por nós considerado abusivo.

Outros problema grave é o desenvolvimento do que chamamos estado de learned helplessness, que é um estado que leva a que um animal desista. Estes cães normalmente sucubem, muitos morrem precocemente, entram em depressões graves, ficam doentes com facilidade e por falta de palavras melhores para descrever este estado, simplesmente deixam de lutar pela vida.