Respeito é algo que é exigido, esperado e quase inequivocamente indispensável por alguns que visionam um relacionamento saudável e equilibrado com os seus cães. Se o seu cão os respeitar, então este nunca irá fazer nada que o dono não permita. Ao alcançar o patamar de “dono respeitado pelo cão”, este alcança o “estatuto” de superioridade que lhe subjaz. O cão passa automaticamente a ser um “bem-educado” que nunca irá pôr à prova o dono.
O conceito de que alcançar o respeito dos cães estamos a alcançar uma inerente superioridade indispensável à nossa convivência é fantasia e vive apenas na mente dos humanos.
Mas o que me leva a escrever este artigo não é mais um longo demonstrar de provas inequívocas de que não precisamos de “mandar” e ser “superiores” (algo que somos já por deferência) aos nossos cães, mas sim falar do conceito de respeito e se este é importante e/ou necessário para a nossa vivência com os cães.
Comecemos por pensar na própria palavra. O que é afinal o respeito? A que é que nos referimos exactamente quando dizemos que devemos ser respeitados ou devemos respeitar?
Somos ensinados a respeitar os mais velhos, respeitar os pais e a família, respeitar costumes diferentes, respeitar os professores, respeitar diferentes religiões, respeitar diferentes gostos, respeitar diferentes escolhas. Falamos do respeito pelo próximo, respeito pelos que sabem mais e têm algo para nos ensinar, respeito por aqueles que são famosos ou (re)conhecidos. A palavra respeito, alberga muitas facetas que vão desde a sociedade em que se insere, à época em que se insere e acima de tudo da interpretação pessoa que cada um lhe confere.
Quem não ouviu falar que é uma grande falta de respeito não regatear com vendedores na Turquia? No entanto, entrar numa loja da Salsa no centro comercial Colombo e regatear o preço de umas “jeans”, será visto como uma falta de respeito ou provavelmente como um acto de insanidade. Na Índia, por exemplo, comer com as mãos é algo que faz parte dos costumes e tradições do país e se eu for a um restaurante na Índia e comer com as mãos, esse acto é interpretado como normal e costumeiro. Se fizer o mesmo num restaurante português, no entanto, não terei a mesma aceitação.
Em minha casa, se seu tratasse os meus pais por “você”, eles achariam bizarro. No entanto, conheço alguns colegas meus que tratam os pais por “você” porque doutra forma seria considerado um desrespeito.
Então podemos todos concordar que apesar de existir uma definição de respeito, esta está sujeita a várias interpretações que recaem todas sobre o espectro da interpretação humana – seja esta social, de costumes, individual, etc. Com isto quero dizer que respeito é algo característico dos seres humanos. É um conceito próprio do ser humano e único ao mesmo.
O que me parece estranho é que muitas pessoas apliquem a palavra respeito aos seus cães, e não parem para pensar na antropomorfização que estender essa palavra a um cão implica.
Quando alguém diz “o meu cão respeita-me” eu fico baralhada. O que quererá a pessoa dizer com essa afirmação? Que o cão trata o dono com a deferência social típica da sociedade em que está inserido?
No outro dia, mantinha uma conversa com um colega acerca da agressividade nos cães e de como alguns donos lidavam com casos complicados em casa. Até que ele me disse “Se um cão meu me rosnasse, seria apenas uma vez. Ele aprenderia muito rapidamente que tem que me respeitar!”, ou seja, traduzido por miúdos o que o meu colega quis dizer foi “Se o meu cão me rosnasse, seria apenas uma vez. Ele aprenderia muito rapidamente a não fazê-lo mais, porque eu o puniria de tal forma que da próxima vez ele não iria rosnar para evitar outra punição idêntica!”.
Ou seja para ele o seu cão rosnar-lhe significava várias coisas:
- Que este não o respeita
- Que o cão tem que aprender a fazê-lo e isso faz-se através da aplicação de uma punição grave
- Que uma punição grave ao cão ensina ao mesmo o significado de “respeito”
- Que “agressividade canina” é um reflexo de falta de respeito
- Que ser respeitado significa ser temido
Mas será que o cão quando rosna ao dono está a “desrespeitá-lo”? Esta transferência de uma intenção com um conceito puramente humano, é extremamente prejudicial para o cão e o dono.
Não aprendemos muito acerca de como nos relacionarmos com os nossos cães e de como podemos eficazmente lidarmos com os seus problemas comportamentais, se estivermos preocupados com conceitos vagos e tipicamente humanos como o respeito. Antropomorfização é inimiga do entendimento capaz e saudável dos nossos companheiros de 4 patas. O dono que insiste em fazer-se respeitar ( e isto inadvertidamente implica lidar com situações complexas de uma forma simplista e coerciva) tem em mão um problema muito mais grave do que o cão rosnar.
Cada vez mais entendo que muitas pessoas, recusam a ver os seus cães pelo animal que é. Insistem em transferir para os mesmos as suas inseguranças, angústias, expectativas (muitas vezes irrealistas) e acima de tudo os seus conceitos humanos. E fazem-no convencidos de que o cão sabe exactamente o que se passa.
Mas, os cães fazem apenas o que melhor resulta para os mesmos. Regem-se pelas maravilhosas regras de ciência da aprendizagem, manipulando o seu ambiente de forma a obter o máximo de consequências positivas de tudo e todos os que os rodeiam. Isso não os torna menos complexos ou maravilhosos, nem é por isso que deixam de ser tão místicos ou sensacionais. Não são menos porque não sabem o que é o respeito ou a culpa, ou porque não distinguem o bem do mal, ou porque não detêm expectativas ou planeiam antecipadamente as suas acções. São apenas diferentes de nós, e devemos-lhes a eles entendê-los e ama-los assim como são, pelo que são e não pelo que não são.
Portanto, se nem você consegue objectivamente explicar como se traduz o respeito na sua plenitude, não acha que é pedir um pouco demais ao seu cão? Acha mesmo que ele quando lhe rosna está a desrespeitá-lo? Ou quando o chama e ele não vem?
Se se libertar dos conceitos humanos e das expectativas pouco realistas que traduz no seu cão, posso garantir que irá entendê-lo muito melhor e consequentemente irá conseguir atingir os seus objectivos de uma forma bem mais eficaz e satisfatória.
O cão que rosna, está na realidade a emitir um sinal comunicativo, e por trás desse sinal comunicativo existe uma emoção que o desencadeia (medo, ansiedade, frustração, protecção). Punir o cão que rosna não é resolver o problema que desencadeia o rosnar, mas apenas suprimir o sinal comunicativo em si (o cão deixa de rosnar porque fazê-lo leva a uma punição), e como tal, não está a ensinar ao seu cão como lidar com o sentimento que inicialmente desencadeia o rosnar. O seu cão pode sem aviso morder da próxima vez que sentir a mesma coisa, ou se vir confrontado com a mesma situação. Se pensar desta forma, irá entender que pode ajudar o seu cão ou pedindo ajuda a um profissional ou começando por analisar o que estimula a agressão.
No caso do cão que não vem quando é chamado se na vez de se frustrar em pensamentos de que o cão o está a desrespeitar e a fazer de propósito, reconsidere o que o seu cão sabe. Como é que ensinou a chamada? Generalizou o comando para aquele ambiente específico? O que está diferente hoje do resto dos dias? Praticou o suficiente? Tem recompensas adequadas? Procure as respostas em si e não transfira a responsabilidade para o seu cão, ao fazê-lo terá imediatamente mais espaço para melhorar. Pode generalizar mais, treinar mais, aumentar as recompensas, voltar um passo atrás na chamada, etc…
Mas se ficar preso ao conceito de respeito, então terá que descobrir uma forma eficaz de explicar ao seu cão o que é, como e quando este o deve respeitar!
Agressividade é um comportamento normal no mundo canino. Com isto não digo que devemos viver com o mesmo. Procurar ajuda profissional e ensinar o cão a aceder a comportamentos menos conflituosos e mais aceitáveis para a nossa vivência junta é imperativo, no entanto, isso não se fará pensando imediatamente em conceitos humanos que levam sempre a situações de “medições de força”, de “quem ganha e perde” de “quem manda em quem”.
Acerca do respeito, eu respeito muito os meus cães, e uso a minha inerente superioridade intelectual para me aperceber da forma como vivem, bem mais simples do que a nossa, mas nem por isso livre de nos ensinar a nós muitas lições de vida, sem ter que transmitir neles o que para eles não existe.
O conceito de que alcançar o respeito dos cães estamos a alcançar uma inerente superioridade indispensável à nossa convivência é fantasia e vive apenas na mente dos humanos.
Mas o que me leva a escrever este artigo não é mais um longo demonstrar de provas inequívocas de que não precisamos de “mandar” e ser “superiores” (algo que somos já por deferência) aos nossos cães, mas sim falar do conceito de respeito e se este é importante e/ou necessário para a nossa vivência com os cães.
Comecemos por pensar na própria palavra. O que é afinal o respeito? A que é que nos referimos exactamente quando dizemos que devemos ser respeitados ou devemos respeitar?
Somos ensinados a respeitar os mais velhos, respeitar os pais e a família, respeitar costumes diferentes, respeitar os professores, respeitar diferentes religiões, respeitar diferentes gostos, respeitar diferentes escolhas. Falamos do respeito pelo próximo, respeito pelos que sabem mais e têm algo para nos ensinar, respeito por aqueles que são famosos ou (re)conhecidos. A palavra respeito, alberga muitas facetas que vão desde a sociedade em que se insere, à época em que se insere e acima de tudo da interpretação pessoa que cada um lhe confere.
Quem não ouviu falar que é uma grande falta de respeito não regatear com vendedores na Turquia? No entanto, entrar numa loja da Salsa no centro comercial Colombo e regatear o preço de umas “jeans”, será visto como uma falta de respeito ou provavelmente como um acto de insanidade. Na Índia, por exemplo, comer com as mãos é algo que faz parte dos costumes e tradições do país e se eu for a um restaurante na Índia e comer com as mãos, esse acto é interpretado como normal e costumeiro. Se fizer o mesmo num restaurante português, no entanto, não terei a mesma aceitação.
Em minha casa, se seu tratasse os meus pais por “você”, eles achariam bizarro. No entanto, conheço alguns colegas meus que tratam os pais por “você” porque doutra forma seria considerado um desrespeito.
Então podemos todos concordar que apesar de existir uma definição de respeito, esta está sujeita a várias interpretações que recaem todas sobre o espectro da interpretação humana – seja esta social, de costumes, individual, etc. Com isto quero dizer que respeito é algo característico dos seres humanos. É um conceito próprio do ser humano e único ao mesmo.
O que me parece estranho é que muitas pessoas apliquem a palavra respeito aos seus cães, e não parem para pensar na antropomorfização que estender essa palavra a um cão implica.
Quando alguém diz “o meu cão respeita-me” eu fico baralhada. O que quererá a pessoa dizer com essa afirmação? Que o cão trata o dono com a deferência social típica da sociedade em que está inserido?
No outro dia, mantinha uma conversa com um colega acerca da agressividade nos cães e de como alguns donos lidavam com casos complicados em casa. Até que ele me disse “Se um cão meu me rosnasse, seria apenas uma vez. Ele aprenderia muito rapidamente que tem que me respeitar!”, ou seja, traduzido por miúdos o que o meu colega quis dizer foi “Se o meu cão me rosnasse, seria apenas uma vez. Ele aprenderia muito rapidamente a não fazê-lo mais, porque eu o puniria de tal forma que da próxima vez ele não iria rosnar para evitar outra punição idêntica!”.
Ou seja para ele o seu cão rosnar-lhe significava várias coisas:
- Que este não o respeita
- Que o cão tem que aprender a fazê-lo e isso faz-se através da aplicação de uma punição grave
- Que uma punição grave ao cão ensina ao mesmo o significado de “respeito”
- Que “agressividade canina” é um reflexo de falta de respeito
- Que ser respeitado significa ser temido
Mas será que o cão quando rosna ao dono está a “desrespeitá-lo”? Esta transferência de uma intenção com um conceito puramente humano, é extremamente prejudicial para o cão e o dono.
Não aprendemos muito acerca de como nos relacionarmos com os nossos cães e de como podemos eficazmente lidarmos com os seus problemas comportamentais, se estivermos preocupados com conceitos vagos e tipicamente humanos como o respeito. Antropomorfização é inimiga do entendimento capaz e saudável dos nossos companheiros de 4 patas. O dono que insiste em fazer-se respeitar ( e isto inadvertidamente implica lidar com situações complexas de uma forma simplista e coerciva) tem em mão um problema muito mais grave do que o cão rosnar.
Cada vez mais entendo que muitas pessoas, recusam a ver os seus cães pelo animal que é. Insistem em transferir para os mesmos as suas inseguranças, angústias, expectativas (muitas vezes irrealistas) e acima de tudo os seus conceitos humanos. E fazem-no convencidos de que o cão sabe exactamente o que se passa.
Mas, os cães fazem apenas o que melhor resulta para os mesmos. Regem-se pelas maravilhosas regras de ciência da aprendizagem, manipulando o seu ambiente de forma a obter o máximo de consequências positivas de tudo e todos os que os rodeiam. Isso não os torna menos complexos ou maravilhosos, nem é por isso que deixam de ser tão místicos ou sensacionais. Não são menos porque não sabem o que é o respeito ou a culpa, ou porque não distinguem o bem do mal, ou porque não detêm expectativas ou planeiam antecipadamente as suas acções. São apenas diferentes de nós, e devemos-lhes a eles entendê-los e ama-los assim como são, pelo que são e não pelo que não são.
Portanto, se nem você consegue objectivamente explicar como se traduz o respeito na sua plenitude, não acha que é pedir um pouco demais ao seu cão? Acha mesmo que ele quando lhe rosna está a desrespeitá-lo? Ou quando o chama e ele não vem?
Se se libertar dos conceitos humanos e das expectativas pouco realistas que traduz no seu cão, posso garantir que irá entendê-lo muito melhor e consequentemente irá conseguir atingir os seus objectivos de uma forma bem mais eficaz e satisfatória.
O cão que rosna, está na realidade a emitir um sinal comunicativo, e por trás desse sinal comunicativo existe uma emoção que o desencadeia (medo, ansiedade, frustração, protecção). Punir o cão que rosna não é resolver o problema que desencadeia o rosnar, mas apenas suprimir o sinal comunicativo em si (o cão deixa de rosnar porque fazê-lo leva a uma punição), e como tal, não está a ensinar ao seu cão como lidar com o sentimento que inicialmente desencadeia o rosnar. O seu cão pode sem aviso morder da próxima vez que sentir a mesma coisa, ou se vir confrontado com a mesma situação. Se pensar desta forma, irá entender que pode ajudar o seu cão ou pedindo ajuda a um profissional ou começando por analisar o que estimula a agressão.
No caso do cão que não vem quando é chamado se na vez de se frustrar em pensamentos de que o cão o está a desrespeitar e a fazer de propósito, reconsidere o que o seu cão sabe. Como é que ensinou a chamada? Generalizou o comando para aquele ambiente específico? O que está diferente hoje do resto dos dias? Praticou o suficiente? Tem recompensas adequadas? Procure as respostas em si e não transfira a responsabilidade para o seu cão, ao fazê-lo terá imediatamente mais espaço para melhorar. Pode generalizar mais, treinar mais, aumentar as recompensas, voltar um passo atrás na chamada, etc…
Mas se ficar preso ao conceito de respeito, então terá que descobrir uma forma eficaz de explicar ao seu cão o que é, como e quando este o deve respeitar!
Agressividade é um comportamento normal no mundo canino. Com isto não digo que devemos viver com o mesmo. Procurar ajuda profissional e ensinar o cão a aceder a comportamentos menos conflituosos e mais aceitáveis para a nossa vivência junta é imperativo, no entanto, isso não se fará pensando imediatamente em conceitos humanos que levam sempre a situações de “medições de força”, de “quem ganha e perde” de “quem manda em quem”.
Acerca do respeito, eu respeito muito os meus cães, e uso a minha inerente superioridade intelectual para me aperceber da forma como vivem, bem mais simples do que a nossa, mas nem por isso livre de nos ensinar a nós muitas lições de vida, sem ter que transmitir neles o que para eles não existe.
1 comentário:
Hola Claudia
Concordo totalmente con cada palavra tua. Nao sei onde li que em determinada medida o antropormofismo podia colocar o cao numa medida justa para que o compreendesemos melhor, penso que e um erro de base, pois assim desvirtuamos a comunicacao. Mas aqui ponho a questao: cada perspectiva e pessoal e a ciencia do comportamento e algo em constante avance, onde podemos ficar bloqueados pelos nossos prejuizos presentes? por exemplo ja ouviste falar de animal communicator? Antropormofismo o delirio?
Saludos
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