Tenho muitos clientes e conheço muitas pessoas que passaram pela experiência de treinarem os seus cães com métodos tradicionais. Tal como eu, algumas dessas pessoas, não aceitaram esses métodos. Não gostaram dos resultados, da forma como estes operam, do treinador ou dos métodos. Existem muitos motivos pelos quais muitas pessoas procuram métodos que não se baseiam em aversivos para educarem, treinarem e conviverem com os seus cães.
Esses motivos têm sido exaustivamente cobertos neste blog de variadas formas, mas desta vez, pedi que deixassem testemunhos reais das diversas experiências que tiveram com o uso destes métodos, do que sentiram, dos resultados que obtiveram, da forma como os veêm, e pedi autorização para os publicar cá.
Entendo que muitas pessoas não gostem de falar disso, conheço pessoas que se sentem mal com as escolhas feitas no passado, ou que se envergonham das mesmas, mas eu acho que tudo faz parte de um processo e que passar a palavra pode ajudar muita gente a pelo menos ponderar e repensar antes de escolher. Espero que estes testemunhos sejam uma outra forma de alerta para que escolham adequadamente, que se informem.
Obrigada a todos pelos testemunhos (podem ser lidos em primeira mão no fórum www.itsallaboutdogs.net na secção Treino com Aversivos) e se tiver uma experiência idêntica partilhe-a connosco e com os outros.
Quando o meu cão tinha 1 ano e pouco a
minha mulher veio com ele à rua e ele fugiu e esteve uma manhã (das 9h às 13h)
desaparecido. Depois demos com o cão a uns 2 quilómetros de casa. Nesse dia
procurei um treinador para o cão (porque eu já não tinha paciência para o
treinar). Recomendaram-me alguém que utilizava o método do clicker e o meu cão
ia ficar uma "máquina" obediente, eu nem tinha de ir aos treinos, era só
deixá-lo de manhã e ir buscá-lo ao final do dia (porque também tinha
sociabilização com outros animais). O treino durava 3 meses (2 dias por semana).
Eu só precisava de ir nas últimas aulas para o treinador passar os comandos para
mim.
Logo nas primeiras aulas comecei a achar estranho a utilização de
coleira estranguladora...
Um dia fui buscar o cão e umas das
funcionárias trouxe-me o cão com uma coleira de choques. E eu disse: "essa
coleira não é do meu cão. o treinador utiliza isso?" e ela disse que sim.
Percebi logo nesse momento que tinha sido aldrabado por alguém muito conceituado
na região, e o pior é que 500 euros já estavam do lado dele.
Mesmo assim
e por inexperiência acreditei no treinador até ao fim. Estava convencido que o
meu cão realmente ia ficar super obediente. Nos últimos dias o treinador diz-me
"pronto. o seu cão está impecável e já sabe tudo. é super obediente". Eu disse
"fale a sério. ele está como entrou, comigo não faz nada e tem andado muito
medroso". Ao que o treinador me respondeu "Isso é outra história... o cão já
está totalmente educado, agora falta educar o dono", "o dono tem de treinar
muito com ele e dar-lhe esticões na estranguladora sempre que ele desobedeça".
Saí dali imediatamente a chorar o meu dinheiro, o meu tempo e sobretudo
o trauma do meu cão.
Treino assim? Não, obrigado!
Npets
Eu também fiquei traumatizada quando contratei um treinador, para vir cá a casa, ensinar-me a "treinar" o meu cão (o primeiro cão; agora tenho 3). Então, o treinador chegava, punha a trela e lá íamos nós( cão, eu e treinador) passear.
Logo na primeira aula, o treinador começou a manipular o corpo do animal e mexeu-lhe na cauda. Imediatamente o cão rosnou- e então o que fez o treinador? Pura e simplesmente deu um murro no focinho do cãozito que começou logo a sangrar... Fiquei tão chocada, tão chocada, que despedi logo, o treinador que se justificou dizendo que: "qualquer dia o cão manda na dona..."
Outra vez, vinha eu na autoestrada e vi um "conceituado" treinador com um cão pela trela e a dar-lhe pontapés... Será que o dono saberá que o animal leva tareias do treinador?
Brigitte
Bem acho que as diversas histórias passam todas pelos mesmos motivos, as mesmas angústias, as mesmas constatações infelizes.
Na minha opinião, de quem ainda não fez nada de significativo no treino em termos de titulos, mas que há mais de 10 anos vê provas, workshops, formações, vai a aulas de agility, obediência, etc... existem dois tipos de pessoas no treino de cães, existem aqueles querem provar alguma coisa e os que querem passar bons momentos com os seus cães, eu sou uma destas segundas pessoas.
Desde a adolescência que queria perceber de treino de cães, porque nasci numa familia de caçadores, e o treino sempre fez parte da minha infância, não gostava de muitas coisas que via por duas razões os cães sofriam muito e os resultados eram escassos. Vi treinar cerca de 10 cães de parar na minha casa ao longo da minha infância e todos eles foram eficientes naquilo que se queria, no entanto todos desenvolveram comportamentos desapropriados que nunca se conseguiu resolver, usava-se muito aversivo, mas os cães acabam sempre por manter o comportamento ou reaparecia algum tempo depois, foram escassas as vezes em que resultou, mesmo assim os meus familiares argumentavam sempre que já estava melhor, que ia desaparecer, para a próxima seria mais rígido e mais doloroso... ai está o que dizia, tornaram o assunto pessoal, como se o cão estivesse numa luta mental contra eles e eles tinham de provar que eram mais fortes.
Depois, já em adulto, adoptei uma cadela, muito afável, muito brincalhonha, mas com problemas de socialização, com um medo enorme de pessoas estranhas, uma desconfiança de todas as pessoas que não tinha explicação, ia sendo mordido no primeiro dia que lhe fui fazer uma festa na cama dela, e nunca conseguiu ficar calma sem ver onde tinha as mãos enquanto lhe fazia festas ou mexia, sempre teve passeios em abundância em locais variados, mas não se notava nenhuma melhora. Então como não me assumia como entendido no assunto, procurei um treinador, fiz tudo o que me foi pedido, aliás ensinei à cadela obediência básica em 6 semanas, tal era o esforço e dedicação que apliquei ao treino. Com as técnicas do costume, esticões na trela, correcções quando interrompia o senta e o deita, voltar a colocar na posição, etc. Fiquei com uma cadela muito obediente, à excepção de quando via um outro cão e quando via uma pessoa vir direito a ela... resumindo o problema era o mesmo, nada se tinha alterado, ou melhor notava-a mais nervosa, mais ansiosa mesmo connosco, chegou inclusivé a rosnar à minha mulher, a morder ambos os gatos onde um deles teve de ser sujeito a duas cirúrgias resultantes de dentadas, mordeu numa outra cadela que tinhamos mais velha, etc , durante os treino.
Esta história acabou muito mal e fiz uma promessa a mim próprio, nunca mais iria por em causa a confiança do cão para treinar fosse o que fosse, nunca mais iria através da violência ensinar a paz. Percebi que ser treinador de cães é ser focado no cão, em mais nada (tiremos os olhos da taça), temos de o entender, de perceber o porquê e encontrar formas de comunicar com ele.
Qualquer pessoa que use sistematicamente um reforço negativo, um aversivo, algo que cause dor ou desconforto ao cão para o treinar fá-lo por achar que tem de ser, então está no meu entender errado à partida, não tem de ser assim, logo não deve ser assim... certo? Não deve ser!
Ninguém fala em santidades e demónios, eu não sou um santo, muitas vezes fico frustrado, irrito-me, mas aprendi a respirar fundo e passar em frente, porque esses sentimentos não vão ajudar no treino... se consumarmos com violência vemos o que já vi muitas vezes e que me partiu o coração... o olhar de desanimo e desilusão do nosso cão a olhar para nós a dizer ... como é que foste capaz... eu confiei em ti?!
Bons treinos positivos!
José Dores