domingo, 7 de setembro de 2008

O cão na sua sala-de-estar por Barry Eaton

Se tem um cão, será você o líder da matilha? Tem a certeza que com a mãe, o pai, as crianças e o cão, é o cão que tem o status mais baixo do pack?

Há muitos anos para cá, que é dito aos donos de cão que estes têm que ser os líderes da matilha. Que todos na família têm que ser dominantes sob o cão, ou este poderá tornar-se dominante sobre eles. Algum sinal de fraqueza humana, e o cão com um predisposição dominante poderá tirar partido e tentar um status mais alto dentro do “pack”. Isto, somos ditos, faz com problemas comportamentais se desenvolvam, ou a que o cão seja teimoso e desobedeça comandos.
Se isto acontecer somos aconselhados a implementar um Programa de redução de rank, que inclui entre outras coisas, comer sempre antes do cão, não permitir que ele durma na cama, não jogar jogos de tug-of-war e não permitir que passem pelas portas primeiro. Em adição a isto, como o antepassado do cão é o lobo, os programas de redução de rank são baseados em comportamento lupino, apesar do facto de que temos um cão na nossa sala de estar, não um lobo.


Novas pesquisas e novas teorias do comportamento canino revelaram-se recentemente, e como tal, apenas por interesse vamos olhar para a vida de um cão sob uma perspectiva diferente. A primeira questão que temos que considerar é e o cão é um animal de matilha. De acordo com o etologista Ray Coppinger, não. Ele estudou um grupo de cães ferais que viviam á volta de uma aldeia. Eles tinham todos os meios de sobrevivência à sua disposição, comida das lixeiras da aldeia, água e protecção e como tal não existia motivo para que ele formassem matilhas. Eles viviam uma vida semi-solitária ou em grupos pequenos, provavelmente uma mãe e os seus cachorros. Nós sabemos que os cães são animais sociais, tal como nós, e é por isso que conseguimos viver juntos debaixo do mesmo tecto. Como tal, com base nas pesquisas feitas por Coppinger, como damos aos nossos cães comida, água e acomodação 5 estrelas, olhamos pela saúde deles e damos-lhe exercício, porque é que eles haveriam de querer formar uma matilha connosco?


Outro aspecto da teoria da matilha é que tende a ser conspecífica; ou por outras palavras são constituídas por membros da mesma espécie. Como tal, cães e pessoas não podem formar uma matilha na verdadeira assessão da palavra; um grupo social, sim, mas não uma matilha. Os cães não pensam como nós, não se comportam como nós, não cheiram como nós ou vivem pelos mesmos valores do que nós. Dados estes factos, não deveriamos questionar se o cão que está na nossa sala de estar estará mesmo á procura de oportunidades para aumentar o seu status?
Antes da sua triste e trágica morte, John Fisher começara a questionar-se se os cães se viam como parte do uma matilha e se eles deveriam viver sob regras que supostamente reforçam a nossa posição como líderes de matilha. Infelizmente ele não teve oportunidade de colocar por escrito muitas das suas visões modificadas, apesar de que uma das coisas que ele publicou foi “... se é como se vive com os cães eu tenho notícias que irão desapontar muitas pessoas que almejam o status de Alpha – tudo isso não quer dizer pévias para o seu cão.”


Acho que vale a pena questionar algumas das regras de matilha que nos são ditas como forma de educar os nossos cães para que estes não se tornem dominantes. Nunca se esqueça que essas regras existem baseadas no comportamento dos lobos e não no comportamento dos cães.


Comer antes do cão, porque o Alpha come sempre primeiro. Então chegamos a casa com o nosso novo cachorro, chamamos a família, comemos uns biscoitos e depois podemos colocara comida do cachorro no chão. O que é que será que o cachorro vai realmente entender disto? Não muito! De acordo com pesquisas feitas por David Mech, numa matilha de lobos que anda à solta, se a presa fôr suficientemente grande, não existe ordem, e todos os lobos comem em conjunto. Se a comida fosse pouca, os cachorros comeriam primeiro. A progenitora investiu 50% dos seus genes nos seus cachorros e para assegurar a sua sobrevivência, ele dar-lhe-ia a porção dela. O nosso comportamento em fazer o cachorro esperar poderá causar stress ou talvez encorajá-lo a saltar de forma a tentar chegar à comida.

Atravessar as portas antes do cachorro porque os lobos submissos ficam de lado e deixam o lobo Alpha passar por pequenas aberturas primeiro. Como a comunicação entre cães é diferente da comunicação entre cães e humanos, irá o cachorro entender a mensagem por trás deste comportamento? Não conseguimos nem de longe mimicar a linguagem corporal ou expressões faciais e como tal o objectivo deste exercício é inútil para o cão.


Um cão que puxa na trela está a tentar tomar conta do passeio, tal como um lobo dominante o faria, e decide para onde quer ir. OK, então um cão a caminhar para o parque puxa na trela, porque esta excitado com a ideia de ir passear ao sítio favorito dele, o parque. No caminho para casa, quando está cansado, já não puxa tanto. Então deveremos deduzir que o cão está a ser dominante no caminho para o parque e submisso no caminho para casa? Senso comum diz que não.


A comparação entre o comportamento dos nossos cães e o comportamento dos lobos é enganoso. Apesar do cão se ter descedentes do lobo, este último mudou quase nada. Nós, ao contrário, produzimos raças de todos os tamanhos e feitios.. Temos raças com diferentes cores, tipos de pêlo, tamanho e alguns mesmos em pelo nenhum! Temos cães com diferentes posições, orelhas e caudas. Criamos raças para guardar, procurar, puxar trenós, caçar e para não fazer nada senão dormir nos nossos sofás. Os cérebros dos cães mudaram: são mais pequenos que os dos lobos. São motores inatos de padrões diferentes, e motivações diferentes. Um cão não é um lobo vestido de cão; é simplesmente um cão!


É claro que não existem garantias que um cão não vá desenvolver problemas comportamentais, mas existem muitos passos que podem ser tomados para minimizar esse risco. Escolha uma cachorro de um criador que crie ninhadas dentro de casa, para que estes se começem a acostumar a barulhos de pessoas e da casa. O criador deverá também iniciar o processo de socialização, que deverá continuar assim que o cachorro chegue à sua nova casa. Ensine-lhe as regras de casa, para que o cachorro saiba o que pode e não pode fazer. Se um cão grande não pode deitar no sofá, não o encorage a fazer isso quando é cachorro. Comece o ensino de obediência básica utilizando métodos de reforço positivo para que o cachorro acabe sendo um bem socializado e bem comportado.


Não temos que ser Alphas, dominantes ou líderes de matilhas, nem o nosso cão. Tudo o que precisamos é sermos donos responsáveis por guiar os nossos cães, moldar e influenciar o seu comportamento através de uma boa socialização para que vivam em harmonia connosco.

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