domingo, 14 de fevereiro de 2016

CÃES, PRENDAS E ANO NOVO – por Claudia Estanislau

E se de repente na sua meia aparecesse a cabeça de um cachorrinho como prenda? Isso seria amor?

CÃES COMO PRENDAS

Cães não são objectos utilitários que devem ser dados como prenda. O pressuposto da prenda sendo que é uma surpresa, claro está. O problema está mesmo aqui. Um cão sendo um animal senciente que envolve muita responsabilidade em variadas partes da nossa vida (social, financeira, tempo, etc..) não deve ser uma surpresa, porque no final vamos fazer sofrer o cão e potencialmente a pessoa e/ou família a quem o demos.

Eu compreendo o ideal romântico por trás do facto de oferecer um animal fofinho e bebé no natal, mas quando falamos de animais sencientes, como cães e gatos, temos que ser realistas mais do que românticos. A pessoa realmente quer um cão ou gato? Ela pensou cuidadosamente nesta decisão? Ela ponderou todos os factores? Todas as pessoas que irão contactar diariamente com o cão ou gato estão de acordo? Pensaram em todos os cenários que envolve ter um cão, tais como férias, escapadinhas de fim-de-semana e saídas à rua às 22h com uma temperatura de 5 graus e a chover a potes?

Se considera radical a minha visão, visite o canil ou associação de ajuda aos animais mais perto de si e verá que radical é o número de cães que acabam nestes locais pelos mais variados motivos.

Cresceram demais por exemplo é um deles como se o cachorro não tivesse permissão para se tornar adulto. Ladram, destroem, comem cócós e largam pelos, em suma são cães. Muitos cães que acabam na rua, ou em abrigos foram bem-intencionadas mas mal pensadas prendas de natal.

OS MEUS FILHOS NÃO PÁRAM DE PEDIR UM CÃO

Crianças e cães são uma das imagens mais românticas da nossa sociedade. As vantagens de crianças crescerem com cães são inúmeras e mais que comprovadas eu sou totalmente a favor de que beneficia ambas as partes se feito com cabeça, tronco e membros. No entanto, o cão tal como não é uma prenda, nunca pode ser dado a uma criança como se esta fosse ser a única responsável pelo mesmo.

Tinha eu cerca de 10 anos quando os meus pais trouxeram o primeiro cão para casa. Até à data eu tinha pedido todos os natais, aniversários, páscoas, Halloweens e festas da cidade, por um. No entanto, e felizmente, os meus pais sabiam que por mais que eu quisesse seriam eles os verdadeiros responsáveis pelo cão e só quando eu já era mais capaz de entender certas coisas e eles capazes de abraçarem essa responsabilidade é que aconteceu e assim tive a minha primeira cadelita, a Lira.

Apesar de eu ser uma criança que era muito responsável e por gostar tanto dos cães, não me importava nada de a passear, dar-lhe comida, dar-lhe banho quando necessário, etc… Mas os meus pais sempre entenderam que eram verdadeiramente eles, os responsáveis pela Lira.

No final de tudo, se ela precisava de cuidados médicos eram eles que a levavam e pagavam, se ela precisava de ser passeada e eu tinha saído com amigos ou estava no meu submundo adolescente fechada no quarto, eram eles que tinham que ir, se eu me esquecia de lhe dar comida, eram eles que tinham que tratar disso.

A criança pode muito querer compartilhar a vida com um cão e isso é óptimo, mas colocar nas mãos das crianças, a responsabilidade inerente a ter um cão é uma receita para desastre, e quando a criança falhar, e vai falhar porque é, pois claro, uma criança, os adultos não podem levantar as mãos e dizer “foste tu que quiseste” esquecendo-se que pelo meio existe um animal que sente fome, frio, precisa de carinho, amor, atenção e não pode ser negligenciado porque a criança é uma criança e as adultos “nem queriam o cão”.

Por isso, ter cães porque as crianças querem é uma péssima ideia. Devemos adoptar um cão porque nós queremos, e com isto a criança pode também beneficiar desta interacção e vivência, mas somos nós como família e em especial os adultos que devem arcar com esta decisão e responsabilidade.

COMPRAR OU NÃO COMPRAR

Agora que ficou claro que cães ou animais, dados como prendas não são a melhor ideia, festeje o natal e depois pense cuidadosamente em adquirir um amigo novo.

Antes de decidir que raça adquirir, deixe-me dar-lhe a perspectiva de alguém que trabalha há 10 anos com cães de todas as raças possíveis e imagináveis.

A raça de um cão, cada vez menos determina a personalidade do mesmo. O que quero dizer com isto é que, a raça de um cão dá-nos informação sobre aspectos como a cor, tamanho que cresce, tipo de pelo, etc… mas não exactamente vem de encontro com a ideia do que um (coloque aqui a raça) é.

Labradores não são todos pacatos e sabem não puxar na trela, nem todos os Golden Retrievers adoram crianças e vão buscar bolas, se acha que todos os chihuahuas ladram sem parar a tudo engana-se e não, nem todos gostam de andar sempre dentro de carteiras. Os Grand Danois, não são todos lentos e mexem-se pouco, nem todos os Pastores Alemães vão comer ladrões e lamber a vizinha, alguns lambem todas as pessoas de tão amigáveis que são, e os Border Collies, não são todos cães fáceis de ensinar.

Isto são tudo rótulos que nos levam a uma ideia errada dos cães, porque o que nos esquecemos é que cada cão tem a sua personalidade, e que o que fazemos depois com ele a nível de treino e educação vai ter a maior influência de todas, na forma como o cão se comporta e se relaciona connosco. Por isso seja lá a ideia que tenha de uma determinada raça, pense de novo, pode sair totalmente ao lado daquilo que espera.

Cães de raça definida se adquiridos em criadores responsáveis são também caros. Custa-me pessoalmente, pensar que podemos estar a gastar tanto dinheiro num cão específico, quando existem tantos fantásticos a precisar de uma casa.

Eu mesma tenho um Border Collie, e apesar de o amar profundamente foi o primeiro e ultimo cão que alguma vez comprei. Ele é um cão fantástico, mas tem Border Collie Collapse Syndrome e Displasia da Anca grau D e garanto-vos que procurei afincadamente e só em criadores responsáveis e conscientes. Mesmo assim não me livrei de pagar muito por ele, ver a saúde dele deteriorar-se e sentir-me algo culpada pela decisão que tomei.

Se mesmo depois de ler isto, pensar, “mas eu quero mesmo um cão da raça x” deixo alguns conselhos:

- Tente saber se não existe nenhum da raça x disponível para adopção, iria ficar surpreendido que hoje em dia quase qualquer raça pode ser adoptada.

- NUNCA compre esse cão numa loja, na internet.

- Procure extensivamente por criadores se quer evitar dar muito dinheiro e acabar com um cão com problemas de saúde graves que diminuirão a qualidade de vida do seu companheiro, lhe partirão o coração e esvaziarão a sua carteira. Conheça os pais do cão, interaja com eles, pergunte tudo o que quiser sobre a saúde eles, e o comportamento deles. Exija ver testes médicos, informe-se sobre as doenças mais comuns dentro da raça, etc.. conheça vários da mesma raça e fale com os tutores, pergunte como eles são, para perceber se é realmente o que procura. É um trabalho de casa extenso, mas do qual nunca se vai arrepender.

Se a raça e ou proveniência não é o principal, então parabéns! Acabou de salvar a vida de um cão

ADOPTAR É TUDO DE BOM

Adoptar um cão é outra decisão importante, mas extremamente satisfatória, sabermos que salvamos um cão de uma vida miserável ou até mesmo da morte, e que estamos a dar muitas vezes uma nova oportunidade a um cão é algo difícil de descrever por palavras.

Procure nas associações ou canis perto de si, e faça perguntas sobre os cães. Muitas vezes as pessoas que lá trabalham, conhecem melhor os cães que têm dentro das associações do que nós, por isso ouça-as e não seja movido apenas por um determinado aspecto como: aquele é lindo, aquele é sossegado, etc.. tente saber mais sobre a personalidade do cão e se ele será um bom companheiro para si.

Para cada adoptante existe mais do que um cão perfeito, pode não ser aquele que está ali mas pode ser o outro ao lado e muitas vezes as pessoas que estão na associação são as melhores a responder às suas dúvidas. Não se apresse, leve o seu tempo a decidir. Peça para passear com o cão, pode mesmo fazer isso mais do que uma vez caso esteja com dúvidas. Passar algum tempo com o cão vai apenas dar-lhe certezas e evitar surpresas.

Se decidir por um cachorro, saiba que por vezes é difícil saber o tamanho que vai ter em adulto ou o aspecto físico exacto, eu pessoalmente gosto do factor surpresa e das características únicas, mas caso isso não o motive, tente perguntar às pessoas mais experientes dentro da associação quais os cachorros mais fáceis de identificar em termos de aspecto físico, etc.

Se decidir por um cão adulto as coisas facilitam-se em termos do aspecto físico. Ali está o que é, peludo, carequinha, pretinho ou colorido, barbudo ou com orelhas espetadas. Dali questione o comportamento do cão, saiba que nem sempre as pessoas da associação podem garantir nada em termos de comportamento, pois os cães comportam-se de forma diferente em ambiente de canil do que em casa individuais.

Se decidir adoptar um idoso, terá uma agradável surpresa. Eles usualmente são cães que surpreendem pela sua capacidade de adaptação, procuram coisas que nunca, raramente ou já não têm à muito tempo, contacto humano, cama seca e quente e comidinha sem falta. Cães idosos têm o maior defeito de todos, uma vida mais curta que um cachorro, mas as vantagens são infindáveis, a começar pela carga de trabalhos que os cachorros dão e que os cães idosos não vos vão dar. Usualmente cães idosos são mais previsíveis no seu comportamento pelo que é mais fácil saber lidar com um. Um cão idoso apesar de ter uma vida mais limitada, continua a ser um cão que irá passar vários anos ao seu lado, e por experiência estes cães rejuvenescem sempre que são adoptados e acabam por viver bastante mais tempo que o esperado.

Quando adopta um cão, seja de que idade for, está sem dúvida a dar a um patudo que merece uma nova casa. Estes cães muitas vezes vêm acoplados a um sentimento de “agradecimento eterno”, difícil de explicar, impossível de provar, mas que quem adopta, acaba sempre por descrever e reconhecer como existente, quase como se “eles soubessem que os ajudamos”.

Pondere adoptar um cão para si, no caso de ter pensado em ter um, e esse será verdadeiramente um bom começo de ano!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Manuseamento de cachorros

Manuseamento de cachorros é sem dúvida um dos exercícios mais importantes a praticar com os cachorros, pois estes são durante toda a sua vida manuseados pelos mais diversos motivos e é importante que estes momentos sejam o menos invasivos e stressantes possíveis.
Ninguém gosta de ver o seu cão tentar morder o veterinário, ter que ser agarrado por 4 enfermeiros, equanto lhe tentam cortar as unhas, ou administrar uma vacina.
A maioria dos tutores fica horrorizada quando vê o estado em que o seu cão fica quando tentam dar-lhe banho e as pessoas têm que estrangular, bater e ameaçar o cão para que ele fique quieto. Existem pessoas que chegam a sedar os seus cães para poderem dar-lhe banho!
Manuseamento, o acto de podermos tocar nas variadas partes do corpo de um cão, sem que ele se sinta ameaçado, com necessidade de usar comportamentos agressivos para afastar as pessoas, sem que ele fique nervoso, ansioso é uma das coisas mais apetecíveis para qualquer tutor.
Ver um companheiro patudo sofrer e ser ameaçador coloca um stress emocional muito grande em todos.
Por isso veja o vídeo. Assim que o cachorro chegue a sua casa, comece a praticar. Use comida em troca de manuseamento. Eu toco, tu deixas, eu dou-te comida. Siga este processo durante toda a vida do cão, diminuindo a frequência, mas sempre fazendo de vez em quando. Eles não vão importar-se de ser relembrados de como pode ser bom ser tocado. Não se esqueça de generalizar e fazer visitas constantes ao veterinário para que o seu cão se acostume a ser manuseado nesse local. Peça ajuda e eles ajudarão. Enfermeiros, veterinários e recepcionistas podem dar 3 pedaços de salsicha ao seu cão numa visita com o único intuito de receber miminhos de toda a gente lá, e verá a diferença que é.

Pratique e ajude o seu carro