quinta-feira, 30 de julho de 2009
Seminário em Cucujães
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Treinos, treinadores e técnicas
Treinos, treinadores e técnicas é um texto escrito por Sara Favinha no seu blog Tudo de Cão e que eu "roubei" e postei aqui por ser um texto que considero importante que se leia. Espero que gostem tanto de o ler como eu. Em cima uma foto do Leo da Sara e do sua cadela linda a Meg.
Não encontrei um título melhor para esse post. Parar e lembrar da época em que comecei a treinar animais se tornou algo motivador. Muitas pessoas nos procuram para iniciar nessa área. Algumas delas já possuem algum conhecimento, outras não. Algumas já treinaram diversos cães, com outros métodos, e nos olham surpresas treinando os nossos.
Eu e Leo somos muito parecidos em alguns aspectos, mas dois chamam a atenção. Nossa necessidade de aprender e nosso aperfeiçoamento constante. Parecemos dois malucos, daqueles bem esquisitos e cheios de manias, testando e experimentando constantemente. Qualquer comportamento diferente é motivo para uma conversa de pelo menos meia hora. E isso minha gente, enriquece demais uma pessoa.
Quando comecei, eu não sabia ler os cães e achava que treinar era só aprender a ensinar os comandos. Não imaginava que treinar estava intimamente ligado à compreensão do comportamento animal, da aprendizagem, da linguagem, das técnicas e suas nuances. Hoje enxergo um mundo tão complexo com um simples "Senta". Nos primeiros 5 min de um primeiro encontro com um novo aluninho, já se torna óbvia a relaçao que o cão tem com o dono e qual seu grau de socialização, o quão confiante ele é, e enquanto o dono vai falando, pergunto sobre alguns sintomas e comportamentos, o que faz parecer que sou vidente. Quando percebi isso compreendi: o primeiro degrau já foi alcançado.
Se compararmos a mudança do nível técnico do treinamento de animais no Brasil há 10 anos e hoje, ficamos assustados. Logicamente existem pessoas que treinam da mesma forma, mas há outras, principalmente as mais novas, que estão realmente interessadas em algo diferente.
Meu próprio treino mudou muito, nas técnicas, na abordagem, na dinâmica, na sequência, nas coisas novas que fui aprendendo e incorporando, na habilidade de conversar com os donos, etc. E espero que daqui a 10 anos, eu olhe prá trás e veja novamente outra Sara, muito diferente.
Um exemplo prático é quando uma pessoa me procura e conta todo o histórico de punições que aplicou no cãozinho. Saímos na rua e ela dá um tranco atrás do outro no pobre coitado. Quando eu explico para ela que punição não é a maneira mais eficaz de ensinar, sou olhada com espanto. 'Mas foi assim que aprendi Sara, é assim que vejo na televisão, em diversos canais!' Aí eu faço duas perguntas bem simples: - Como você gosta de aprender? Como você aprende melhor?
É necessário que os treinadores entendam que:
1. Trancos realmente machucam os cães. Eles são absolutamente desnecessários. Não busque resultados rápidos, se forem prejudiciais aos cães. Busque resultados eficientes e duradouros. Um cão pode ficar paraplégico por receber sucessivos trancos.
2. Punição só extingue comportamento quando é aplicada 100% das vezes em que o comportamento ocorre e/ou se for traumática (o que significa que gerará diversos efeitos colaterais e medo ou fobia).
3. Qualquer animal (estamos incluídos, amigos!), aprende de forma muito mais eficaz e consistente quando não está com medo.
Eu senti isso na pele e essa experiência foi ótima para que eu pudesse entender o mecanismo da coisa. Quando quebrei o joelho, além de toda a dor que tive, passei por alguns exames físicos de patela dolorosos. Era entrar no consultório eu já começava a suar.
Depois, tive um episódio de pedra no rim, em que passei por exames de ultrassom traumatizantes para qualquer ser humano. Quando voltei para o médico (olha a associação negativa), nem me lembro se era do joelho ou do rim, meu corpo começou a tremer. Eu até que estava tranquila, mas a memória das associações foi tão forte que meu corpo simplesmente respondeu. Eu tremia muito, até a boca, a ponto de quase não conseguir falar com a pessoa, que perguntou se eu estava com frio.
Eu tentava me controlar e sabia na minha cabecinha inocente, que não iria passar por nenhum procedimento tão doloroso naquele momento. Fui até o banheiro e fiz uma 'respiração de grávida', mas o resultado não foi imediato. Senti realmente a adrenalina e as reações corporais ao simples estímulo de estar no local e com a pessoa que antes havia associado negativamente. Na hora lembrei dos pobres cachorrinhos no veterinário ou no banho e tosa. E entendi na prática porque muitos deles não aceitam comida nessas situações. Bem, eu realmente não iria conseguir comer uma torta de chocolate naquela hora, e até me forcei a imaginar a sensação, para entender a incompatibilidade da coisa. Esperei para ver quanto tempo depois eu sentiria fome, e demorou umas 3 horas. O mecanismo do meu sistema digestivo estava totalmente suprimido.
Todas as vezes que provocamos medo nos animais, uma associação negativa é criada. Mesmo que a pessoa 'finja' que ela não foi a causadora do susto ou da dor, o cão é suficientemente esperto para relacionar a presença da pessoa à situação. Quando se monta armadilhas, um dos efeitos colaterais é o medo generalizado do ambiente. Em outras situações, que deveriam ser normais para os cães, como passeio na rua, visita ao veterinário, andar de carro, encontrar outros cães, receber visitas, podem ocorrer associações negativas sem que a gente nem perceba.
Quando começamos a expor o filhote, dentro e fora de casa, as associações estão sendo imediatamente criadas, à medida que o cãozinho conhece pela primeira vez a grande variedade de estímulos a que estamos expostos em um dia normal. Estas associações vão sendo reforçadas na segunda, terceira, quarta vez. Em alguns casos ocorre um imprinting imediato, ou seja, a associação é criada na primeira exposição ao estímulo. Geralmente ocorre de forma mais intensa com associações negativas, pois disso depende a 'sobrevivência' do cãozinho, pelo menos na cabeça dele (fugir, se esconder, paralisar, atacar).
Por isso, é muito importante:
4. Criar associações positivas com os mais variados estímulos, o máximo que conseguirmos, em diversas sessões consecutivas.
Voltando aos tempos em que comecei a aprender como ensinar o cãozinho a Sentar*, eu também não compreendia que tudo isso leva tempo. Não adianta entupir um aspirante super entusiasmado com o montante de informação e experiência que temos. Isso precisa ser digerido, aplicado pouco a pouco, associado com experiências e conclusões próprias, e um desenvolvimento do feeling e da capacidade de percepção na observação dos comportamentos, que é gradual, e cada um tem seu tempo. Foi exatamente isso que ocorreu comigo*. Por isso acho que essa leva de novos adestradores ainda pode render muitos bons frutos.
* O comando Senta pode não ser tão simples como parece. Pense no seu cão, há 15 metros de distância de você, na Avenida Paulista, respondendo ao seu comando para sentar, com latência zero e foco 100%. Simples não?
* Ficamos extremamente felizes quando vemos alguém que fez nossos cursos ou estágio, conseguindo resolver sozinha um problema, criando novas soluções (e nos ensinando também).
sexta-feira, 17 de julho de 2009
Atreva-se a ver...atreva-se
Aqui fica as introduções ao vídeo, o link está abaixo
- RIDICULARIZAÇÃO
- OPOSIÇÃO VIOLENTA
- ACEITAÇÃO
“Concordamos que os animais não tenham todos os desejos que os humanos têm. Concordamos que não compreendam tudo aquilo que nós humanos compreendemos. No entanto, eles e nós temos desejos idênticos e compreendemos coisas que eles também compreendem. Os desejos por comida e água, abrigo e companhia, liberdade de movimentos e de não sentir dor. Estes desejos são partilhados por animais humanos e não-humanos.
Como os humanos, muitos animais não humanos entendem o mundo no qual vivem, senão não poderiam sobreviver. Portanto, apesar de todas as diferenças existe igualdade. Comos nós, estes animais encorporam o maravilhoso mistério da consciência. Como nós eles não estão apenas no mundo, eles estão cientes do mesmo. Como nós eles são o centro psicológico de uma vida que é somente sua. Nestes princípios fundamentais, os humanos estão lado a lado com os porcos, as vacas, galinhas e perus. Qual é a nossa obrigação com estes animais, como devemos tratá-los moralmente, são perguntas cujas respostas começam com o reconhecimento da nossa semelhança psicológica com eles.
O vencedor do prémio Nobel Isaac Bashevis Singer escreveu no seu livro de maior sucesso, Enemies – uma história de amor, o seguinte:
“ Por mais que Herman testemunhasse o abate de animais e peixes, ele tinha sempre o mesmo pensamento: no seu comportamento em relação aos animais todos os homens são nazis. A presunção de que o homem pode fazer com outras espécies o que quiser delas exemplificam as teorias racistas mais extremistas a lei do mais forte.”
No seu livro “The outermost House” o autor Henry Beston escreveu:
“Nós precisamos de um conceito mais novo, sábio e talvez mais místico dos animais. Longe da natureza e vivendo através de artifícios complicados, o homem e a sua civilização observa as criaturas através do vidro do seu conhecimento e vê portanto, apenas detalhes e a imagem global distorcida. Nós somos paternalistas porque eles são incompletos, pelo seu trágico destino de terem tomado forma tão abaixo de nós. E nisto nós erramos gravemente. Pois os animais não deveriam ser julgados pelos homens. Num mundo mais velho e mais completo do que o nosso, eles movimentam-se completos, dotados com sentidos que nós perdemos ou nunca chegamos a obter, vivendo guiados por “vozes” que nunca ouviremos. Eles não são irmãos, eles não estão abaixo de nós, eles são outras nações, presos connosco na rede desta vida e deste tempo, companheiros prisioneiros do esplendor e trabalho do planeta Terra”.
sábado, 4 de julho de 2009
OS VERDADEIROS DOG WHISPERERS
Os treinadores que são os verdadeiros símbolos do uso de técnicas de reforço positivo usam SEMPRE os métodos e técnicas mais gentis para ensinar os cães. Nós somos mais do que apenas alguém que “teve cães a vida toda” e simplesmente “apanharam” algumas técnicas pelo caminho. Treinadores e comportamentalistas positivos têm centenas de horas de estudos profissionais em psicologia e comportamento animal. Nós estudamos como os humanos processam os seus pensamentos, como os cães processam os seus pensamentos e porquê é que são diferentes. Nós sabemos que o melhor ambiente para aprendizagem é aquele que não envolve medo porque o cérebro absorve informação mais rapidamente e com mais precisão quando não existe medo no processo de aprendizagem. Nós sabemos que existe uma diferença entre liderança e tentar ser o “alpha” – porque compreendemos que não somos cães, mas somos uma espécie completamente diferente, e que não podemos efectuar os mesmos comportamentos que um cão efectua eficazmente….e que, na melhor das hipóteses, apenas podemos superficialmente imitar as suas acções - mas nunca poderemos construir comunicações caninas verdadeiramente idênticas. Não podemos porque somos espécies diferentes com especificidades biológicas diferentes e como tal as nossas tentativas são no melhor artificiais. Não sabemos ladrar, não sabemos rosnar, não nos pegamos uns aos outros pelos cachaços, nem nos atiramos uns aos outros ao chão para comunicarmos poder – a menos que queiramos provocar uma luta.
Sabemos que ferramentas usadas para intimidar resultam num estado chamado “learned helplessness” e que este estado emocional não é o mesmo que uma verdadeira modificação comportamental efectuada com conhecimento adequado. Percebemos o conceito de escolha e como ajudar um animal a escolher com inteligência o caminho que queremos sem medo de ter um castigo atirado na sua direcção. Não usamos estranguladoras, coleiras de choque, coleiras de bicos, garrafas que esguicham água, sacos com moedas, jornais, joelhadas, beliscões, enforcamentos, esticões, bater, gritar, atirar, torcer, ladrar, rosnar, sons estranhos como “tsss”, abanar cachaços ou alpha rollovers.
Nós sabemos que é importante não usar estes técnicas porque sabemos que elas têm o potencial de fisicamente magoar o cão assim como influenciar o nosso sucesso. Sabemos que misturar o castigo ou a intimidação com recompensas, resulta num cão confuso, que recai no estado de “helplessness”, e não num cão que aprendeu qual o comportamento que queremos e que o escolhe voluntariamente. Se um treinador vos disser que usa métodos positivos e depois usar uma das técnicas ou ferramentas descritas acima, não é definitivamente um treinador que usa métodos positivos.
Os treinadores verdadeiramente positivos, têm sido chamados de “treinadores com salsichas”, “treinadores com comida”, “treinadores que põem salsichas nos narizes dos cães” e “treinadores softs” – não para serem levados a sério. No entanto, somos os treinadores que sabem como ensinar um golfinho a detectar uma bomba…ou uma baleia assassina a saltar por um anel de fogo…ou um rato a encontrar uma mina terrestre…ou um poodle a detectar cancro….ou um Golden Retriever que detecta epilepsia…ou um labrador que ligas as luzes quando você não consegue lá chegar…ou um papillon a telefonar para o 112 quando você precisar de assistência…ou um Collie a calmamente ouvir enquanto uma criança com dislexia lê para o cão…ou um Maine Coon a fazer um percurso de agility…ou a ensinar uma abelha a detectar explosivos.
Por favor considere isto: um golfinho ou baleia assassina não irão tolerar uma estranguladora nem irão aceitar a força, medo ou intimidação como técnicas de treino, sem uma reposta agressiva para com o treinador. Se nós conseguimos treinar estes animais com reforço positivo sem estranguladoras, correcções ou coleiras de choque – porque pensamos que estas são necessárias ou apropriadas para usarmos nos cães?
Não são necessárias, porque existem alternativas superiores, mais avançadas que respeitam o bem-estar do animal. Não existe hoje em dia nenhum motivo que justifique o uso de uma ferramenta ou técnica que incite o medo, força ou intimidação no animal. Trabalhe com um treinador que estudou comportamento animal e eles podem-lhe ensinar como você pode treinar o seu cão com a sua inteligência e não com a sua força.
Os verdadeiros treinadores que usam reforço positivo, são os treinadores que usam métodos que são muito idênticos aqueles usados com crianças, usando motivação e recompensas que podem incluir incentivo, brinquedos, brincadeira ou mesmo comida. Nós somos os treinadores que usam marcadores verbais e clickers. Os verdadeiros treinadores que usam reforço positivo, ensinam usando os instintos naturais dos cães e não têm necessidade de constantemente ter um cão numa estranguladora ou administrar choques eléctricos ao mesmo, até que este faça o que queremos. Somos os treinadores que melhor entendem o temperamento do seu cão e que o ensinam sem gerar medo, medo de si, numa tentativa de lhe dar poder. Mas antes, o ensinam a estabelecer uma equipa com o seu cão, para criar nele um desejo natural de fazer tudo o que você quer. Somos os treinadores que conseguem ensinar o seu cão desde os comportamentos mais básicos ao mais complexos, desportos e trabalho policial e de guarda.
Nós somos os verdadeiros “dog whisperers” – encantadores de cães.
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