Interacções entre cães, devo intervir ou não? - Parte II
Quando um cachorro não consegue ver-se livre do outro – Se você vê que o seu cachorro está com dificuldade em afastar-se daquele cachorro persistente e alegre que o persegue para brincar está na hora de intervir. Se o seu cachorro foge para baixo da mesa, se refugia por trás das suas pernas, foge para baixo das cadeiras e não consegue ver-se livre do alegre pateta que o persegue, está na hora de intervir. A importância de intervir nesse momento vai reflectir grandemente no comportamento futuro de ambos os cachorros. Ao impedir que o seu cachorro seja perseguido evita que ele tenha que escalar o comportamento de forma a alcançar o seu objectivo. Vamos ver isto como uma sequência de comportamentos:
Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o
Cachorro
foge para trás das suas pernas O outro persegue-o
Cachorro
corre para se afastar O outro persegue-o
Nesta sequência de eventos o seu cachorro está a aprender que fugir não é uma forma eficaz de aumentar a distância e manter-se seguro quando se sente ameaçado ou invadido pela presença de outro cão.
Portanto o cachorro adopta uma nova medida
Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
rosna enquanto foge O outro persegue-o
Cachorro
ladra e abocanha o ar O outro persegue-o
Cachorro
morde o outro O outro pára de o perseguir
Nesta última sequência de eventos o que aconteceu foi que o seu cachorro 1 aprendeu que a forma mais eficaz de afastar cães que o incomodam e de se proteger é “morder o outro cão”. As probabilidades de no futuro o cachorro 1 usar agressão para lidar com uma situação idêntica
aumentaram significativamente. Por outro lado, o cachorro 2 aprendeu a ignorar todos os outros sinais dos cães, ele está a aprender a assediar os cães para conseguir brincar com os mesmos. Aprendeu também que quando tenta brincar com os cães estes mordem e sai magoado de um relacionamento que tinha como intenção primária ser um saudável. As probabilidades no futuro do cachorro 2 usar agressão durante as brincadeiras como forma de defesa, aumentaram grandemente. É por estes motivos que é tão importante intervir durante os relacionamentos dos cachorros, para evitar que no futuro os comportamentos antagonisticos sejam os preferidos. Desentendimentos destes nas interacções entre os cachorros podem levar a cães adultos ansiosos e que constantemente se juntam em brigas.
Quando Intervir
A intervenção desse ser atempada. Intervir demasiado tarde ou cedo demais pode ter os resultados opostos daqueles desejados.
No caso explicado acima por exemplo a intervenção deve ser a seguinte:
Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
foge para baixo da mesa O outro persegue-o
Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o
Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o
INTERVIR
Pode inclusivé intervir mais cedo. A questão é que existem caes que fogem durante muito tempo antes de escalar o comportamento. Outros, no entanto, ao fim de 2 ou 3 tentativas mudam
automaticamente de estratégia. Em caso de não saber muito bem o que o seu cachorro poderá fazer, previna-se e intervenha mais cedo. Se já conhecer o seu cachorro e souber que ele é por exemplo paciente, intervenha à 3ª ou 4ª tentativa de afastamento.
Como Intervir
A forma de intervir deve uma apoiada no julgamento e avaliação lógica da situação, executada com calma e neutralidade. Não deve alimentar a ansiedade ou stress que muitas vezes surge nestas situações. Lembre-se que ambos os cães têm as melhores intenções e cabe-nos a
nós guiá-los para que possam adequadamente aprender como comunica-las evitando ao máximo conflitos graves que serão transportados para interacções futuras.
Assim quando souber quando intervir, a intervençao deve ser calma. Agarrar na coleira do cão deve ser feito, só e apenas se o cão tiver uma dessensibilização ou estiver completamente relaxado em que o segurem pela mesma. Lembre-se que ao impedir que um cachorro continue
a perseguir outro segurando pela coleira vai criar ansiedade por isso deve focar-se em criar uma associação positiva a esta acção. Dê várias recompensas de alto valor enquanto segura na coleira do cão e mantenha-o interessado em si.
Afaste-se do local e quebre o contacto visual entre os dois cachorros. Após a intervenção aguarde uns momentos. Pode inclusivé se o cachorro estiver focado em si, dar algums recompensas pela
atenção que este lhe está a dar durante uns 3 a 5 minutos e inclusivé incluir alguns exercícios de senta e deita. Quando vir que o cachorro está mais calmo pode voltar a deixar a interacção ocorrer (avaliando as intenções do outro cachorro ou se devem terminar de vez a interacção) ou então pode ausentar-se do local.
Pontos a reter:
- Nunca se deve zangar com os cachorros
- Nunca deve agir emotivamente - afaste os cachorros uns dos outros de forma calma e
controlada com movimentos calmos, sem berrar ou se irritar - Associe o afastamento a algo agradável (senão torna-se uma punição) - dando várias recompensas de alto valor (carne, ou brincando ao tug, etc…)
- Aumente a distância entre os dois cachorros - por vezes é necessário afastar-se
bastante do outro cão para conseguir que o seu lhe preste atenção ou se interesse pelo que lhe tem para oferecer e para conseguir que se acalme - Afaste os cachorros ou cães - especialmente se um deles estiver a mostrar claros sinais de stress ou de querer aumentar a distância entre os dois (fugindo ou demonstrando irritação). Se um dos cachorros rosnar ou mostrar os dentes, afaste-os imediatamente
- Não deixe que cães de porte diferente interajam sem supervisão – se um dos
cachorros for bastante maior do que o outro, ensine o cachorro de porte grande
a permanecer deitado e não saltar para cima do mais pequeno. Para tal segure o
cachorro grande se este se tentar saltar para cima do outro, conte até 10 e volte a soltar sempre prestando atenção para evitar que se atropelem. - Intervenha as vezes que forem necessárias, mas se ambos os cachorros estiverem a interagir bem a duma forma saudável deixe o relacionamento decorrer
- Nunca punir ou castigar os cachorros por interacções que NÓS consideramos inadequadas
- interacções inadequadas devem ser controladas e não suprimidas. A nossa responsabilidade é ensinar formas mais eficazes de comunicar e interagir. Punição ensina o cachorro a suprimir sinais comunicativos e a recear o que as suas interacções desencadeiam no ambiente ao ser redor. - Afaste-se de julgamentos humanos acerca das interacções – mais do que perder tempo a
assumir que determinados comportamentos são originários de teimosia, dominância
ou típicos da raça, limite-se a ter uma intervenção neutra e eficaz. Se você assumir que um cão age ou comunica determinado comportamento “porque é dominante” irá recair no erro de estar a transpor a sua interpretação pessoal do que vê e pode inadvertidamente promover comportamentos que trarão problemas graves no futuro.
O que nunca deve fazer…
- Nunca mas nunca deve punir um cão por uma interacção. Lembre-se que a punição SUPRIME o sinal comunicativo mas não resolve o que o despoleta, nem ensina ao cão uma alternativa para lidar com a situação. O cão que vê o seu sinal comunicativo suprimido pelas pessoas que o deviam proteger, aprende que na presença dessas pessoas não pode comunicar adequadamente para evitar a punição. Vejamos então o que pode acontecer:
Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro foge para baixo da mesa O outro persegue-o
Cachorro foge para trás das suas pernas O outro persegue-o
Cachorro corre para se afastar O outro persegue-o
Cachorro rosna enquanto foge PUNIÇÃO POR ROSNAR O outro persegue-o
Com a punição o que ensinamos ao cão é que rosnar origina uma punição e para evitar futuras punições o cão vai evitar rosnar, no entanto agora o cão não sabe o que fazer para evitar ser perseguido pelo outro cão. O que provavelmente acontecerá é isto:
Comportamento Cachorro 1 Comportamento Cachorro 2
Cachorro
suprime o sinal comunicativo
Cachorro
morde com severidade Cachorro sente-se atacado e é desencadeada uma luta
A supressão do sinal comunicativo leva a que o cachorro passe automaticamente para um comportamento altamente antagónico e agressivo como forma de defesa o que por seu lado desencadeia uma posição de defesa por parte do outro cão que dada a severidade do ataque. Como o cão aprendeu a suprimir o sinal comunicativo o outro cão na ausência de sinais
investe com mais rapidez despoletando confusões e ataques mais graves e sérios.
Comentários
sempre me perguntei se devia ou não intervir, quando, como, ficava na maior dúvida!
muito obrigada!!
Beijos