sexta-feira, 28 de novembro de 2008


A teoria da dominância está desesperadamente a necessitar de uma substituição. Schenkel protestou no instante que a teoria foi usada para explicar a organização social de lobos, mas por algum motivo, as pessoas ignoraram-no. Não demorou muito a que o mesmo mito fosse aplicado aos cães.

Nem sequer podemos chamar a isto má aplicação da ciência, porque na realidade não é sequer ciência.

O seguinte documento publicado de Semyonova, A., 2003, “The social organization of the domestic dog; blowing up the dominance myth”, The Carriage House Foundation, The Hague, é baseado no estudo publicado que estudou a interacção social entre cães.

Em seguida transcrevo o abstracto do documento e deixo o link para o estudo em si, que está em inglês.

Abstracto


A teoria de que uma hierarquia baseada em relações dominantes é o principal princípiopelo qual se regem os grupos do tipo lupus familiaris é uma projecção humana que precisa de ser substituida. Para além disso, o modelo foi sem justificação possível transferido do seu propósito original na discussão do comportamento de lobos para a discussão do comportamento de cães. Este documento representa um novo e mais adequado modelo de como os familiaris se organizam quando estão em grupos. Este documento está baseado num estudo longitudinal de um grupo de 5 cães arbitrários a viverem no seu habitat natural, enquanto interagem uns com os outros dentro do grupo, com novos membros de várias espécies a juntarem-se ao grupo e com o encontro de vários indivíduos de outras espécies no ambiente externo.


Este estudo mostra que a existência do fenómeno da “dominância” é questionável, mas que em todo o caso a “dominância” não opera como um princípio na organização social dos cães domésticos. As hierarquias dominantes não existem e são de facto impossíveis de serem construídas sem se entrar no mundo da projecção e da fantasia humana.


As hipóteses foram testadas através de repetidos sistemas caóticos e observando se o modelo previa a evolução de cada novo sistema. O estudo mostrou que os grupos sociais domésticos devem ser vistos como sistemas *autopoiésicos complexos, onde o comportamento primário e sistemático é gravitação, o mais rápida possível, para uma divisão estável da “paisagem social” de forma a que cada animal presente esteja seguro numa “colina” e não seja ameaçado por outros elementos do grupo. A agressão não é usada na divisão desta “paisagem social”. É impossível para um observador estabelecer as “alturas” destas “colinas”. Não existe hierarquia entre os animais.


A organização do sistema é baseada em binómios, que são convertidos pelos agentes, o mais rapidamente possível, de competitivos para binómios complementares ou cooperativos, através de domínios de consenso.


Os processos de produção através do quais,isto é conseguido, detêm duas partes.


A primeira é um elegante,e claro, mas aprendido, sistema de gestos comunicacionais que permitem aos animais orientarem-se entre eles de forma adequada e emitir respostas apropriadas de forma a manter e restabelecer a estabilidade das suas “colinas” e da “paisagem social” em geral.


A segunda é aprendizagem da história de cada animal, que irá permitir estabelecer as capacidades de cada um em operar dentro desses sistema e quais os componentes da sua individualidade que definirão a sua “colina”, o que é bem mais importante do que factores presumivelmente genéticos ou posições dominantes fabricadas por nós.



Semyonova, A. 2003, The social organization of the domestic dog; a longitudinal study of domestic canine behavior and the ontogeny of domestic canine social systems, The Carriage House Foundation, The Hague, http://www.nonlineardogs.com/embed-SocOrg.html , version 2006.

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