terça-feira, 27 de setembro de 2016

Estranguladoras ou Enforcadoras de bicos, são eficazes?

A eficácia de um determinado instrumento de treino, nunca deveria ser o motivo pelo qual o usamos. Tentar chegar a um objectivo, sem olhar a meios é não só eticamente errado na aplicação desses meios em seres sencientes, como absolutamente desnecessário.

A pergunta, portanto, está errada, mas vamos responder. Sim, estranguladoras e ou enforcadoras de bicos, resultam e isto é um facto científico. Isto, claro, se forem bem usadas. Ao contrário, do que muitos pensam, estas coleiras, para serem bem usadas significa que se devem tornar aversivas.

Mas o que é um aversivo? Um aversivo é um evento ou estímulo que causa medo, desconforto ou dor de forma a que o animal o queira evitar.



Assim para que estas coleiras resultem, é imperativo que as coleiras e o seu uso seja aversivo, ou então, não funcionam e tornam-se inócuas. Precisamente o oposto daquilo anunciado por muitos, que anunciam que o uso destas coleiras, “se bem feito não dói”, elas têm que causar dano ou dor para funcionarem e isto é um facto científico.

Analisemos um exemplo prático. Estas coleiras são usadas, infelizmente, para muitos propósitos, mas o mais visto é para impedirem que os cães puxem quando andam de trela. Assim que o cão puxa, os tutores são aconselhados a darem um esticão na trela de forma a “dizer ao cão que não deve puxar”.
Muitos treinadores, vendedores de lojas, vizinhos, conhecidos, artigos de internet etc. afirmam que as coleiras simplesmente “chamam a atenção” do cão e que não doem.  Existem muitas falhas nessa afirmação, se o cão não sentir dor ou desconforto, ele continuará a puxar, porquê parar?

O cão puxa e no momento em que puxa sente uma dor que pára no momento em que ele alivia a marcha. Ao fim de algumas repetições o cão começa a perceber que para evitar sentir a dor, basta caminhar mais devagar e evitar chegar ao fim da trela. O uso destas coleiras trazem outras complicações, cientificamente provadas entre estas: medo, comportamentos agressivos, comportamentos obsessivo compulsivos, deterioramento do relacionamento com a pessoa, fobia ambiental, etc..

Podem existir pessoas que não se importem de causar dano ou dor aos seus cães para atingir resultados, a escolha é de cada um, mas será importante que entendam que existem outras formas que não causam nem dano, nem dor, e que atingem o mesmíssimo objectivo, para além de evitarem os danos colaterais descritos acima.

Portanto a pergunta certa é sem dúvida, coleiras estranguladoras ou enforcadoras de bicos são necessárias? A resposta é simples. Não.

Qualquer treinador que sabe como aprendem os cães e que tenha experiencia no uso de reforço positivo, saberá ensinar com facilidade o seu cão a não puxar na trela e andar bem de trela, sem nunca magoa-lo, causar-lhe dano e também sem nunca ter que usar aversão.

Para tal basta que criemos o comportamento desejado no cão – que ele ande sem puxar – e que tornemos esse comportamento o preferencial e mais comum e habitual. Não é difícil, é até muito mais fácil do que o oposto, que é esperar que o cão puxe e ter que administrar esticões que sejam suficientemente dolorosos para que o cão pare. A escolha está, portanto, entre causar ou não dano físico ou dor ao seu cão.

Métodos aversivos pertencem ao passado, a um passado onde a senciência dos cães era colocada em causa, onde se consideravam os cães como autómatos, e animais pouco sensíveis que respondiam como robots aos estímulos. O uso de métodos aversivos pertence ao passado, e aqueles que não estão actualizados ou que têm dificuldade em mudar.


Não tenha receio em mudar principalmente se a mudança significa uma melhoria na vida do seu cão e na sua vida também. Aprenda com métodos que vê o treino como algo que se faz com o cão e nunca AO cão.

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