sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Estaremos a treinar o cão ou a treinar uma luta?




Texto traduzido, adaptado e retirado na totalidade do website Dog Lover's Digest.com
Enquanto via o programa de televisão “O encantador de Cães” no outro dia, decidi fechar os olhos e ouvir com atenção todas as frases e palavras que eram ditas durante o programa. De seguida está uma lista parcial:

Reclame o seu espaço
Confronte o seu cão
Não seja um humano passivo
Em estado de ataque
Comportamento primordial
Senhor da casa
Seja dominante
Caos
Seja o cão alfa
Agressivo
Agressão
Atacar
Não seja fraco

Se eu não soubesse o que estava a ver, poderia facilmente achar que estava a ouvir um instrutor numa aula de defesa pessoal. Porque é que treinar um cão ou reabilitar um cão tem que soar como um episódio de luta de morte saída de um coliseu?

Uma resposta viável tem muito pouco haver com treinar cães e tudo haver com ter grandes audiências na TV. Drama e confrontação vendem. Uma frase chave tal como “Calm Assertive Pack Leader” (Líder da matilha, calmo e assertivo) é óptima para caracterizar um programa de televisão, mas o significado por trás da mesma é mal aplicado quando se trata do treino de cães domésticos. Se você pensa que viver com um cão se resume a uma batalha constante pela supremacia doméstica, porque é que você tem um cão?

A realidade é que ter um cão não tem que ser uma constante luta de vontades e pode na realidade ser divertido e excitante tanto para o seu cão como para si. Ao usar reforço positivo e condicionamento clássico, podemos treinar os nossos cães sem ter que aceder a técnicas típicas de intimidação típicas num recreio de escola primária.

Em seguida estão apenas alguns dos muitos recursos que usam a ciência como base para aprendizagem e treino, provando mais uma vez que a ciência é divertida e eficaz:

Dog Star Daily
Fun4Fido

Clickertraining.com
Patricia Macconnell
Peaceable Paws
Dogmantics
AskDrYin.com

Pawprints Private Puppy & Dog Training
Pet Central Blog
Smart Dog University

Como sempre esta lista não está completa e sei que existem milhares de outros sites por aí com excelente informação acerca de treino positivo.

Para os que pensam que os métodos usados pelo Sr. Cesar Millan são inócuos, convido-os a visitar o website Beyond Cesar Millan. Detém muita informação escrita e validade por dezenas de profissionais que estudaram a verdadeira ciência do comportamento e aprendizagem dos animais.

Don't be a Dick! esterilize o seu animal de estimação!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Conceitos Dominantes

Dominância e conceitos

Na literatura popular de comportamento canino, termos tais como, status, rank e hierarquia são usados de forma livre. Para que se torne claro, é importante distinguir estes termos. Status de dominância refere-se à posição que um indivíduo animal retém dentro de uma díade, e pode ser tanto dominante como submissa de acordo com a direcção dos resultados estatísticos das interacções de disputa (Drews, 1993). O rank dominante refere-se à posição de um indivíduo numa hierarquia de dominância (Drews, 1993). O Status pode ser determinado medindo os resultados das interacções agonísticas em diádes. O rank pode ser determinado através da medição de todos os resultados de todas as diádes possíveis dentro de um grupo. Uma hierarquia pode ser linear ou não linear. Uma hierarquia linear é uma na qual existe um líder despótico que domina todos os outros membros, e o seguinte membro abaixo que domina todos os outros membros, excepto o animal com o ranking mais alto, etc. Por outras palavras, o A domina todos os animais, o B domina todos menos o A, C domina todos menos o A e o B. Uma hierarquia não-linear será aquela que é menos estável e tem excepções em relação às regras de transição acima citadas (O’heare, 2008).

A hierarquia linear também conhecida por “pecking order” foi estabelecida após a observação de um grupo de galinhas, na qual a galinha A manda bicadas em todas as outras, a B manda bicadas em todas menos na A e por assim adiante. Este conceito foi aplicado livremente a lobos e mais tardiamente transitou para os cães.
Curioso que durante os estudos das hierarquias em galinhas observou-se que um mesmo grupo de galinhas quando retirado do galinheiro por x tempo quando colocadas novamente no galinheiro, imediatamente estabeleciam uma pecking order diferente da anterior. Sendo que a galinha que teria sido anteriormente a A, podia ser agora a C ou mesmo a mais baixa no grupo.

Hierarquias não lineares indicam que os indivíduos demonstram flexibilidade nas interacções de acordo com a situação, o recurso e o interesse demonstrado no momento. Sendo assim, em determinada situação um indivíduo pode ser o dominante sob um determinado recurso e noutra situação, esse mesmo indivíduo ser suplantado por outro. Este tipo de hierarquia não-linear e/ou flexível é a que caracteriza as interacções entre cães e não uma pecking order.


Relacionamento entre cães urbanos, rurais e “assilvestrados”

A aplicação primária das teorias de dominância social serve para entendermos o relacionamento entre cães. Como tal, deveremos explorar o comportamento de cães. Daniels and Bekoof (1989) reportam no seu estudo de cães assilvestrados em locais urbanos e rurais que “em geral existe uma tendência maior para os cães evitarem grupos”. Estes cães tendem a permanecer solitários, evitando comportamentos de matilha. Os relatórios de Daniels e Bekoff são consistentes com estudos prévios que concluíram que cães urbanos e rurais tendem a ser animais solitários. “Aliás, os cães não eram tão sociáveis como o esperado, porque existem muito poucas vantagens na vida em matilha. Recursos escassos para além daqueles provenientes dos deixados pelos humanos quer em cenários rurais ou urbanos seriam explorados mais eficazmente por indivíduos do que por grupos” (Daniels and Bekoff, 1989). Foi determinado que cães “selvagens” tinham mais propensão a formarem grupos do que os cães ferais urbanos e rurais, mas que ainda assim a vida em matilha não era uma escolha. A imagem do comportamento social canino que emerge deste estudo indica que tanto cães ferais urbanos como rurais como cães selvagens não são geralmente cães de matilha mas sim indivíduos solitários. Os grupos que se formam são grupos pequenos e os indivíduos são transeuntes que se juntam e passado pouco tempo voltam a dispersar (O’heare, 2008).

No caso dos cães urbanos e dos grupos que se juntam quando existe um recurso apetecível como uma fêmea em cio, estes grupos vagueiam em busca de uma oportunidade para procriar e logo se dispersam para voltar à vivência solitária. Foi relatado que muitos desses grupos existiam não por livre associação, mas por escassez de fêmeas para acasalamento com os machos que vagueiam.


PS - NADA DISTO INTERESSA PARA RESOLVER QUALQUER TIPO DE COMPORTAMENTO PROBLEMÁTICO ENTRE CÃES.