Desde que me tornei uma treinadora de cães que ouço falar do Cesar Millan.
Não é segredo que treinadores que usam reforço positivo e tenham estudade a ciência da aprendizagem e comportamento usando-a para educar, treinar ou modificar comportamentos nos cães, não são fãs das técnicas usadas por este treinador – eu sou uma dessas treinadoras.
Quando comecei a informar as pessoas acerca dos métodos demonstrados no seu programa, tornei-me no alvo de criticas severas por aqueles que viam e gostavam do programa.
Com o tempo, apercebi-me de algo muito importante; apercebi-me que aqueles que falavam a favor do Cesar , faziam-no porque gostam do próprio Cesar, não tendo muito haver com métodos de treino.
Eles não falam a favor dele para justificar as suas técnicas, porque como não as entendem, como poderiam fazê-lo? As suas intervenções vão desde: “Tens é ciúmes!” até “Se ele não fizesse isso o cão seria eutanasiado” ou “Cesar Rocks!”.
No entanto, nenhum destes comentários mostram um verdadeiro conhecimento do que é que se vê na televisão, o que acontece quando alguém aplica uma técnica como o flooding, ou do que é que estamos a falar quando dizemos que o cão está em learned helplessness.
Também falo activamente contra o uso de quaisquer instrumentos de treino que têm por objectivo magoar ou pior bloquear as vias aéreas prevenindo o cão de....bom...respirar. Em resposta a isto normalmente sou confrontada com : “estranguladoras não magoam”, “ele está a fazer aquilo para salvar o cão” (note bem o “salvar o cão”) e é claro o velho “Tens é ciúmes”.
Portanto, será que estas pessoas acreditam mesmo que quando ele pendura um cão pela estranguladora que o cão consegue respirar? Será que acreditam mesmo que alguém não está a estrangular um cão ao aplicar pressão contínua no seu pescoço? Ou será que estão apenas à procura de motivos para justicar o que ele está a fazer?
Em quase todos os cursos ou seminários que dou, mostro episódios do Encantador de Cães. Faço-o porque sei que os donos de cães, não sabem o que devem procurar, ou o que devem ver. Faço-o especialmente porque acredito que se essas pessoas tiverem primeiro acesso à informação, irão invariavelmente e sózinhos “ver” as coisas de forma diferente. Portanto antes de lhes mostrar os vídeos, falo acerca do que é flooding e learned helplessness e explico as consequências do uso de reforço negativo e castigo positivo (e também explico o que estes são).
Explico por palavras simples, o que é que um cão poderá estar a sentir, quando tem muito medo de algo e é confrontado com esse algo de forma abrupta, sem escapatória e sendo punido sempre que expressa esse mesmo medo. Não é ciência nuclear, e a maioria das pessoas entendem.
A maioria das pessoas que depois veêm estes videos, reagem como se fosse a primeira vez que os estivessem a ver (felizmente para algumas pessoas é mesmo a primeira vez). Subitamente eles apercebem-se das coisas de forma diferente e eu deixo que ele tirem as suas próprias conclusões. Eu sei que algumas pessoas irão resistir e vão para casa sem estarem convencidos. Eles irão continuar a ver os seus programas e sentir-se-ão resistentes a aceitarem que existem outras formas de fazer as coisas.
Eu acho que eles se sentem traídos e que é isso que causa tanta resistência, porque imagino que é isso que uma pessoa sente se admitir que as técnicas que veêm e nas quais acreditavam não são o que eles pensavam ser, pelo menos foi assim que eu me senti. Eles provavelmente sentir-se-ão traídos pelo homem que disse “é assim que se faz”, “não faz mal fazer assim”, “é assim que se resolve este problema”.
Mas há mais! Existe a National Geographic por trás disto. Afinal de contas a National Geographic é para algumas pessoas o canal, revista e NOME de referência para programas acerca da natureza e dos animais.
Certamente a NG não iria apoiar um treinador que fizesse algo tão errado com os cães, não é? Bom, não é bem assim. A NG é apenas um canal de televisão, e como qualquer outro canal de televisão precisa de audiências para pagar as contas, ser notado e bem sucedido. De forma a tornar a NG um canal de sucesso, eles não contratam biólogos, etólogos ou treinadores para produzir um programa de treino de cães. Eles contratam produtores, promotores e todas as pessoas que são peritas a fazer dinheiro para o canal. E essas pessoas fazem-no muito bem! Eles não sabem nada acerca de cães, eles apenas querem fazer um programa que seja um sucesso e chegue às grandes audiências.
O programa precisa de ter uma música estranha, uma voz back-off e palavras chave tais como: energia, besta, domar, submissivo, atacar, zona vermelha, perigoso, curar, salvar e encantar. Uma das pessoas que trabalha com o Cesar é visto num dos seus Dvds a explicar como ele foi contratado para atiçar os cães antes das gravações começarem. Eles não podem ter um cão calmo e relaxado, eles precisam de um cão extremamente agitado, especialmente agressivo para se poder fazer um bom programa.
Portanto se o princípio é colocar o cão numa situação extrema, atiçando-o e fazendo-o demonstrar comportamentos inapropriados de propósito, então não existe espaço para ensinar ou aprender, apenas para o drama e um bom programa de televisão.
Você consegue imaginar um treinador numa situação destas a dizer: “Bom, vamos dessensibilizar o seu cão à mota e gradualmente expo-lo ao estímulo mantendo-o abaixo da linha de reacção”...primeiro construir um relacionamento com o cão, preparando-o para ser bem sucedido mantendo-o calmo e controlado, de forma a que se aperceba exactamente do que se passa ao seu redor e possa aprender e posteriormente apresentá-lo à mota a uma distância segura e gradualmente mudar o seu estado emotivo interno, tornando medo em expectativa e alegria. Soa muito bem, mas seria um programa de TV muito chato.
Serás que seria eficaz? Bom, para o cão muito, ele aprenderia a adorar motas para sempre e duma forma divertida! Milhares de treinadores pelo mundo fora, lidam com cães agressivos ou com outros problemas de comportamento desta forma e são capazes de tornar cães agressivos, medrosos ou problemáticos em cães sociáveis, alegres e bons companheiros. Mas e seria bom para o canal de televisão? Nem por isso, um programa desses não teria mordidas, gritos, ganidos, ladridos, cães a tentarem respirar, o que iria significar ausência de drama e que por sua vez significaria menos audiências.
Portanto sim, eles endorsam e fazem um programa de tv com um treinador de cães cujos métodos são antiquados e causam danos e consequências para os cães e para os donos dos que tentam estes métodos em casa (e são muitos os que tentam).
Mas existirão sempre aqueles cépticos, aqueles que preferem pensar que o mundo não é governado por dinheiro e interesses materiais, e vão acreditar que a NG mostra o Encantador de Cães porque ele é o melhor treinador de cães do mundo (mesmo que anteriormente ao programa ele fosse apenas mais um treinador) e que o Cesar faz o que faz porque ele não tem escolha e porque salva cães. Especialmente porque “Cesar rocks” e claro “Temos é ciúmes!”.
Não é segredo que treinadores que usam reforço positivo e tenham estudade a ciência da aprendizagem e comportamento usando-a para educar, treinar ou modificar comportamentos nos cães, não são fãs das técnicas usadas por este treinador – eu sou uma dessas treinadoras.
Quando comecei a informar as pessoas acerca dos métodos demonstrados no seu programa, tornei-me no alvo de criticas severas por aqueles que viam e gostavam do programa.
Com o tempo, apercebi-me de algo muito importante; apercebi-me que aqueles que falavam a favor do Cesar , faziam-no porque gostam do próprio Cesar, não tendo muito haver com métodos de treino.
Eles não falam a favor dele para justificar as suas técnicas, porque como não as entendem, como poderiam fazê-lo? As suas intervenções vão desde: “Tens é ciúmes!” até “Se ele não fizesse isso o cão seria eutanasiado” ou “Cesar Rocks!”.
No entanto, nenhum destes comentários mostram um verdadeiro conhecimento do que é que se vê na televisão, o que acontece quando alguém aplica uma técnica como o flooding, ou do que é que estamos a falar quando dizemos que o cão está em learned helplessness.
Também falo activamente contra o uso de quaisquer instrumentos de treino que têm por objectivo magoar ou pior bloquear as vias aéreas prevenindo o cão de....bom...respirar. Em resposta a isto normalmente sou confrontada com : “estranguladoras não magoam”, “ele está a fazer aquilo para salvar o cão” (note bem o “salvar o cão”) e é claro o velho “Tens é ciúmes”.
Portanto, será que estas pessoas acreditam mesmo que quando ele pendura um cão pela estranguladora que o cão consegue respirar? Será que acreditam mesmo que alguém não está a estrangular um cão ao aplicar pressão contínua no seu pescoço? Ou será que estão apenas à procura de motivos para justicar o que ele está a fazer?
Em quase todos os cursos ou seminários que dou, mostro episódios do Encantador de Cães. Faço-o porque sei que os donos de cães, não sabem o que devem procurar, ou o que devem ver. Faço-o especialmente porque acredito que se essas pessoas tiverem primeiro acesso à informação, irão invariavelmente e sózinhos “ver” as coisas de forma diferente. Portanto antes de lhes mostrar os vídeos, falo acerca do que é flooding e learned helplessness e explico as consequências do uso de reforço negativo e castigo positivo (e também explico o que estes são).
Explico por palavras simples, o que é que um cão poderá estar a sentir, quando tem muito medo de algo e é confrontado com esse algo de forma abrupta, sem escapatória e sendo punido sempre que expressa esse mesmo medo. Não é ciência nuclear, e a maioria das pessoas entendem.
A maioria das pessoas que depois veêm estes videos, reagem como se fosse a primeira vez que os estivessem a ver (felizmente para algumas pessoas é mesmo a primeira vez). Subitamente eles apercebem-se das coisas de forma diferente e eu deixo que ele tirem as suas próprias conclusões. Eu sei que algumas pessoas irão resistir e vão para casa sem estarem convencidos. Eles irão continuar a ver os seus programas e sentir-se-ão resistentes a aceitarem que existem outras formas de fazer as coisas.
Eu acho que eles se sentem traídos e que é isso que causa tanta resistência, porque imagino que é isso que uma pessoa sente se admitir que as técnicas que veêm e nas quais acreditavam não são o que eles pensavam ser, pelo menos foi assim que eu me senti. Eles provavelmente sentir-se-ão traídos pelo homem que disse “é assim que se faz”, “não faz mal fazer assim”, “é assim que se resolve este problema”.
Mas há mais! Existe a National Geographic por trás disto. Afinal de contas a National Geographic é para algumas pessoas o canal, revista e NOME de referência para programas acerca da natureza e dos animais.
Certamente a NG não iria apoiar um treinador que fizesse algo tão errado com os cães, não é? Bom, não é bem assim. A NG é apenas um canal de televisão, e como qualquer outro canal de televisão precisa de audiências para pagar as contas, ser notado e bem sucedido. De forma a tornar a NG um canal de sucesso, eles não contratam biólogos, etólogos ou treinadores para produzir um programa de treino de cães. Eles contratam produtores, promotores e todas as pessoas que são peritas a fazer dinheiro para o canal. E essas pessoas fazem-no muito bem! Eles não sabem nada acerca de cães, eles apenas querem fazer um programa que seja um sucesso e chegue às grandes audiências.
O programa precisa de ter uma música estranha, uma voz back-off e palavras chave tais como: energia, besta, domar, submissivo, atacar, zona vermelha, perigoso, curar, salvar e encantar. Uma das pessoas que trabalha com o Cesar é visto num dos seus Dvds a explicar como ele foi contratado para atiçar os cães antes das gravações começarem. Eles não podem ter um cão calmo e relaxado, eles precisam de um cão extremamente agitado, especialmente agressivo para se poder fazer um bom programa.
Portanto se o princípio é colocar o cão numa situação extrema, atiçando-o e fazendo-o demonstrar comportamentos inapropriados de propósito, então não existe espaço para ensinar ou aprender, apenas para o drama e um bom programa de televisão.
Você consegue imaginar um treinador numa situação destas a dizer: “Bom, vamos dessensibilizar o seu cão à mota e gradualmente expo-lo ao estímulo mantendo-o abaixo da linha de reacção”...primeiro construir um relacionamento com o cão, preparando-o para ser bem sucedido mantendo-o calmo e controlado, de forma a que se aperceba exactamente do que se passa ao seu redor e possa aprender e posteriormente apresentá-lo à mota a uma distância segura e gradualmente mudar o seu estado emotivo interno, tornando medo em expectativa e alegria. Soa muito bem, mas seria um programa de TV muito chato.
Serás que seria eficaz? Bom, para o cão muito, ele aprenderia a adorar motas para sempre e duma forma divertida! Milhares de treinadores pelo mundo fora, lidam com cães agressivos ou com outros problemas de comportamento desta forma e são capazes de tornar cães agressivos, medrosos ou problemáticos em cães sociáveis, alegres e bons companheiros. Mas e seria bom para o canal de televisão? Nem por isso, um programa desses não teria mordidas, gritos, ganidos, ladridos, cães a tentarem respirar, o que iria significar ausência de drama e que por sua vez significaria menos audiências.
Portanto sim, eles endorsam e fazem um programa de tv com um treinador de cães cujos métodos são antiquados e causam danos e consequências para os cães e para os donos dos que tentam estes métodos em casa (e são muitos os que tentam).
Mas existirão sempre aqueles cépticos, aqueles que preferem pensar que o mundo não é governado por dinheiro e interesses materiais, e vão acreditar que a NG mostra o Encantador de Cães porque ele é o melhor treinador de cães do mundo (mesmo que anteriormente ao programa ele fosse apenas mais um treinador) e que o Cesar faz o que faz porque ele não tem escolha e porque salva cães. Especialmente porque “Cesar rocks” e claro “Temos é ciúmes!”.